Marjorie Gerardi herda papel de Julia Roberts em Closer, faz dois filmes e avisa: ‘Estou pronta para a próxima’

A atriz Marjorie Gerardi celebra sucesso de Closer no Teatro Vivo © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

A atriz Marjorie Gerardi vive um 2025 movimentado, seja nos palcos ou telas. Atualmente, está em cartaz com sucesso no Teatro Vivo, em São Paulo, com a peça Closer, na qual vive a personagem que já foi de Julia Roberts nos cinemas. Ela também é produtora do espetáculo ao lado de Larissa Ferrara. No primeiro semestre, brilhou na comédia Passaporte para o Amor, que realizou temporadas concorridas no Teatro Arthur Azevedo e no Teatro Itália, na capital paulista. Se nos tablados tudo vai bem, não é diferente no audiovisual, onde ela se prepara para estrear dois filmes: Festa do Peão de Barretos, o Filme, previsto para agosto, e Por Um Fio. Em entrevista exclusiva ao jornalista Miguel Arcanjo Prado para o Blog do Arcanjo, ela fala dos trabalhos e adianta que pretende voltar em breve às TV, ela que esteve nas novelas Rock Story na Globo e Gênesis na Record e na série As Aventuras de José & Durval na Globo e Globoplay. Veja a seguir a entrevista com Marjorie Gerardi. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Marjorie, você está fazendo na peça Closer uma personagem que já foi da Julia Roberts no cinema. Como é essa sensação?
Marjorie Gerardi –
É curioso como certos papéis nos escolhem antes mesmo de sabermos disso. Quando recebi a noticia que iria interpretar a Anna de Closer, fiquei muito confusa de início, achei que iria fazer a Alice, pelo meu preparo corporal por conta da dança, pelo jeito, pelas linhas do corpo, pelas semelhanças todas, mas enfim, foi um pequeno choque e ao mesmo tempo uma grande emoção! Fazer algo não óbvio, sair da minha zona de conforto, sempre gera um reboliço bom! Peguei o desafio! É instigante e curioso ao mesmo tempo, não só pela comparação com a Julia Roberts, mas pelo reencontro com uma mulher que sempre me fascinou: uma personagem cheia de silêncios, contradições, desejos não ditos. A Anna tem esse magnetismo ambíguo, que me lembra as personagens femininas do Ingmar Bergman — mulheres que dizem muito com um olhar, e que às vezes ferem tentando amar.

Marjorie Gerardi interpreta personagem que foi de Julia Roberts no cinema em Closer © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Qual sua relação com a Julia Roberts?
Marjorie Gerardi –
A Julia Roberts foi parte da minha formação como espectadora. Quando eu era adolescente, ela me ensinou que beleza pode ser vulnerável e que charme não é sinônimo de perfeição, mas de presença. Em Closer, ela já vinha num momento mais maduro, e aquela contenção dramática que ela empresta à Anna é algo que me inspirou muito. Mas, no teatro, o convite é outro: a gente não revive uma atuação — a gente escuta o texto como se fosse pela primeira vez. Precisei me desprender da imagem do filme e permitir que a Anna brotasse em mim com outras perguntas, outras angústias. A Julia foi a porta, mas a chave precisava ser minha.

Julia Roberts em Erin Brockovich, o filme dela preferido de Marjorie Gerardi © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Qual seu filme preferido da Julia Roberts e por quê?
Marjorie Gerardi –
Erin Brockovich. Não só pela atuação monumental, mas pelo que ela representa. É um filme que me despertou ainda jovem para a força da narrativa feminina na vida real. Ver uma mulher que não pertence aos padrões — nem sociais, nem acadêmicos, nem estéticos — se levantar contra um sistema tão poderoso, me impactou profundamente. A forma como a Julia incorpora essa mulher real, com falhas, fúria, instinto e empatia, é de uma verdade rara. É um filme sobre justiça, mas também sobre maternidade, dignidade e coragem. E eu acredito que, no fundo, todo artista precisa, vez ou outra, tocar nesse tipo de história para lembrar por que escolheu esse ofício.

A atrz Marjorie Gerardi celebra sucesso de Closer no Teatro Vivo © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Como foi compor a fotógrafa de Closer?
Marjorie Gerardi –
Sim, fiz um mergulho intenso — não só técnico, mas emocional. A Anna é fotógrafa, e isso não é um detalhe aleatório no texto: é uma metáfora poderosa. O fotógrafo é alguém que vê sem ser visto. Que registra o instante, mas se mantém à margem dele. E a Anna é assim — ela observa, absorve, mas tem dificuldade de se entregar. Em muitos sentidos, a fotografia dela é o reflexo de um desejo de controle, de preservar as coisas antes que elas se desfaçam. Isso me tocou muito.

Miguel Arcanjo Prado – Chegou a fazer algum laboratório?
Marjorie Gerardi – Fiz laboratório com fotógrafos profissionais. Observei como eles se relacionam com o silêncio, com o foco, com a espera. Existe um tipo de escuta visual ali que é quase meditativa. E isso me ajudou a entender a Anna: ela fala pouco, mas vê tudo. E o que ela não diz em palavras, diz nos enquadramentos da sua lente. Compor essa personagem foi quase como revelar um negativo antigo — camada por camada, luz por luz.

Rafael Lozano, Larissa Ferrara, Marjorie Gerardi e José Loreto celebram sucesso de Closer no Teatro Vivo © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – Como tem sido a relação com os colegas nessa peça?
    Marjorie Gerardi –
    É uma relação de entrega e vulnerabilidade. Closer não permite armaduras. Ele exige que a gente vá até o osso da emoção, da contradição, do desejo. Trabalhar com colegas que compreendem essa profundidade é um presente raro. Criamos uma escuta em cena que vai além do texto — é quase musical. Existem noites em que sinto que estamos improvisando Beethoven, mesmo recitando Marber.

