Entrevista de Quinta – Débora Falabella descobre o que Yara de Novaes pensa de Contrações; e vice-versa

Yara de Novaes e Débora Falabella fazem as perguntas que sempre quiseram saber da colega de elenco na peça Contrações, em cartaz no Teatro Porto Seguro – Foto: Paduardo/AgNews

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

As atrizes mineiras Débora Falabella e Yara de Novaes estão de volta a São Paulo, cidade onde vivem e que lhes deu o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor atriz. O retorno ocorre após rodarem o país com a peça Contrações.

A montagem do Grupo 3 de Teatro dirigida pela mineira Grace Passô para o texto do britânico Mikle Bartlett mostra uma opressiva relação de poder entre uma chefe e uma funcionária. Algo, infelizmente, tão comum nos meios corporativos nos dias atuais.

A obra está em cartaz no Teatro Porto Seguro, às quartas, 21h, até o fim do mês de julho [veja serviço completo ao fim].

Débora dá vida a Emma, uma funcionária que se submete aos desmandos e manipulações da Gerente, papel de Yara de Novaes, e acaba por causar prejuízos irreparáveis à sua vida privada.

A peça é uma das melhores dos últimos tempos em palcos nacionais, apresentando um excelente embate entre duas atrizes potentes.

Nesta Entrevista de Quinta, o Atores & Bastidores do R7 resolveu inovar. Aproveitando a proximidade entre Débora e Yara, que são amigas desde os tempos em que moravam em Belo Horizonte, terra natal de ambas e do autor deste blog, são elas mesmas quem conduzem a conversa e fazem as perguntas que uma sempre quis fazer para a outra.

Leia com toda a calma do mundo.

Débora Falabella pergunta a Yara de Novaes o que sempre quis saber – Foto: Paduardo/AgNews

DÉBORA FALABELLA — Em contrações, você vive uma personagem que representa algo que abominamos. Você se afeta emocionalmente com o que faz em cena? Como você compreende a sua personagem?
YARA DE NOVAES —
Não me afeto emocionalmente, não! Eu a represento, apenas. Não me misturo com ela. Personagens como a Gerente precisam ser representadas para que nós e o público reflitamos sobre o seu papel social. Não há nela nenhuma psicologia ou interioridade, uma história pessoal, questionamentos existenciais, etc. Ela é a representação de um sistema manipulador e opressivo. Fico muito feliz em expor publicamente personagens desse tipo.

DÉBORA FALABELLA — Durante a temporada tivemos as mais diversas manifestações do público em relação a peça. O público era sempre muito presente.  Risadas em momentos não esperados, comentários sobre as personagens durante as cenas. Como você enxerga essas manifestações?
YARA DE NOVAES — Acho que Contrações recupera uma espécie de teatro onde a identificação e a reflexão caminham juntas e em tensão. O que ocorre na hora do espetáculo é um posicionamento do público em defesa da personagem oprimida. E isso só será de todo bom quando, finalmente, em casa, esse espectador tiver a consciência de que essa personagem com que ele se identificou, no caso a Ema, é uma mantenedora dessa relação de opressão. Apesar de parecer num primeiro momento, a peça não é maniqueísta e o que ela talvez pretenda é essas risadas, comentários, ruídos se transformem em um posicionamento crítico e insurgente em relação à nossa sociedade.

DÉBORA FALABELLA — Se você se colocasse no lugar do público, e pudesse assistir Contrações sem conhecer o espetáculo, o que acha que sentiria?
YARA DE NOVAES — Acho que eu adoraria! [risos] Tudo, texto, direção, atuação! Acho que eu iria pensar muito depois de assistir ao espetáculo, que eu iria revisar a minha vida, relacionar a obra com tudo. Acho que eu iria dizer: como é necessário falar disso hoje! E, por fim, sairia do teatro sua fã!

Yara de Novaes pergunta o que sempre quis saber de Débora Falabella – Foto: Paduardo/AgNews

YARA DE NOVAES — Lygia Fagundes Telles diz que um autor deve ser testemunha de seu tempo. Você acha que esse papel deve ser assumido também por um ator? Você faz isso em Contrações?
DÉBORA FALABELLA —
Acredito que sim. Assim como os autores, também nos tornamos criadores quando estamos em cena e quando fazemos escolhas nas nossas interpretações. No caso de Contrações, interpretamos um texto contemporâneo que fala do que acontece hoje. Fizemos essa escolha no grupo, pois queríamos falar sobre isso. Sobre o momento no qual vivemos. Sobre o nosso tempo. Por isso temos um grupo, por isso produzimos nossos trabalhos. Assim temos mais poder para escolher sobre o que queremos falar.

YARA DE NOVAES — Sobre a sua personagem, Emma, você acha que ela poderia ou deveria dizer não e se libertar da opressão que vive? De que modo?
DÉBORA FALABELLA — Claro que como a intérprete de Emma, tenho minha posição. E acredito que todos podem e são capazes de dizer não para esse sistema opressor. Apesar de saber que na prática, é mais difícil. Mas não posso julgar a personagem. Estaria também julgando a obra. E ela acontece dessa maneira, justamente para as pessoas saírem do teatro pensando sobre isso.

YARA DE NOVAES — O que mais lhe comove quando está em cena com Contrações?
DÉBORA FALABELLA — São muitas coisas. Temos um texto muito poderoso em mãos. E com isso temos a possibilidade de dizer algo para quem vem nos assistir. As pessoas se divertem, se entretém, mas acima de tudo saem com perguntas, e isso é muito precioso. Outra coisa que me emociona muito é estar em cena com uma grande parceira de vida. A liberdade que temos uma com a outra nos proporciona experiências novas a cada dia. E faz com que esse trabalho seja cada vez mais prazeroso.

Débora Falabella e Yara de Novaes em cena de Contrações: forte crítica ao mundo corporativo que tira a vida pessoal de seus funcionários – Foto: Vitor Zorzal

Contrações
Avaliação: Ótimo (leia a crítica)
Quando: Quarta, 21h. 70 min. Até 29/7/2015
Onde: Teatro Porto Seguro (al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, São Paulo, tel. 0/xx/11 3226-7310)
Quanto: R$ 60 e R$ 80
Classificação etária: 14 anos

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2 Resultados

  1. Julia disse:

    Parabéns as atrizes pela bela atuação e pela escolha de um texto tão rico e que proporciona os questionamentos que precisam ser feitos a respeito deste jogo de poderes, vaidades, submissão que envolve as relações de trabalho, familiares, etc. Adoro a atuação de Débora na Tv, cinema, mas no teatro ela arrasa ainda mais, Emma é umas das suas maiores interpretações.

  2. Phillipe disse:

    Débora fica um charme ruiva. Parece aquelas divas do cinema do passado. Entrevista interessante! Que diferença é quando os entrevistados têm conteúdo… É realmente outro nível: as perguntas, as respostas, a amplitude de pensamento. Nota 10!

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