Crítica: Atores ficam na rasteira da vivacidade cenográfica e textual da peça Vestígios

Após passar por Rio, espetáculo Vestigios coloca o dedo na ferida da ditadura em SP – Foto: Américo Nunes

Por Átila Moreno, no Rio
Especial para o Atores & Bastidores*

O Brasil precisa desovar as arestas inacabadas sobre um período indigesto: o regime militar. Mas, antes disso, o País ainda necessita vasculhá-lo mais a fundo.

O espetáculo Vestígios, que passou pelo Rio de Janeiro e agora segue em temporada para São Paulo, enfrenta essa árdua tarefa, que pode parecer repetitiva, pois o que não falta por aí é ditadura militar como tema, em qualquer tipo de arte.

No entanto, o ponto central da peça não é tanto a sua história, por mais que ela seja tão peculiar para falar de uma fase histórica, pelo menos, bastante difundida para os brasileiros.

O trabalho do dramaturgo Aimar Labaki (que coescreveu a novela Zazá, de 1997, e Quem É Você?, de 1996) e do diretor recifense Antonio Cadengue levaram para os palcos a trama, que envolve dois policiais no papel de investigadores, vividos por Carlos Lira e Marcelino Dias.

Eles aprisionam um professor universitário de história, interpretado por Roberto Brandão, que acaba sendo torturado.

Aparentemente, a vítima não é nenhum militante, mas se encontra numa situação desesperadora, após acordar ao lado de uma cabeça de uma mulher, que teria sido decepada. A partir disso, ele vira alvo da violência física e psicológica dos seus algozes.

A situação surreal é mesclada com suspense condicionante. É isto que segura praticamente todo o decorrer da peça.

Os questionamentos que se dissolvem se transformam numa arma para criticar o papel da polícia e as atrocidades cometidas durante o regime. É a tortura nua e crua diante dos olhos do espectador.

Mesmo diante de tanto material reflexivo, as atuações ficam muito aquém de toda dramaticidade que envolve o texto e das inúmeras artimanhas brilhantes da cenografia, iluminação e efeitos sonoros, combinados de forma coesa.

A trilha sonora transparece o clima de mistério. O cenário e a iluminação trazem claustrofobia e a sensação de vigília tanto para o personagem quanto para o público.

Entretanto, os atores não convencem, apesar do esforço em desfazer uma performance muita vezes sem emoção e muito mecânica.

Mas vale lembrar que Vestígios funciona como estopim questionador. Ainda mais no contexto atual, em que os brasileiros vivem o desenrolar dos processos na Comissão da Verdade. É o tocar a ferida e expurgá-la para que não vire gangrena.

*Átila Moreno é jornalista formado pelo UNI-BH e tem pós-graduação em Produção e Crítica Cultural pela PUC Minas.

Vestígios

Avaliação: Regular
Quando: Sexta e sábado às 21h; domingo às 20h. 60 minutos. Até 25/08/2013
Onde: Teatro Centro da Terra (rua Piracuama, 19, Sumaré, São Paulo, tel. 0/xx/11 3675-1595)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação etária: 18 anos

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1 Resultado

  1. Felipe disse:

    Tudo de bom a todos da peça!

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