Teatro de Rua: Marruá é oferta poética e sincera ao público que luta pela existência digna e resiste
Por LUIZ EDUARDO FRIN*
Especial para o Atores & Bastidores do R7
Marruá é o nome dado ao boi não domesticado, que se desgarra do rebanho e se fortalece ao permanecer selvagem e livre.
Não por acaso, Marruá também é título do espetáculo do Grupo Teatral Parlendas, com direção de Luciano Carvalho para a criação coletiva, que será apresentado no próximo fim de semana no Sesc Itaquera, em São Paulo, dentro da programação da Virada Cultural [veja serviço ao fim].
No fim de 2013, mais especificamente no dia 4 de dezembro, a obra foi apresentada na praça do Patriarca, no centro paulistano. Ao término, em meio ao frenesi da metrópole, com um sorriso, a atriz Natália Siufi convidou o público a comer uma melancia. Segurando a fruta que fora utilizada em cena, ela disse algo como: “Vamos comer, gente! A comida é pouca, mas a gente sabe repartir… Como repartimos com vocês essas histórias que criamos a partir de relatos de pessoas que vivem em comunidades de resistência, como assentamentos, que visitamos pelo Brasil”.
A fala da atriz sintetizou o que o que acabara de ser mostrado: o espetáculo Marruá é uma grande oferenda e um grande convite.
Durante o espetáculo, a oferta de músicas e danças inspiradas na cultura popular convida o público a conectar-se, ou a reconectar-se, com referências estéticas esquecidas, abandonadas, ou, renegadas na grande cidade.
Compõem o elenco Asnésio Bosnic, Dara Freire, Danilo Villa, Elton Maioli, Marina Vecchione, Maria Gabriela D’Ambrozio, Mário Queiroz Viana e a já citada Natália Siufi. Já a parte musical é fruto do trabalho de Tião Carvalho, Eric D`Avila, Igor Giangrossi e Fábio Pinheiro.
A oferta de uma movimentação cênica com marcações precisas convida o espectador a adentrar no mundo da representação, da teatralidade; ao mesmo tempo em que compartilha com ele esses procedimentos contemporâneos de encenação.
Também é contemporânea a estruturação fragmentada da dramaturgia. A oferta dos blocos narrativos que se sucedem convida o público a procurar por uma história, por uma fábula, e o faz constatar que a narrativa que se estrutura por retalhos é a que se apresenta concretamente, todos os dias, a cada espectador presente: Marruá é sobre a luta, a luta pelo existir com dignidade. A luta para se desgarrar do rebanho e enfrentar os desmandos dos poderosos de todos os lugares.
Os figurinos são funcionais e representativos; ou seja, servem como elemento neutro que veste atores e atrizes de um grupo de teatro em performance na rua, assim como demonstram características específicas das personagens representadas.
As movimentações cênicas são, em momentos, precisas com a proposição de se constituírem em elementos componentes das narrativas. Em outros, são livres e buscam incentivar a participação dos espectadores.
A cenografia, composta por objetos simples como bastões e cordas, serve ao objetivo de representar estruturas dos ambientes nos quais a ação se dá; como as cercas que delimitam territórios – físicos e simbólicos – e que precisam ser derrubadas.
Elemento importante do espetáculo é a poética e inspirada confecção dos adereços feitos por artistas de diferentes partes do País e que trazem, concretamente, para o palco, as andanças do grupo.
No final, como uma representante do grupo, Natália Siufi não esconde o orgulho de convidar a todos para que a partilha simbólica da arte seja realçada pela partilha do alimento.
O público não faz cerimônia e, em instantes e em festa, devora a melancia; e o espetáculo se completa.
*Luiz Eduardo Frin é ator formado pelo Indac- Escola de Atores, onde é professor de Montagem de Espetáculos, Estética e História do Teatro. Mestre e Doutorando em Artes Cênicas na Unesp (Universidade Estadual Paulista) sob a orientação do prof. dr. Alexandre Mate. Atuou e dirigiu diversos espetáculos teatrais, musicais e operísticos. A coluna Teatro de Rua é idealização do fotógrafo Bob Sousa; ela é escrita por pesquisadores da pós-graduação do Instituto de Artes da Unesp, onde ele faz mestrado.
Marruá, com o Grupo Parlendas
Quando: Sábado (17/5/2014), 18h30
Onde: Sesc Itaquera (av. Fernando do Espírito Santo Alves de Mattos, 1000, Itaquera, São Paulo, tel. 0/xx/11 2523-9200)
Quanto: Grátis (programação Sesc da Virada Cultural)
Classificação etária: Livre
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Como motorista acompanhei o trabalho teatral deste grupo por uns 15 dias pelos assentamentos de São Paulo, Paraná e MS.
Isto sim é teatro na sua essência, na paixão, pelo amor a arte.
Todos deveriam prestigiar este grupo.
Abraço Natalia