Cícero de Andrade consolida sua Mosaico Produções e promete 2026 intenso para celebrar 20 anos de teatro

O ano de 2025 foi especial para o ator e produtor Cícero de Andrade nos dez anos de sua produtora, a Mosaico Produções Artísticas, que realizou um ano intenso com nove projetos que passaram por instituições como o Sesc São Paulo e o Teatro da Universidade de São Paulo, o Tusp. Em entrevista exclusiva a Miguel Arcanjo Prado, ele fala ao Blog do Arcanjo sobre os últimos doze meses e adianta que 2026 será um ano ainda mais especial, já que marca seus 20 anos de teatro, e repleto de novos projetos, nos quais atuará nos palcos e nos bastidores, coisa que exerce com excelência.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi o seu 2025 como produtor na Mosaico Produções Artíticas, foi um ano especial?
Cícero de Andrade – Ao olhar para 2025, faço uma retrospectiva muito positiva. Foi um ano de muitas colheitas para a Mosaico Produções. Realizamos cerca de nove projetos, entre obras inéditas, temporadas, circulações e até um espetáculo internacional, que trouxemos de Portugal com o objetivo de difundir a produção artística e atravessar fronteiras. Entre os trabalhos mais significativos, destaco Nora e a Porta, com direção de Maristela Chelala e Sandra Corveloni, que teve duas temporadas esgotadas e ainda foi contemplado no edital de circulação do TUSP, consolidando um momento muito especial para a produtora.
Miguel Arcanjo Prado – A Mosaico fez parcerias neste ano com grandes instituições, quais foram elas?
Cícero de Andrade – Este ano foi marcado por muitas parcerias. Além dos parceiros de trabalho, conseguimos uma aproximação significativa com instituições importantes que contribuem diretamente para o fortalecimento da produção cultural no país. Esses encontros ampliaram o diálogo, abriram caminhos e trouxeram mais solidez aos projetos desenvolvidos. Atualmente, meu foco tem sido estreitar relações com patrocinadores estratégicos, capazes de contribuir com projetos já aprovados na Lei Federal de Incentivo à Cultura. Acreditamos que essas parcerias são fundamentais para viabilizar a continuidade e a expansão das ações culturais.

Miguel Arcanjo Prado – Quanto tempo tem a Mosaico? Qual lição mais preciosa aprendeu neste período?
Cícero de Andrade – A Mosaico nasceu em 2014, mas se estruturou de fato em 2015, após algumas rupturas importantes que acabaram fortalecendo a produtora. Ao longo desse itinerário, aprendi muitas lições, mas talvez a mais importante seja a construção de parcerias. Encontrar pessoas que acreditam no trabalho, que desejam somar e caminhar juntas, alinhadas pelo diálogo, pela escuta e pelo afeto, faz toda a diferença. Fazer teatro exige muito amor — e patrocínio também (risos).
Miguel Arcanjo Prado – Qual o maior prazer e a maior dificuldade em produzir teatro no Brasil?
Cícero de Andrade – O maior prazer da produção é ver o projeto ganhar vida. Acompanhar o surgimento das cores, das texturas, das interpretações, das sonoridades… ver aquilo que estava no papel se tornar presença viva em cena é algo realmente incrível. Esse processo se torna ainda mais potente quando se tem uma equipe dedicada, que cria coletivamente e pensa o espetáculo de forma integrada. O reconhecimento vem quando percebemos o quanto a obra atravessou o público — positiva ou negativamente —, mas sempre de forma efervescente. O grande desafio, hoje, é que existem muitos projetos excelentes prontos para serem realizados, mas os recursos, tanto públicos quanto privados, estão cada vez mais escassos.

Miguel Arcanjo Prado – Ser um produtor jovem foi um desafio? Por quê?
Cícero de Andrade – Claro que encontrei pedras no caminho, especialmente no início da trajetória. A juventude carrega um pouco disso, afinal produzir também é um aprendizado que se consubstancia na prática e que o tempo vai moldando. Hoje percebo o quanto a experiência ensina e ajuda a evitar armadilhas comuns do começo. O que sempre tentei manter, desde lá atrás, foi encarar os percalços com leveza. Acredito profundamente que o diálogo é a ferramenta mais potente para sustentar relações e atravessar crises.
Miguel Arcanjo Prado – Você é um produtor que também é ator. Isso é um diferencial? Por quê?
Cícero de Andrade – Minha formação como ator é central na forma como produzo. Existe uma diferença clara entre o produtor que passou pelo palco e aquele que não passou. No meu caso, sinto que essa vivência torna a relação com os artistas e com as áreas criativas mais horizontal, com uma escuta mais sensível diante dos desafios do processo. Gosto de fazer uma analogia com o mundo corporativo: para se tornar gerente, é preciso passar por diferentes setores. Acredito que, para produzir teatro, é fundamental conhecer os mecanismos internos de um espetáculo — e isso o palco ensina muito bem. Ser ator foi essencial para a construção da Mosaico.

