Novos talentos do cinema latino-americano ganham fôlego em festival de SP

Público lota Memorial no Festival de Cinema Latino - Foto: Divulgação

Público lota Memorial no Festival de Cinema Latino-Americano – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

O 11º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo mostrou que a região tem muitas histórias e formas diferentes de contá-la na telona. O evento divulgou, nesta quarta (27), os premiados desta edição, em cerimônia realizada no cine-tenda no Memorial da América Latina, seguida de festa.

O melhor filme pelo voto popular foi o brasileiro “Por Trás do Céu”, do diretor Caio Soh. Com Nathalia Dill, Emílio Orciollo Netto, Paula Burlamaqui e Roberto Bomtempo no elenco, o longa mostra um casal interiorano que vê novos ares se aproximando com a chegada de dois novos personagens em suas vidas.

O diretor Caio Soh, do filme "Por trás do Céu" - Foto: Divulgação

O diretor Caio Soh, do filme premiado “Por trás do Céu” – Foto: Divulgação

O melhor filme da Mostra de Escolas Ciba-Cilect foi o mexicano “Aurélia e Pedro”, de José Permar e Omar Robles. Houve também menção honrosa na Mostra de Escolas Ciba-Cilect para o filme cubano “Polski”, de Rubén Rojas Cuauhtemoc.

Já o melhor filme em coprodução foi “A Última Terra”, de Pablo Lamar, parceria entre Paraguai, Holanda, Chile e Qatar.

A cineasta homenageada, Anna Muylaert - Foto: Aline Arruda

A homenageada, Anna Muylaert, de “Mãe Só Há Uma” – Foto: Aline Arruda

Outros destaques

O filme “Mãe Só Há Uma”, da cineasta homenageada nesta edição, Anna Muylaert, foi o de maior público no festival, com mais de 2.000 pessoas na pré-estreia do longa ao ar livre na abertura do evento, no último dia 20, no Memorial.

Como no teatro, houve “aplauso em cena aberta” ao longa, para a cena na qual o protagonista, um adolescente que descobre ter sido raptado pela mulher que pensa ser sua mãe, sai de vestidinho justo do provador da loja de roupas diante de seus atônitos pais biológicos. O grande mérito do novo filme de Muylaert é dialogar com esta nova geração cansada de rótulos e binarismo de gênero.

O cineasta Dellani Lima, de "Planeta Escarlate" - Foto: Aline Arruda

O cineasta Dellani Lima, de “Planeta Escarlate” – Foto: Aline Arruda

Outros dois longas merecem atenção cuidadosa do espectador ávido por descobrir talentos.

O primeiro é “Planeta Escarlate”, dos brasileiros Dellani Lima e Jonnata Doll. O filme traz a história de um jovem músico que tenta se livrar do vício das drogas, retirando-se em uma casa do interior, justamente quando um fenômeno galático pode afetar os homens.

Lima e Doll impõem um tempo dilatado ao longa, que ajuda a apresentar sem afobação os personagens e a criar um clima de suspense misturado a uma ficção científica psicodélica em meio ao marasmo do interior mineiro, enquanto o protagonista mergulha em uma bad trip de velhos e novos fantasmas.

O filme tem cenas sensíveis captadas pela fotografia poética de Wanessa Malta, como na cena em que o cachorro é perseguido pela câmera, em um diálogo com o mais recente filme do francês Jean-Luc Gordad, “Adeus à Linguagem”.

O diretor argentino Eugenio Canevari, de "Paula" - Divulgação

O diretor argentino Eugenio Canevari, de “Paula” – Divulgação

Um cachorro também é o protagonista da cena de abertura do outro longa de destaque neste festival, “Paula”, filme do argentino Eugênio Canevari. Também com uma câmera espiã e propositiva (como no jogo de focos da fotografia de Matías Castillo), o filme também revela sua história aos poucos.

A protagonista que dá nome à história é conhecida sem pressa, bem como seu grande dilema. E o diretor joga o tempo todo com o espectador para ser uma espécie de coautor de sua história, em uma viagem coletiva instigante de suposições e frustrações. Porque muitas vezes não é preciso saber, nem dizer, tudo.

O 11º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, mesmo diante da crise que superlotou a programação de longas brasileiros, demonstrou, ainda assim, que é uma janela interessante e potente para o cinema feito dos Estados Unidos para baixo.

Com sua programação de 118 filmes de 13 países, com curadoria de João Batista de Andrade, Jurandir Müller e Francisco Cesar Filho, o evento mostrou, mais uma vez, que há no lado pobre da América um cinema rico e aguerrido, repleto de boas histórias contadas sob óticas menos comprometidas com padrões comerciais. Quem ganha é a sétima arte.

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