Vertigem dá vida aos fantasmas do Bom Retiro
Por Miguel Arcanjo Prado
A relação com a cidade é primordial para trabalho desenvolvido pelo Teatro da Vertigem, grupo com 20 anos de atuação em São Paulo. Ela mais uma vez ganha vida em Bom Retiro – 958 Metros, com direção de Antônio Araújo.
Depois de usar um hospital como cenário e até mesmo uma embarcação sobre o fétido rio Tietê, a trupe dessa vez mergulha fundo nas ruas e histórias do bairro do Bom Retiro, tradicional reduto de tecelagem repleto de imigrantes no centro paulistano.
A dramaturgia de Joca Reiners Terron tenta apresentar personagens e fantasmas que habitam o bairro, com seus dramas que vão da loucura frenética das sacoleiras em busca de roupa barata às atuais costureiras bolivianas escravizadas.
Como o nome do espetáculo diz, a plateia é convidada a percorrer 958 metros bairro adentro, partindo da sede da Oficina Cultural Oswald de Andrade. O porém é que a andança é feita à noite, quando o lugar, essencialmente comercial, se torna praticamente deserto.
Enquanto caminha, o público vai sendo surpreendido por imagens poéticas, como atores transformados em velhos manequins, e até agressivas, como o grupo de viciados em crack que rondam os transeuntes.
O espectador que procura uma linearidade na dramaturgia acaba frustrado, pois ela não existe de forma clara. A opção artística foi pelo recorte e não pelo todo.
Um dos momentos de maior excitação é quando o público é levado a um teatro caindo aos pedaços. Contudo, quando o Vertigem tinha tudo nas mãos para fazer deste “o” momento do espetáculo, prefere apresentar o elenco executando uma pobre coreografia de street dance no palco decadente.
Apesar dos pesares, enquanto o Bom Retiro pede passagem nesta obra, o Vertigem consegue dar seu recado politizado, com seus atores atléticos e aguerridos, exibindo as mazelas enterradas de um lugar dicotômico que, ao mesmo tempo, produz tanto dinheiro e tanta miséria, ou seja, uma metáfora da própria cidade.
Bom Retiro 958 Metros
Avaliação: Bom
Quando: Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h. Até 16/12/2012
Onde: Oficina Cultural Oswald de Andrade (r. Três Rios, 363, Bom Retiro, São Paulo, tel. 0/xx/11 3222-2662)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Classificação: 16 anos
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