Miguel Arcanjo Prado – Quem surgiu primeiro, o ator ou o produtor? Eles dialogam muito?
Cícero de Andrade – O ator veio antes do produtor, mas a transição aconteceu de forma muito natural. Sempre fui curioso. No teatro de grupo, o qual fiz e faço parte, gostava de conhecer tudo: luz, som, vídeo, cenário, figurino… Com o tempo, fui percebendo que produzir era justamente estar a par de todas essas áreas e articular o todo. Assim como em outras profissões, acredito que o produtor precisa passar pela base. E, no teatro, essa base é o palco.
Miguel Arcanjo Prado – O que você pode adiantar da Mosaico em 2026?
Cícero de Andrade – O primeiro semestre do próximo ano promete ser bastante intenso. Já em janeiro, estreamos dois espetáculos: Mulher em Fuga, com Malu Galli e Tiago Martelli, o qual fui convidado pela também produtora Gabriela Morato, responsável pelo Associação SOL.TE; e O Retorno, com Helena Ranaldi, Leo Medeiros e Pedro Waddington. Além disso, temos pelo menos mais quatro estreias previstas ao longo do ano. Fazendo as contas, é quase um espetáculo por mês! [sorri]

Miguel Arcanjo Prado – E como ator, tem algo em mente?
Cícero de Andrade – Como ator, sigo em atividade paralelamente à produção. Estou em pesquisa para uma montagem de Federico García Lorca e participo também de um espetáculo que é uma coprodução internacional ao lado de um grande ator e nomes talentosos na direção, já com estreia prevista e participação em grandes festivais, mas ainda não posso revelar os detalhes.

Miguel Arcanjo Prado – Por que você faz teatro?
Cícero de Andrade – Em 2026 completo 20 anos de teatro, e ao olhar para essa estrada, tenho certeza de que não me vejo fazendo outra coisa. Comecei a estudar teatro em uma casa de cultura, na Brasilândia, e desde o início acreditei no poder transformador do teatro — na capacidade que ele tem de ressignificar o meio e, consequentemente, o indivíduo. O teatro me ensinou a olhar o mundo de forma mais consciente e crítica. Sou profundamente grato por, apesar de todas as dificuldades que é fazer teatro no Brasil, poder seguir trabalhando com aquilo que sei e amo fazer: arte.
CÍCERO DE ANDRADE é artista, produtor cultural e educador. É formado em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas pela Faculdade Mozarteum de São Paulo (FAMOSP) e possui Pós-Graduação em História da Arte pela Faculdade Paulista de Artes (FPA). Começou no teatro em 2006 e desde 2007 desenvolve pesquisa continuada nas áreas de Artes e Educação. Iniciou sua trajetória no Teatro Vocacional de São Paulo e integrou, entre 2008 e 2012, o Grupo Teatral Saga, aprofundando-se na dramaturgia universal e nacional, com orientação de Alejandra Sampaio, Elisa Band, Bárbara Campos e Robson Alfieri, atuando em montagens como O Auto da Compadecida, Mãe Coragem e Cyrano de Bergerac. Também integrou o grupo Trapiche, dedicado à adaptação de obras literárias. Em 2013 e 2014, realizou formações complementares em performance, interpretação, história do teatro, canto e artes cênicas. Desenvolveu pesquisa em espetáculos com temática LGBTQIA+ e atuou em musicais independentes e produções contempladas por editais como o PROAC. Como produtor cultural desde 2013, é fundador da MOSAICO PRODUÇÕES, tendo realizado diversos espetáculos teatrais e musicais. Atuou também em criações híbridas durante a pandemia e segue em constante atualização, com foco na escrita e gestão de projetos culturais.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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