Crítica: Mudança de Hábito empolga público com ritmo e técnica

Karin Hils é a protagonista do musical Mudança de Hábito, em São Paulo – Foto: Bob Sousa

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Fotos BOB SOUSA

Praticamente todo mundo já conhece a história que será contada no palco do Teatro Renault, em São Paulo: a cantora de boate que, no desespero da fuga de seu ex-amante assassino, se enclausura em um convento de freiras. Sua temporada por lá acaba revolucionando o coral do lugar.

Tentar reproduzir uma história tão conhecida do grande público, que tem o filme em sua memória afetiva, é o maior desafio do musical Mudança de Hábito, produzido pela mesma Whoopi Goldberg que protagonizou o filme homônimo de 1992.

Contudo, a superprodução brasileira, cujo investimento foi de R$ 30 milhões, esta à altura do longa.

A diretora residente Fernanda Chamma consegue atingir com o espetáculo um resultado que reproduz no palco o clima divertido da comédia cinematográfica, mas com a precisão técnica que uma obra musical exige — Fernanda também é a coreógrafa residente e tem fama de exigente.

Tal reprodução, ao contrário de muitas por aí, não resulta em automatismo. Há vida, verdade e frescor no musical.

A superprodução Mudança de Hábito está em cartaz no Teatro Renault, em SP – Foto: Bob Sousa

Em uma de suas melhores atuações nos palcos, a atriz e cantora Karin Hils dá à sua protagonista, Deloris, a segurança e o carisma que a personagem necessita para conquistar não só as freiras como a plateia.

Adriana Quadros, como a Madre Superiora, investe na sobriedade que duela com a energia efusiva de Deloris, fazendo o contraponto necessário para a história funcionar.

O coro de freiras atinge verdade cênica verossímil. E as três com mais destaque, Ana Luiza Ferreira, como Irmã Maria Roberta, Andrezza Massei, como Irmã Maria Patrícia, e Daniela Cury, como irmã Maria Lázarus, investem na precisão técnica para repetir no palco o êxito que o trio de freirinhas conseguiu no filme.

Também são merecem ser destacadas as atuações de Thiago Machado, como o desajeitado policial Eddie, e Cesar Mello, como o bandidão Curtis Jackson. Ambos oferecendo em dose precisa o que seus personagens pedem.

Musical conta a história de um coral de freiras que é revolucionado por uma cantora de boate – Foto: Bob Sousa

Outro destaque da produção da Time For Fun é a grande quantidade de negros no elenco, já observada também em seu espetáculo musical anterior, O Rei Leão. A diversidade étnica da população brasileira agradece a representação digna no palco.

E Mudança de Hábito, com forte inspiração na música gospel norte-americana, é um musical dançante. As músicas de Alan Menken e Glenn Slater são cheias de vida e suingue. Sob condução da regente e diretora musical Vânia Pajares, elas fazem a história escrita por Cheri e Bill Steinkellner avançar sempre pulsante, mesmo diante da longa duração.

Os brasileiros Bianca Tadini e Luciano Andrey, responsáveis pela versão nacional para o texto, souberam dar coloquialidade às falas, que fluem sem barreiras nas bocas dos artistas.

A cenografia de Klara Zieglerova também é de encher os olhos, sobretudo com a santa gigante que muda de roupa ou os vitrais da igreja que interagem com a evolução da fama do coral — tudo ressaltado pela luz propositiva criada por Natasha Katz. O figurino de Lez Brotherston acerta ao fazer uma mistura de influências dos anos 1970 e 1980, mostrando exuberância sobretudo na parte final, cheia de brilho.

Mudança de Hábito é um musical cheio de ritmo que consegue conquistar e divertir o público tal qual o filme homônimo. E ainda, de pano de fundo, traz uma mensagem de tolerância ao outro e de convivência pacífica de visões e valores distintos, como deve ser obsessão de uma sociedade democrática. O musical faz tudo isso ao vivo, aos olhos do público, de forma convincente. Não é tarefa fácil.

Musical custou R$ 30 milhões e foi visto por 5 milhões de pessoas em 11 países – Foto: Bob Sousa

Mudança de Hábito
Avaliação: Muito bom
Quando:
Quinta e sexta, 21h, sábado, 17h e 21h, domingo, 16h e 20h. 150 min. Até 25/10/2015
Onde: Teatro Renault (av. Brigadeiro Luis Antonio, 441, Bela Vista, São Paulo, tel. 0/xx/11 4003-5588)
Quanto: R$ 50 a R$ 260
Classificação etária: 12 anos

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1 Resultado

  1. Phillipe disse:

    Acredita que até hoje não vi esse filme, MUDANÇA DE HÁBITO? Vi outros filmes da Whoopi e aprecio muito o trabalho dela e – em alguns aspectos – até a postura dela em certos eventos. Mas esse filme, até o presente momento, não me despertou tanto interesse.

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