Carlos Francisco é ovacionado em homenagem na CineBH: ‘Sou um quilombola’

Enviado especial a Belo Horizonte
A 19ª edição da CineBH iniciou sua trajetória com uma celebração do cinema brasileiro e latino-americano, reunindo mais de mil pessoas no Cine-Theatro Brasil. A noite de terça-feira, 23, foi marcada pela exibição do filme “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, e por uma emocionante homenagem ao ator mineiro Carlos Francisco, que está no elenco do longa que vai representar o Brasil no próximo Oscar. O artista foi aplaudido de pé.

A cerimônia de abertura, antecedida por uma performance audiovisual, marcou o ponto de partida da programação do festival. A coordenadora da CineBH, Raquel Hallak, abordou as transformações do audiovisual e a necessidade de regulamentar o streaming no Brasil, citando o impacto da inteligência artificial no setor. “A CineBH é esse território de encontro, formação e visibilidade para promover diálogos entre culturas e fortalecer redes de afeto e de trabalho”, destacou Raquel. Ela reforçou a importância da cooperação entre países latino-americanos para a construção de políticas públicas, afirmando que o audiovisual é parte da soberania de um país.


A homenagem a Carlos Francisco, nome expressivo no cinema contemporâneo, foi um dos momentos mais tocantes da noite. A cantora Josy.Anne apresentou uma leitura musical em tributo à sua ascendência e à sua carreira, enquanto a atriz Rejane Faria, sua colega de elenco em “Marte Um”, compartilhou uma comovente lembrança da parceria artística. “Minha história com Carlos é uma história de olhares. A gente conversa pelo olhar e aprendemos juntos a fazer audiovisual. Carlos é raridade: uma pessoa que você não acredita que vai encontrar”, disse Rejane. O cineasta Maurílio Martins, da produtora Filmes de Plástico, exaltou a carreira de Francisco, ressaltando sua dedicação e talento, que o levaram a acumular experiência e reconhecimento em poucos anos no cinema, após uma longa atuação no teatro.
Visivelmente emocionado, o homenageado agradeceu a todos, incluindo sua família e parceiros de trabalho. “Sou um quilombola de formação oral e uma homenagem dessas me mostra que deu pra aprender direitinho”, disse o ator, entre lágrimas, lembrando-se da tia que o introduziu ao teatro, despertando sua paixão pela atuação.
A exibição do filme “O Agente Secreto”, em que Carlos Francisco interpreta um projecionista, coroou a noite de abertura. A obra, que integra a mostra, reafirmou a força do cinema brasileiro e latino-americano, mesclando arte, emoção e uma abordagem política.

Em conversa com o Blog do Arcanjo, Carlos Francisco, que vem de uma ancestralidade familiar quilombola, falou da importância do teatro em sua trajetória. “Sempre fiz teatro, desde pequeno, na escola e em qualquer lugar”, conta. “Saí de Minas em 1991 e fui para São Paulo, com uma perspectiva de trabalho em outra área, e fiquei muito tempo tentando fazer teatro lá e onde consegui foi nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade, onde depois fui professor. Depois entrei par ao Grupo Folias, e construímos um teatro na Santa Cecília, em São Paulo, que estreou em 2000 e nos possibilitou ficar em cartaz com nosso repertório”.
“Foi em São Paulo que conheci a Rejane Faria [atriz que lhe entregou a homenagem da CineBH e com quem contracenou em Marte Um], fazendo peça lá com o grupo dela, o Quatroloscinco”, conta. “No teatro, eu tive a possibilidade de trabalhar muito e com muita gente bacana. Posso falar que fiz de tudo, da portaria até o palco, passando pela faxina, escrita, direção, maquinaria… O teatro é a maior escola de atores que existe, foi no teatro que aprendi a experimentar mais. E no cinema trago essa bagagem, porque não há diferença para o trabalho do ator entre teatro e cinema, a não ser a questão técnica do volume e do gesto menor, mais cotidiano, que o audiovisual exige. Mas, para o estado de ator, para mim, teatro e cinema é tudo igual”.
A 19ª CineBH e o 16º Brasil CineMundi fazem parte do Cinema sem Fronteiras 2025, um programa internacional que também engloba a Mostra de Cinema de Tiradentes e a CineOP. O festival em Belo Horizonte segue com programação gratuita até 28 de setembro, com 101 filmes gratuitos e atividades em diversos espaços culturais da cidade.
O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viaja a convite da CineBH. Conteúdo produzido em parceria com a Universo Produção. Acompanhe a coberturra da Mostra CineBH!
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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