Crítica: No fim do túnel da vida, Maitê Proença cria asas e ensina a voar em espetáculo comovente

 

Maitê Proença discute a velhice em peça no Teatro Faap, em São Paulo – Foto: Leo Franco/AgNews

Por Bruna Ferreira*
Especial para o Atores & Bastidores

Um clima de solidariedade e gentileza enche o teatro, antes mesmo de a peça começar. Como se existisse uma predisposição do público para ser emocionado com a poesia triste e bonita do espetáculo que está por vir.

A peça À Beira do Abismo me Cresceram Asas mistura aquele aconchego das conversas francas com o nó na garganta das confissões que um dia fizemos – ou faremos.

A peça fala sobre o tempo. Ou a vida. Os dois cruéis e maravilhosos.

Duas senhoras abandonadas em um asilo, dividem lembranças, medos e sonhos com um entrevistador fictício que não é ninguém, mas também é todo o público presente.

As atrizes Maitê Proença e Clarisse Derzié são envelhecidas pelo figurino estereotipado, pelas vozes que oscilam e pelo andar cambaleante, mas são contadoras de histórias cheias de vigor e de malícia.

Peça com atriz Maitê Proença é retrato poético do fim da vida – Foto: Leo Franco/AgNews

Maitê, que também assina e dirige a peça – ao lado de Clarice Niskier – é Teresinha. Uma senhora de 86 anos, que foi deixada no asilo por seus três filhos após a morte do marido. Foi quando se viu sozinha que descobriu que realmente o amava.

Ela se ressente da nora, pois acredita que ela é a responsável pelo afastamento do filho e espera ansiosamente pelo dia em que os familiares vão cumprir a promessa de visitá-la.

Teresinha é poesia, bela e triste, sonhadora, capaz de dar um soco no estômago com a reflexão mais inocente do mundo. Já sua amiga Valdina, papel de Clarisse Derzié Luz, é bloco tradicional de Carnaval. Vai preenchendo os lugares, fazendo música e dança das lembranças tristes. Valdina consegue divertir e querer ser um pouco como ela.

Valdina é alegre de teimosa, em suas palavras, e nos leva ao riso nos momentos em que o público precisa, quando a angústia não deixa ouvir a respiração da plateia. Ela foge do passado, partilha a tristeza para sentir metade da dor e divide a alegria para que ela se duplique.

Do início ao fim, o espetáculo é próximo da plateia, como se o palco fosse um mero acaso e o público pudesse se sentar ao lado de Teresinha e Valdina, para tomar um chá. A iluminação ajuda no efeito. As atrizes se preparam para entrar em cena sob os olhares das pessoas, que procuram seus assentos e olham curiosas pelo biombo transparente que separa ficção da realidade.

O cenário minimalista combina com a austeridade do asilo. Como Teresinha nos explica no início da peça, na infância a vida é grande e, de repente, fica pequena, limitada a um quartinho e um jardim, onde passeia de braços dados com a amiga Valdina.

A impressão é de que a peça passa em um piscar de olhos. Como é na vida da gente. Em um momento é festa, música, dança e risadas e no outro já é o fim. O verdadeiro abismo. Quando a montagem termina, ficamos com a sensação de que estamos um pouco mais prontos para o grande salto.

*Bruna Ferreira é jornalista e repórter do R7. 

Maitê Proença e Clarisse Derzié Luz formam dupla afinada em peça de SP – Foto: Leo Franco/AgNews

À Beira do Abismo me Cresceram Asas
Avaliação: Bom
Quando: Sexta e sábado, às 21h, domingo às 18h. 75 min. Até 18/8/2012.
Onde: Teatro Faap (rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo, tel. 0/xx/11 3662-7233)
Quanto: R$ 70 (sexa e domingo), R$ 80 (sábado)
Classificação etária: 12 anos

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3 Resultados

  1. Tibério disse:

    A peça é de fato maravilhosa, nos traz reflexoes sensatas sobre a vida,alternando momentos de alegria e de tristesa algo que é mais que real na vida de todos os seres humanos.Parabéns a todos os envolvidos na peça, não só pela interpretaçao das duas atrizes que está magnifica como pelo figurino,iluminaçao e direção.

  2. jucimara disse:

    MAITÊ COMO SEMPRE BRILHANDO NO TEATRO, MULHER INTELIGENTE E GUERREIRA, PARABÉNS PELA PEÇA QUE TEM SIDO ELUGIADO POR CRITICOS E PÚBLICO.

  3. Well disse:

    Sobre a peça…”Á Beira do Abismo Me Cresceram Asas” A peça é mágica, toca no fundo do coração de qualquer idade, Clarisse Derzie Luz em cena nos presenteia com o seu talento,com a sua voz magnífica! sabe a maneira exata de como agradar a platéia, o tom, a forma como conduz a sua personagem é de uma delicadeza sem tamanho! Não consigo imaginar outra atriz fazendo a Valdina do que a Libriana Clarisse! Já Maitê, ahhh Maitê, com essa personagem Terezinha me levaram as lágrimas! Ela consegue emocionar de uma forma que não consigo descrever, mexe no fundo da alma! Atriz de talento múltiplo e de intuição impar, aquariana de mão cheia!!! Texto, direção, cenário, músicas…tudo perfeito! Maitê quanta sensibilidade, quanta emoção! A música de Piaf vc canta e encanta ( desculpe-me nos exageros de assovios) rsrsrsrsrs Essa dupla dinâmica Maitê e Clarisse é fora de série! Só posso agradecer e continuar a recomendar a todos que vejo pela frente. Muito obrigado por nos presentear com uma peça que não acaba ali ao final do espetáculo, é uma peça que faz você “Pensar na Vida, Pensar em Viver, e em Viver Feliz”! Que venham os prêmios mais que justos do Teatro brasileiro!

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