Walmor Chagas amou o teatro mais do que a vida
Por Bruna Ferreira, do R7
Walmor Chagas não queria envelhecer. Sua vida era nos palcos, com personagens cheios de força, vibrantes, inesquecíveis. Ele morreu aos 82 anos em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, onde encontrou um refúgio.
Em entrevista à TV Cultura uma vez, o mestre dos tablados disse o que achava da velhice, com uma explicação irreverente e objetiva, digna do grande papel que desempenhou na vida.
— Eu preciso me mudar na velhice. Velho em cidade é uma coisa triste. Parece aqueles velhos em Copacabana. Ai, eu acho uma coisa horrorosa! A nossa cultura é só juventude e saúde e a gente vai perdendo tudo isso.
Nascido em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Walmor conquistou o teatro ao lado dos grandes nomes da dramaturgia nacional. Esteve ao lado de Ítalo Rossi, Antônio Abujamra, Sérgio Cardoso e tantos outros.
Devotou seu amor ao teatro mais uma vez, quando escolheu se casar com Cacilda Becker, um dos maiores mitos dos palcos nacionais. Uma união de amor e de arte. Com ela teve uma filha, Maria Clara Becker Chagas.
Estreou no cinema em 1965, no papel de Carlos em São Paulo S/A, de Luís Sérgio Person, contracenando com Eva Wilma.
Fez televisão, é claro. Muitas novelas como Mandala, O Pagador de Promessas, A Favorita (Globo) e Os Mutantes (Record).
Nas telinhas, se sentia prostituto, trabalhando apenas pelo dinheiro. Já nos palcos, era diferente. Era gigante, dono da cena, da interpretação, do texto, senhor de si. Se sentia realizado.
Interpretou Hamlet (1969), Esperando Godot (1969), Morte e Vida Severina (1960), Auto da Compadecida (1959), Gata em Teto de Zinco Quente (1956) e tantas outras, com atuações sempre elogiadas e marcantes. Foi também diretor e produtor.
Filósofo formado na USP (Universidade de São Paulo), ele se vai deixando um vazio, mais outra interrogação, outro questionamento para a vida, de tantos que ele nos deu de presente ao longo de sua carreira, com personagens tão completos e tão humanos.
É com tristeza que nos despedimos deste grande ator, que brigou com o tempo e perdeu, mas cuja essência permanece viva em sua grande obra.
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