Morte repentina da mãe inspira ator Álamo Facó a criar peça “Mamãe”

O ator Álamo Facó, no camarim do Sesc Pinheiros - Foto: Bob Sousa

O ator Álamo Facó, de “Mamãe”, no camarim do Sesc Pinheiros, em SP – Foto: Bob Sousa

Por Miguel Arcanjo Prado

Fazer o espetáculo solo “Mamãe” não é fácil para o ator carioca Álamo Facó. Na montagem que concebeu, relembra a morte repentina de sua mãe, que ocorreu cem dias depois de ela receber um diagnóstico de tumor cerebral em 2010. Na peça, procura transformar esta dor em poesia e encontro com o espectador.

Em conversa com o Blog do Arcanjo do UOL, o ator revela que já sonhou com sua mãe após o processo do espetáculo. “Notei que foram sonhos matinais. E isso não é frequente. Ela está muito presente na peça. Se pensarmos em um encontro, onírico e real, ele se dá na peça”, diz o ator que, além de atuar e escrever a obra, a dirige ao lado de Cesar Augusto.

Mesmo assim, Facó consegue se lembrar de alguns detalhes do que vem à sua mente durante o sono. “Sonho com partes da pele dela. A pele e o rosto dela aparecem bastante e são sonhos muito sensoriais, pouco causais .Uma vez sonhei que ela estava num lugar sem espaço, só tempo. Nesse tempo, havia uma oposição, como uma luz e um buraco”, lembra-se.

E tira a conclusão: “Talvez ela esteja mais presente quando estou acordado. Moro em frente a uma floresta e ali penso nela. Nos dias de peça, a coisa se dá no real”, explica.

Para Álamo Facó, é "forte" colocar algo pessoal em cena - Foto: Bob Sousa

Para Álamo Facó, é “forte” colocar algo pessoal em cena – Foto: Bob Sousa

Para Facó “é forte” colocar algo tão pessoal no palco. “O cérebro trata de nos fazer esquecer esses momentos difíceis mas aí vem a inquietude e nos faz revirar tudo”, afirma.

Conta que fazer a peça, que participou do último Festival de Teatro de Curitiba, é “um alargamento do presente”. E dela sai “com a memória antiga bem afiada, e a recente, bem menos”. E define: “Tudo é ato por uma hora”, dizendo que é muito prazeroso “mergulhar em águas imagéticas e largas”.

Fazer a peça é uma espécie de catarse. “Eu fico muito transformado. Há gritos que precisavam sair. São os gritos de uma morta. E isso é libertador”.

E como será que o público encara sua obra? Facó pensa e responde: “Nunca vou saber, verdadeiramente. O Hélio Oiticica falou muito disso, quando foi ver o Living Theater, que o artista nunca vai saber o que está realmente se passando com o espectador”.

Mas, tem algumas pistas: “Depois, conversando com o público, noto que eles ficam muito transformados, sim. Sou pró vida. O grau de transformação é que sempre varia, de pessoa pra pessoa.  E essa variação  é alucinante, é uma paixão. Acordo e fico pensando: como será hoje?”

“Mamãe”
Quando: Quinta, sexta e sábado, 20h30. 70 min. Até 6/8/2016
Onde: Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, tel. 11 3095-9400
Quanto: R$ 25
Classificação etária: 14 anos

Álamo Facó em cena de "Mamãe" - Foto: Bob Sousa

Álamo Facó em cena de “Mamãe” – Foto: Bob Sousa

Siga Miguel Arcanjo Prado no Facebook, no Twitter e no Instagram.

Please follow and like us: