Crítica: Crise nas escolas ocupa teatro na peça “Sala dos Professores”

Cena da peça Sala dos Professores - Foto: João Caldas/Divulgação

Cena da peça Sala dos Professores, da Cia. Elevador Panorâmico – Foto: João Caldas/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

O noticiário dos últimos meses no Brasil é farto de estudantes que ocupam escolas, exigindo desde merenda até melhoria na qualidade do ensino. Se a crise escolar está na pauta do dia, ela também ocupa o palco com a peça “Sala dos Professores”, em cartaz em São Paulo até 26 de junho e que celebra os 15 anos da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.

A montagem tem texto inédito  e inspirado de Leonardo Cortez. Cheio de sarcasmos, ele desvenda o confronto cotidiano não apenas na sala de aula, mas, especialmente, na sala dos professores, lugar onde aluno não costuma entrar.

É para lá que o autor aponta seu olhar irônico e inteligente para expor a crise educacional, e, por consequência, social. O texto investe no confinamento de seis professores e também do diretor da escola naquela sala, onde estão todos os elementos nos quais a peça investe e aprofunda.

Com a evolução desta tragicomédia, as personagens se apresentam ao público e mergulham em um mar de intrigas e suspeitas diante de uma possível reestruturação na escola privada na qual trabalham, que pode fazer desabar sua estabilidade no emprego.

Sala dos Professores expõe crise educacional - Foto: João Caldas/Divulgação

Sala dos Professores expõe crise educacional brasileira – Foto: João Caldas/Divulgação

Ao espiar a sala dos professores como em um reality show, o espectador pode reconhecer nas personagens representantes de diversos grupos sociais, com seus anseios, contradições e até uma tendência ao ódio e à barbárie — tão comum no Brasil de hoje. Este é um dos achados da peça.

É preciso ressaltar o trabalho da cenógrafa e figurinista Luciana Bueno. Ela propõe um cenário que se desfragmenta como a vida dos protagonistas. As personagens vão perdendo o piso de suas certezas, que se concretiza no chão que literalmente racha com a instauração dos conflitos . Os figurinos também capturam a essência de cada professor.

A proposta de encenação do diretor Marcelo Lazzaratto delineia com traço grosso as personagens, caminhando para um insistente histrionismo, no limite da caricatura. Isso entra em embate com a proposta realista do texto como também com as ações ditas pelas personagens, mas não realizadas. Integram o elenco Lais Marques, Carolina Fabri, Marina Vieira, Pedro Haddad, Rodrigo Spina, Wallyson Mota e Leonardo Cortez.

“Sala dos Professores” denuncia a triste realidade educacional brasileira, repleta de uma incoerência absurda tal qual a do país. A obra revela o abismo existente entre concepções e práticas, apresentando-se como um microuniverso de nossa combalida sociedade. A sensação, ao fim, é de desesperança.

“Sala dos Professores” * * *
Avaliação:
Bom
Quando: Sábado, 21h, domingo, 18h. Após 4/6: sábado, 21h, domingo, 19h. 75 min. Até 26/6/2016
Onde: Espaço Elevador – Rua Treze de Maio, 222, Bela Vista, São Paulo, tel. 11 3477-7732
Quanto: R$ 20 (até 29/5) e R$ 30 (após 4/6)
Classificação etária: 14 anos

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