Dira Paes apresenta sua versão cineasta na CineBH: ‘Eu me sinto potente’

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial a Belo Horizonte
Dira Paes é mulher dona do próprio discurso. Aos 55 anos, essa artista paraense de Abaetetuba vive o frisson de mais uma estreia. Dessa vez, como cineasta. Ela assina direção, roteiro e produção de seu primeiro longa, Pasárgada, cujo título tem inspiração na poesia de Manuel Bandeira.
O filme teve sessão aplaudida na 18ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, realizada na capital mineira pela Universo Produção. Na enredo, Dira vive a protagonista Irene, uma bióloga ornitóloga, especialista em aves, solitária e cinquentona. Contudo, no meio de uma pesquisa sobre as aves da Mata Atlântica, ela é estimulada pela presença do jovem guia Manuel, vivido por Humberto Carrão, que estimula novas percepções na personagem.
Estou descobrindo novas facetas na minha vida, novas experiências. Isso faz com que a gente se renove. Então eu me sinto potente, me sinto preparada e responsável por esse projeto, Pasárgada, que eu espero que leve a uma reflexão sobre nós humanoides e o meio ambiente.
Dira Paes
atriz e cineasta
A tropicalidade presente no filme também está presente na vida de Dira, atriz “com a cara do Brasil”, como define. “Sou uma ativista do meio ambiente desde os 13 anos, quando vi o Betinho na TV. Como amazônida, sou ativista desde os tempos em que éramos chamados de ecochatos. O tempo, infelizmente, provou que estávamos certos”, pontua. “Vamos precisar de uma nova consciência e de mudar nosso estilo de vida. Estava conversando com amigos do Acre que estão aqui e eles me contaram que Rio Branco está mergulhada na fumaça, a capital de um estado que não tem indústria. Chega, gente, não dá mais. Como ele falou, a situação é apocalíptica”, chama a atenção.

Com sua beleza dos povos originários, Dira lembra que sofreu muito preconceito no começo da carreira. “Quando fui aos 17 anos para o Rio e falava que era do Pará, muita gente dizia na minha cara: ‘nossa, como ela fala bem’. Mas por que eu não haveria de falar? Se eu fosse uma menina branca de Curitiba falariam isso também?”, questiona.
Pasárgada nasceu em Dira durante o isolamento na pandemia, quando ela passou a se conectar mais com os pássaros e descobriu dados oficiais que demonstram que “80% dos animais contrabandeados no mundo são pássaros”. Quis realizar o filme de forma totalmente independente. E depois, com o filme já pronto, conseguiu apoio da Globo Filmes e do Globoplay. “Filmamos naquele intervalo do isolamento, em dezembro de 2020”, recorda.

Dira celebra fazer a apresentação do filme em Minas, onde já foi homenageada em 2015 na Mostra de Cinema de Tiradentes, também realização da Universo Produção. “Mas, minha história com Minas é antiga. A primeira novela que fiz foi aqui, em Minas Gerais, o remake de Irmãos Coragem, em 1995, no horário das 18h na Globo. Fazia a personagem Potira e morei por três meses em Diamantina, algo que marcou muito a minha vida. Minas são muitas e múltiplas. Estar aqui é um grande prazer. Vi tudo de cinema de Minas e espero retornar em breve para fazer um filme aqui”.
O som do filme é um achado: não à toa venceu o Kikito de Melhor Design de Som no último Festival de Gramado. “Os filmes brasileiros são a nossa memória eternizada, precisamos estimular nosso cinema. Os filmes que permanecem nem sempre são os blockbusters. Cinema não é só super-herói. Peço que todos vejam o filme neste primeiro fim de semana, pois isso é muito importante, estamos em salas por todo o Brasil. Pasárgada espera você”, convida.
*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a Belo Horizonte, Minas Gerais, a convite da CineBH e Universo Produção.
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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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