Reynaldo Gianecchini em Priscilla, A Rainha do Deserto gera frustração em artistas e comunidade LGBTQIA+

Reynaldo Gianecchini como Tick e Mitzi em Priscilla, A Rainha do Deserto © Pedro Dimitrow Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

A escalação do ator Reynaldo Gianecchini, 51 anos, para ser um dos protagonistas da remontagem do musical Priscilla, A Rainha do Deserto, como Tick/Mitzi, gerou frustração e até mesmo irritação em muitos artistas do mercado do teatro musical brasileiro e em grande parte da comunidade LGBTQIA+.

Gianecchini estará ao lado de Diego Martins, como Adam/Felicia, e Wallie Ruy e Verônica Valenttino, que se revezam na pele de Bernadette. Estes últimos três nomes foram comemorados nas redes, sobretudo por serem figuras ligadas à comunidade LGBTQIA+ e sua luta.

Reynaldo Gianecchini, Diego Martins, Verônica Valenttino e Wallie Ruy em Priscilla, A Rainha do Deserto © Pedro Dimitrow Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Habilidades

A rejeição ao nome de Gianecchini ocorre porque ele não é um ator que tenha demonstrado exímias habilidades na atuação, no canto e na dança, exigidos para um protagonismo desse porte em musical.

É preciso lembrar que, na primeira versão de Priscilla no Brasil, em 2012, o personagem Tick/Mitzi foi interpretado por Luciano Andrey, ótimo ator dos musicais, enquanto que seus companheiros de cena foram o jovem André Torquato e Ruben Gabira, formando um trio de excelência e domínio técnico.

Priscilla, A Rainha do Deserto: em 2012, André Torquato, Ruben Gabira e Luciano Andrey protagonizaram “o musical do ano”, como definiu à época o Blog do Arcanjo © Divulgação Arquivo Blog do Arcanjo 2012

Ironia do mercado

A escalação de Reynaldo Gianecchini soa como uma ironia que vai contra ao mantra que diretores e produtores martelaram nas últimas duas décadas na cabeça de jovens atores que sonham com um lugar ao sol no teatro musical: preparem-se com muita dedicação, com aulas de atuação, canto e dança constantes. Ao conceder um personagem tão importante a um ex-galã da TV, o mercado parece se contradizer.

Comunidade espera excelência

A comunidade LGBTQIA+ também desdenhou da escalação de Gianecchini, acusada nas redes sociais de ser puramente comercial, sobretudo porque Giane saiu do armário, anunciando sua bissexualidade, muito recentemente. E só fez isso depois que sua carreira como galã de novelas já se encontrava em declínio.

É incoerente ver atores da televisão ocuparem espaço de privilégio no teatro musical, sendo que a TV não costuma dar espaço nobre aos atores talentosos dos musicais, salvo raras exceções. O teatro musical precisa acreditar mais na sua potência.

O esperado pela comunidade, para um musical como Priscilla, A Rainha do Deserto, seria a escalação de um ator mais ligado à causa e à arte drag, que tivesse talento comprovado, merecendo esta grande chance.

O que todos aguardam ansiosos agora é que Reynaldo Gianecchini apresente um trabalho impecável que justifique sua presença em um musical que revive uma história tão icônica para a comunidade LGBTQIA+. Sobretudo a arte drag, com o filme australiano de 1994 abrindo caminhos para a mesma e para a aceitação de famílias diversas.

Para justificar sua escalação, Reynaldo Gianecchini não pode ser nada menos do que excelente em Priscilla, A Rainha do Deserto.

É uma responsabilidade e tanto.

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Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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