Navalha na Carne volta ao cartaz para celebrar 90 anos de Plínio Marcos com o núcleo CaTI

Bárbara Salomé é Neusa Sueli em Navalha na Carne © Kaligari Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Plínio Marcos (1935-1999) faria 90 anos neste 2025. Para celebrar o grande dramaturgo santista, o núcleo CaTI (Caxote Teatro Íntimo) reestreia o clássico “Navalha na Carne” em 24 de julho. A temporada é no Teatro Manás Laboratório, na Bela Vista, em São Paulo. Onze anos após a primeira montagem da peça pelo coletivo, intitulada “Por Acaso, Navalha”, o grupo atualiza as questões sociais e humanas de um dos textos mais emblemáticos da dramaturgia brasileira.

A opressão vivida pela personagem Neusa Sueli, interpretada por Bárbara Salomé, é um dos destaques da dramaturgia original. Na nova montagem, se por um lado a prostituta ainda segue no centro do “ringue”, de onde não consegue sair e vive inúmeros tipos de violência, por outro se insere em um novo contexto, em que a voz da mulher ganha protagonismo. 

Fernando Aveiro, diretor do núcleo, lembra que uma simples frase dita pela personagem, como “Um dia a casa cai viu, pode crer!”, hoje ganha outro peso na voz de Salomé. “Embora a Neusa tenha consciência do que está vivendo, ela não consegue sair desse lugar, e isso pode acontecer com qualquer pessoa, por diferentes motivos”, comenta. “A violência está em outros patamares: ela é verbal, moral, psicológica, e não só física, aliás esse último aspecto é o que menos existe na versão do CaTI. Optamos por um caminho que revela os abusos silenciosos do texto”, completa Humberto Caligari, que assina a produção ao lado de Camila Biondan e também interpreta o personagem Veludo.

O diretor relembra a atualidade do texto e o fato de não se fixarem em uma adaptação realista. “Existe um mistério para além do que é dito na trama, que aparece muito no tempo dilatado da encenação, nos silêncios, no pensamento dos personagens. Não existe aqui uma Neusa resignada, até mesmo os silêncios e olhares dela têm uma densidade cortante”, completa Aveiro.

O núcleo CaTI foi criado em 2013 com o objetivo de investigar o teatro na linguagem contemporânea. Ao longo de sua trajetória, dedica-se à releitura de textos clássicos e à exploração de novas proposições dramatúrgicas. Seus espetáculos buscam unir diferentes linguagens, enquanto investigam o espaço alternativo e a relação intimista entre o público e a cena. Em montagens como “Ex-Gordo”, “Obras Sobre Ruínas”, “Flores para Los Muertos” e o próprio “Navalha na Carne”, o CaTI se aprofunda no protagonismo de personagens quase invisíveis à sociedade, dando voz a esses indivíduos esquecidos e provocando reflexões sobre as desigualdades e exclusões que permeiam nosso cotidiano.

“Navalha na Carne”

A peça narra a história de Neusa Sueli, uma prostituta (Bárbara Salomé) confrontada por seu cafetão, Vado (Murilo Inforsato), ao retornar de uma noite de trabalho. Em meio a acusações e tensões, ela é forçada a lidar com o abuso, a violência e a desconfiança, enquanto a luta pela sobrevivência se torna um jogo brutal de poder e verdade. Uma obra crua e contundente sobre os limites da dignidade humana e as relações de dominação.

Ficha técnica

Texto Original: Plínio Marcos

Direção: Fernando Aveiro

Assistente de Direção: Camila Biondan

Elenco: Bárbara Salomé como Neusa Sueli, Murilo Inforsato como Vado, Humberto Caligari como Veludo

Figurinos: Rosângela Ribeiro

Cenografia e Iluminação: CaTI – Caxote Teatro Íntimo 

Produção: Humberto Caligari e Camila Biondan

Fotos: Kaligari Fotografia

Assessoria de imprensa: Katia Calsavara

Coordenação Geral: Fernando Aveiro

Idealização: Caxote Coletivo Produções

Serviço

“Navalha na Carne”

Quando: Estreia quinta, 24 de julho, às 21h;

31 de julho, às 21h. E todas as terças de agosto, às 21h.

Onde: Teatro Manás Laboratório (Rua Treze de Maio, 222, Bela Vista, SP/SP)

Quanto: de R$ 40 (meia) a R$ 80 (inteira)

Ingressos via Sympla: NAVALHA NA CARNE

https://www.sympla.com.br/evento/navalha-na-carne/3020680

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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