Grupo de dança faz pegadinha com o público

Camisetas de Exhibition são oferecidas ao público na entrada do espetáculo – Foto: Nelson Falcão

Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial do R7 a Santos (SP)*

O público que resolveu assistir ao espetáculo Exhibition, de Claudia Müller (RJ), na Bienal Sesc de Dança de Santos (SP), foi submetido a uma situação inusitada.

Porque quem teve a ideia de que assistiria a um espetáculo de dança convencional ficou totalmente surpreendido com o que se passou. Tanto com a não dança como também com o não espetáculo.

Aos poucos, os mais espertos perceberam que o objetivo era mesmo que (quase) nada acontecesse no saguão do teatro do Sesc Santos.

Assim que o público entrou no espaço, foi informado por uma afoita integrante do grupo, devidamente uniformizada com a camiseta com o nome do espetáculo – assim como seus colegas – de que quem se dispusesse a pagar R$ 10 poderia conquistar uma camiseta da trupe igualzinha a que ela usava. Alguns aceitaram a oferta.

Por um tempo, ficaram todos ali no saguão, onde havia um mural com supostas notícias e críticas sobre a montagem, incluindo aí uma nota que informava que uma das bailarinas havia sido convidada para estampar a capa da revista masculina Playboy.

De repente, monitores de TV no saguão começaram a passar um vídeo com depoimentos armados sobre o grupo, todos em castelhano portenho, intermediados por um comercial de uma fictícia marca de açúcar, cheio dos clichês publicitários da felicidade.

Depois, os bailarinos, todos facilmente identificados por usarem a tal camiseta (não teria sido mais interessante coloca-los misturados aos espectadores? – fica a pergunta), começaram a oferecer champanhe ao público.

Quem aceito viu no primeiro e último gole que se tratava de um espumante dos mais baratos, talvez misturado com água. Ao paladar deste vosso jornalista pareceu água com gás misturada com vinagre.

Os mais sortudos tomaram o guaraná maranhense Jesus, com sua cor rosada diluída em água e devidamente açucarado. Nada ali se propunha a ser de verdade.

O programa diz que “a apresentação ocupa posto de coadjuvante” e que “encena-se um universo de aparências”.

A pretensiosa proposta parece até interessante a um primeiro olhar. Só que o seu desenvolvimento como espetáculo e mesmo como provocação artística é pobre e sem graça – mesmo que este seja seu objetivo confessado.

Ao fim, o vídeo revela (?) que o champanhe era aquela cidra que vive em oferta no supermercado, o que qualquer um com paladar saudável já havia percebido.

E, como grande final, os bailarinos fazem um arremedo de coreografia com os braços e saem correndo em desabalada carreira para se esconder num cantinho escuro do saguão detrás da porta de vidro, tal qual meninos peraltas.

E o público fica com cara de quem foi vítima de uma pegadinha de pretensão refinada e intelectual. Após isso, só resta partir para casa.

*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Bienal Sesc de Dança.

 

Santos, no litoral paulista, é sede da Bienal Sesc de Dança, com 22 espetáculos – Foto: Tadeu Nascimento

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3 Resultados

  1. Marcelo MOTA disse:

    Péssimo. Público ser tratado como idiota = perda de público. Perda de público significa falência para todos que acreditam em bons especatulos. Como a curadoria aprovou isso?

  2. Felipe disse:

    Algumas observações que entendo pertinentes:
    1. Miguelito, por favor corrija a frase: “Quem aceitoU viu no primeiro e último gole que se tratava de um espumante dos mais baratos, talvez misturado com água”.
    2. Quando li o parágrafo “Os mais sortudos tomaram o guaraná maranhense Jesus, com sua cor rosada diluída em água e devidamente açucarado. Nada ali se propunha a ser de verdade.”, eu me lembrei do grande filme “cult” CIDADE DOS SONHOS, de Lynch, e da cena do Clube Silêncio.
    3. Bem, talvez o grupo de dança esteja apresentando algo aquém do esperado, mas reafirmo que acho essa proposta mais interessante do que essa febre de apresentar peças polêmicas apenas para “causar”.

  1. 14/09/2013

    […] o caráter espetacular da dança – houve até quem brincasse com isso, como a montagem carioca Exhibition, que deixou a plateia a ver navios no saguão do […]

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