Em tempos de beijo gay na TV, casal homossexual enfrenta a morte após 60 anos de companheirismo

Cláudio Curi e Roney Facchini serão casal gay que viveu junto por 60 anos – Foto: Ronaldo Gutierrez/Divulgação
Por BRUNA FERREIRA*
Dois homens que se conheceram na África do Sul passam a viver uma história de amor e companheirismo que vai durar 60 anos, até que um deles, sofrendo com um enfisema pulmonar, precisa dar a notícia do fim ao parceiro. Enquanto conhecemos suas histórias, vamos percebendo as dificuldades e a dor do adeus.
Baseada em uma história real, Ou Você Poderia me Beijar é um espetáculo que estreia no dia 7 de fevereiro no Teatro do Núcleo Experimental, na Barra Funda, em São Paulo, e que fica em cartaz até o fim de abril.
Com direção de Zé Henrique de Paula, o elenco conta com a atriz Clara Carvalho, interpretando todas as personagens femininas da montagem. Seis atores dão vida ao mesmo casal em fases distintas da vida. Roney Facchini e Cláudio Curi, são os dois homens aos 80 anos. Marco Antônio Pâmio e Rodrigo Caetano, são a dupla na maturidade, aos 50 anos. Os jovens apaixonados são vividos por Thiago Carreira e Felipe Ramos, ambos com 20 anos.
Em entrevista ao Atores & Bastidores, o ator Roney Facchini adianta um dos recursos usados na peça.
— Eu faço 32 anos de carreira no teatro agora em março e esta foi a coisa mais instigante que já fiz. As duplas de atores vivem o mesmo casal em idades diferentes, mas estamos os seis, ao mesmo tempo no palco. E não se tratam de memórias, cada casal está vivendo o seu tempo. É uma imagem muito poética.
Cláudio Curi, que interpreta o parceiro de Facchini na velhice, diz que os atores começaram a se preparar em outubro do ano passado, mas que só intensificaram o ritmo dos ensaios no início deste ano.
— Estamos ensaiando mesmo há um mês, com bastante intensidade, até por que vai ter música. Todos nós vamos cantar lá. Eu tô muito feliz de fazer esse espetáculo, é um lindo espetáculo, um trabalho superimportante. Essa peça veio de Londres, onde era encenada originalmente com bonecos. Tenho certeza que todo o público vai se emocionar.
Enquanto na última semana, se celebrava o beijo gay dos personagens de Mateus Solano e Thiago Fragoso, na novela Amor à Vida, no horário nobre, Ou Você Poderia me Beijar dá um passo adiante na questão dos direitos homoafetivos. Facchini diz ao R7, que o espetáculo não é militante.
— Ela não levanta uma bandeira. Na verdade, eu acho que já é o “passo 2” da luta contra a homofobia. Em um primeiro momento é preciso conseguir espaço, já em um segundo é preciso tratar com naturalidade. A peça trata do amor com simplicidade. Estive em San Francisco [nos Estados Unidos], pois um amigo meu mora lá e não tem aquela ideia de cidade gay. Existem famílias gays, mas é tudo muito natural. A nossa montagem se preocupa em falar de amor.
Curi concorda com o colega de elenco e reforça a ideia de que o espetáculo vai atingir em cheio a todos, independente da orientação. Inclusive,o grupo estuda a possibilidade de colocar o espetáculo em cartaz durante o Festival de Teatro de Curitiba deste ano.
— Não vai ter estereótipo. Vamos mostrar como é o amor de um casal. Na realidade, a história de amor é sempre universal. Vamos falar sobre durabilidade, o amor que perdura por épocas e sobre como é difícil aceitar o fim. Um dos personagens está morrendo e é muito difícil. Tem detalhes que precisam ser acertados, pensar o que fazer com a casa, o testamento e a dificuldade em aceitar a finitude.
*Bruna Ferreira é repórter do R7. É formada em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Universidade de São Paulo), onde cursa mestrado. Ela escreve interinamente neste blog até 18/2/2014, período de férias do colunista Miguel Arcanjo Prado.
Ou Você Poderia me Beijar
Quando: Sextas e sábados,21h; domingos; 19h. Até o dia 27 de abril
Onde: Teatro do Núcleo Experimental (r. Barra Funda, 637, metrô Barra Funda, São Paulo, tel. 0/xx/11 3259-0898)
Quanto: R$ 40 (inteira),R$ 20 (meia), R$ 10 (cadastrados)
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Como disse Cláudio Curi, é um trabalho superimportante. Até para quebrar a imagem equivocada de que “gay” é só promiscuidade. Não é. Aliás, se formos estudar profundamente as origens do comportamento homossexual no passado, veremos que, por ser arremessado à clandestinidade, o homossexual era meio que jogado para isso. Mas agora que a homossexualidade vem sendo melhor discutida e um pouco mais aceita, o que se verifica é que, desde sempre, há muito “gay” fiel e que consegue, sim, manter uma relação afetiva duradoura. Na verdade, todos somos iguais. A aptidão para amar é a mesma.