Zé in London: Peça une melancolia e sofisticação; jovem gay sofre por fazer sexo com desconhecidos

Peça inglesa The Ritual Slaughter of Gorge Mastrona acompanha vida de rapaz – Foto: Tristram Kenton

Direto da capital inglesa, o diretor teatral paulista Zé Henrique de Paula conta no R7 as principais novidades do efervescente teatro londrino

O diretor Zé Henrique de Paula – Foto: Eduardo Enomoto

Por Zé Henrique de Paula, de Londres
Especial para o Atores & Bastidores*

A dramaturgia britânica tem marcado presença nos palcos de São Paulo com frequência. Em tempos recentes, tivemos Anatomia Frozen, de Bryony Lavery (direção de Marcio Aurélio), inúmeras produções de textos do mestre Alan Ayckbourn e da polêmica Sarah Kane, bem como a recente Órfãos, de Dennis Kelly (direção de Clara Carvalho).

Pois é exatamente de Dennis Kelly a mais nova produção do Royal Court Theatre, espécie de templo da dramaturgia contemporânea em Londres.

Em cartaz até 19 de outubro de 2013, The Ritual Slaughter of Gorge Mastromas (em tradução literal, O Ritual de Massacre de Gorge Mastromas) acompanha a vida de Gorge desde o ato sexual no qual foi concebido, passando pelos amores de infância, a rivalidade com seu melhor amigo, a maturidade e o casamento – até a absoluta decadência psicológica e moral.

Uma fábula melancólica e de escrita sofisticada, a peça utiliza de maneira muito bem sucedida o recurso da narrativa, por meio de um longo prólogo e de intervenções de um grupo de narradores que, como um coro grego, analisa e prenuncia os acontecimentos da tumultuada vida de Gorge – um ser humano cuja retidão moral é corrompida pela opção de pertencer ao seleto grupo de pessoas que “têm acesso a tudo, porque são capazes de fazer qualquer coisa”.

Essa falha trágica (numa bela cena em que Gorge, seduzido pela ideia de sucesso e reconhecimento, mente e trai seu chefe no escritório) dá início a uma descida aos infernos da alma humana.

Nestes tempos em que a ética se tornou um território nebuloso e escorregadio, a peça de Kelly toca em feridas doloridas da sociedade contemporânea. Mas com muita ironia e senso de humor. O que, em se tratando do teatro inglês, é sempre regra e não exceção.

*****

The Pride chama a atenção em Londres – Foto: Divulgação

Sexo com desconhecidos

Outras duas montagens estão chacoalhando a temporada atual: The Pride (O Orgulho), de Alexi Kaye Campbell acompanha a relação de três personagens em épocas diferentes. Em 1958, Sylvia recebe seu editor Oliver em casa para um jantar.

O que ela não sabe é seu marido Philip e Oliver irão começar, a partir desse jantar, um tumultuado caso amoroso às escuras. Já em 2008, o jovem casal de namorados Oliver e Philip está à beira do rompimento.

Oliver é viciado em fazer sexo com homens desconhecidos e pede ajuda à sua amiga Sylvia para lidar com o problema e ajudá-lo a trazer Philip de volta.

Chimerica: encontro entre Ocidente e Oriente – Foto: Johan Persson

Tanque de guerra

Finalmente, outro destaque londrino é Chimerica, de Lucy Kirkwood. A peça faz um retrato da relação política entre Ocidente e Oriente, tendo como ponto de partida o fotógrafo Joe Schofield e sua icônica imagem do protesto solitário de um jovem à frente de um tanque de guerra, na Praça da Paz Celestial, em 1989.

Um dos grandes trunfos da peça é a direção impecável de Lindsey Turner que, aliás, esteve no Brasil dois anos atrás, num workshop com os alunos de dramaturgia do SESI – British Council.

*Zé Henrique de Paula é diretor teatral no Núcleo Experimental, em São Paulo, e e atualmente faz mestrado na University of Essex, em Londres, de onde colabora para o blog cobrindo a cena inglesa.

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1 Resultado

  1. Felipe disse:

    Parece que a Londres moderna tem essa obsessão por temas bizarros. Que preguiça! CHIMERICA parece ser bom.

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