Vida de crítico que virou ator é encenada em peça

Cena de "Os Dias e as Horas", sobre Alberto Guzik - Foto: Ricardo Tanios Hamzo/Divulgação

Cena de “Os Dias e as Horas”, sobre Alberto Guzik – Foto: Ricardo Tanios Hamzo/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Alberto Guzik, que morreu em 2010 aos 66 anos, vítima de câncer, foi um dos principais nomes da crítica teatral brasileira. No fim da vida, resolveu deixar os escritos e subir no palco com o grupo Os Satyros, tornando-se ator novamente, já que teve uma breve carreira nos palcos na juventude.

Sua trajetória é o foco da peça “Os Dias e as Horas”, dirigida por Eduardo Chagas com 15 jovens atores e baseada em um blog homônimo que o artista manteve nos últimos anos de vida.

Eduardo Chagas dirige peça sobre Guzik - Foto: Miguel Arcanjo Prado

Eduardo Chagas dirige peça sobre Guzik – Foto: Miguel Arcanjo Prado

Nele, Guzik contava os bastidores de sua companhia teatral, sediada na praça Roosevelt, em São Paulo, além de expor sua opinião sobre os fatos de seu tempo.

“Eu me sinto lisonjeado e honrado em poder colocar no palco este material. Conhecer um pouco mais do Guzik foi fantástico. A peça não fala só do blog, mas da vida e da obra que ele deixou”, afirma Chagas.

“O elenco pesquisou muito e tirou um farto material do blog”, diz o diretor.

A peça acontece exatos dez anos depois de Guzik começar o blog. Para Ivam Cabral, que foi vizinho, colega de companhia e amigo de Guzik, ver a peça com atores do Núcleo de Experimentação dos Satyros, é uma grande emoção.

“Guzik destacou e promoveu novos talentos, apontou direções inusitadas para o olhar dos espectadores e testemunhou alguns dos momentos mais importantes da história de nosso teatro”, descreve Cabral.

Rodolfo García Vázquez, diretor do Satyros e coordenador geral da obra, diz que esta pretende “resgatar a memória de um dos mais importantes pensadores da história do teatro brasileiro”.

No elenco de “Os Dias e as Horas” estão Camila Cardoso, Carlos Mourão, Carol Bifulco, Daniel Falcão, Débora Taboada, Elisa Barboza, Higor Lemo, Isabela Cetraro, Janaina Delfino, Ju Alonso, Laiza Fernanda, Leonardo Dalla Valle, Lilibell Torrejón, Milton Aguiar e Safira Santos.

Alberto Guzik em sua última peça: "Monólogo da Velha Apresentadora" - Foto: Divulgação

Alberto Guzik em sua última peça: “Monólogo da Velha Apresentadora” em 2009 – Foto: Divulgação

Descendente de judeus que imigraram para o Brasil durante a Segunda Guerra, Guzik sempre manteve uma relação próxima com a cidade de São Paulo, onde nasceu em 1944, fazendo da arte um antídoto contra a melancolia da metrópole.

O teatro apareceu cedo em sua vida: aos cinco anos foi dirigido por Tatiana Belinki e Júlio Gouvêa em “Peter Pan”. Em 1966 formou-se pela EAD (Escola de Arte Dramática), mas acabou se enveredando pelo jornalismo, atuando como crítico teatral.

Só em 2004 Guzik voltou aos palcos com Os Satyros. Sua última peça foi “Monólogo da Velha Apresentadora”, em 2009, na qual vivia uma versão debochada de Hebe Camargo.

Seu último post no blog, meses antes de morrer, terminou com a seguinte frase: “Dionísio me acompanha na viagem, além de ótimos amigos e do amor de muita gente. Evoé”.

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Alberto Guzik (1944-2010) - Foto: Divulgação

Alberto Guzik (1944-2010) – Foto: Divulgação

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