Atriz toca em “ferida aberta” ao fazer peça sobre Alzheimer
Fran Lipinski na peça “Origens”, que escreveu – Foto: Sarah Marinho/Divulgação
Por Miguel Arcanjo Prado
O Alzheimer ganha abordagem poética no espetáculo “Origens”, da Cia. Alóctone, com as atrizes Fran Lipinski e Lauanda Varone, em cartaz em São Paulo. A doença degenerativa provoca morte de células cerebrais e o encolhimento do órgão e atinge no Brasil cerca de 1,2 milhão de pessoas. Entre elas, a avó paterna de Fran.
A cada sessão, a atriz, que também estreia como dramaturga, precisa lidar com as próprias emoções. “Fiquei sabendo há algum tempo que minha avó paterna está com Alzheimer. Não sei exatamente o que falar sobre isso, é uma ferida aberta”, diz.
Graduada em biologia, foi Fran quem propôs a temática. “Sempre fui apaixonada por neurociências. Estudei doenças neurodegenerativas, e o Alzheimer era uma delas”, declara, reforçando que a peça não é autobiográfica.
Além das próprias lembranças, as atrizes realizaram entrevistas com familiares de portadores. “O pior do Alzheimer é a perda da comunicação. Em uma das entrevistas, ele foi definido como uma ‘prisão em si mesmo’. Isso me marcou demais”, conta Fran. “Procuramos não pesar a mão, não queríamos um espetáculo depressivo”, revela Lauanda.
Fran Lipinski e Lauanda Varone em “Origens” – Foto: Sarah Marinho/Divulgação
Elas ainda leram livros e verem filmes com a temática. “A obra é apenas um recorte, pequeno, do universo fascinante do Alzheimer”, define Fran. “Encenar essa peça é uma vitória, por todo o esforço que nos fez chegar até aqui”, complementa. Apesar de nunca ter convivido com nenhum portador, a perda da memória comove Lauanda: “Se quando temos um branco temporário já entramos em desespero, imagina perder as peças do quebra-cabeças da sua vida?”.
Radicadas em São Paulo, ambas vieram do Sul do Brasil: Fran, do Paraná, e Lauanda, do Rio Grande do Sul. “Para lidar com São Paulo é preciso não esquecer de quem se é e de onde se veio. A cidade te engole, é difícil cultivar relações. E é preciso ter um porto seguro. Mantenho Curitiba em mim para não me perder”, declara Fran. Mais adaptada à metrópole, Lauanda diz que “o Sul está bem guardado” em suas lembranças. Mas teme que, com o tempo, “elas sejam borradas”.
“Origens”
Quando: Sábado, 20h30; domingo, 19h. 55 min. Atenção: no último fim de semana as sessões são sexta (29), às 21h, e sábado (30), às 20h30. Até 30/4/2016
Onde: iNBOx Cultural – Rua Teodoro Sampaio, 2355, Pinheiros, São Paulo (próximo ao metrô Faria Lima)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Classificação etária: livre