    Rafael Lozano, Larissa Ferrara, Marjorie Gerardi e José Loreto celebram sucesso de Closer no Teatro Vivo © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – Que poético.
    Marjorie Gerardi –
    Nos tornamos cúmplices. E isso é vital quando se encena uma obra que fala sobre as ruínas do amor, sobre os espelhos que projetamos no outro. Estamos falando de traição, de perda, de ego, mas também de carência, de esperança, de redenção. Ter um elenco que encara tudo isso de frente, com generosidade e coragem, me transforma a cada ensaio, a cada sessão. Só tenho a agradecer pela entrega da Larissa Ferrara, minha grande parceira de anos, do José Loreto, nosso terceiro trabalho juntos, e o Rafael Lozano, que é um presente!

    Espetáculo Closer estreia sob fortes aplausos no Teatro Vivo © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – Você em breve estreia uma nova personagem nos cinemas, uma aspirante a cantora.
    Marjorie Gerardi –
    Sim, a personagem se chama Ana Amélia e está no filme “Festa do Peão de Barretos – O Filme”, ambientado em duas fazendas rivais e na maior Festa do Peão do mundo. Ela é uma mulher do interior, com uma voz guardada na garganta e um sonho que parece sempre distante demais. O universo sertanejo é masculino, ruidoso, competitivo — e ela é, no começo, apenas um sopro ali dentro. Mas é um sopro que cresce.

    Marjorie Gerardi e Rafael Cardoso no filme Festa do Peão de Barretos © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – Como foi compor essa mulher?
    Marjorie Gerardi –
    Foi um papel muito físico e emocional. Aprendi violão, canto e equitação. Tive que descobrir um outro corpo, um outro ritmo. A Ana Amélia me ensinou sobre resiliência, sobre o poder das pequenas vitórias. Existe nela uma verdade muito brasileira, muito silenciosa: a de quem luta calada, mas não desiste. Estou muito ansiosa para o público conhecê-la. Sinto que ela vai tocar muitas mulheres que, assim como ela, aprenderam a sonhar em voz baixa.

    Miguel Arcanjo Prado – Você também vai interpretar a primeira mulher do médico Drauzio Varella em um filme em breve?
    Marjorie Gerardi – Sim, interpretarei a Marina, primeira companheira de vida do Drauzio Varella. É um papel delicado, quase invisível à primeira vista, mas de uma força imensa. A Marina é dessas figuras que sustentam mundos sem precisar aparecer neles. Ela acompanhou o Drauzio em momentos de grande exposição, mas sempre com uma sobriedade admirável. Estudei muito o livro “Por Um Fio” e outras biografias do Drauzio, li entrevistas e relatos também. O Drauzio é um homem de ciência, mas também de humanismo e acho que muito disso veio da relação que eles construíram. Representar essa mulher foi um exercício de escuta amorosa. Marina me fez pensar no que significa, de fato, caminhar ao lado de alguém. Não atrás. Não à frente. Ao lado.

    Marjorie Gerardi é destaque como Noely na série As Aventuras de José e Durval no Globoplay © Aline Arruda Divulgação Blog do Arcanjo 2023

    Miguel Arcanjo Prado – Já que estamos falando de audiovisual, como foi a repercussão de ser Noely em As Aventuras de José e Durval? Chegou a falar com ela? Como foi?
    Marjorie Gerardi –
    Foi um presente e uma enorme responsabilidade. A Noely é uma mulher que representa muitas outras: aquelas que trabalham nos bastidores da arte, nos bastidores da vida. Ela não é só mãe ou empresária — é o alicerce afetivo e estratégico de uma família que se tornou um fenômeno musical. Recebi um carinho imenso do público. Pessoas me escreveram dizendo que se viram na Noely.

    Noely e Marjorie Gerardi nos bastidores de As Aventuras de José e Durval © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – A Noely te disse alguma coisa sobre você interpretá-la?
    Marjorie Gerardi –
    Sim, tive a honra de conversar com ela. Ela foi muito generosa comigo. Disse que se reconheceu em mim assim que me viu, e isso me emocionou profundamente. Não existe maior reconhecimento do que esse: quando a própria pessoa que você interpreta sente que foi retratada com respeito, escuta e verdade.

    Felipe Simas, como Xororó, e Marjorie Gerardi, como Noely em As Aventuras de José e Durval © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – Falando de TV, você acha que é mais difícil para artistas que moram em São Paulo entrarem nas novelas da Globo?
    Marjorie Gerardi –
    Infelizmente, ainda existe um certo descompasso entre os polos de produção. São Paulo é uma usina criativa — temos aqui uma cena teatral poderosa, centros de formação, companhias, dramaturgos incríveis. Mas o Rio ainda concentra as oportunidades televisivas mais visíveis. Isso cria uma espécie de fronteira simbólica e geográfica que muitos artistas precisam atravessar. Mas vejo esse panorama começando a mudar. As plataformas digitais, as coproduções, a força do streaming têm descentralizado o jogo. Ainda é mais difícil, sim. Mas o talento e a persistência sempre encontram brechas. E eu acredito profundamente que o futuro será mais distribuído, mais plural, mais inclusivo.

    Tenho muita vontade de viver uma mulher que represente algo que ainda não foi dito. Que traga uma nova perspectiva sobre o feminino, a maternidade, o envelhecer, a política íntima dos afetos.”

    MARJORIE GERARDI, atriz

    Marjorie Gerardi no lançamento da novela Rocky Story na Globo © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – Você sente vontade de fazer outra novela?
    Marjorie Gerardi – Sim, com certeza. A novela tem uma linguagem que me fascina: ela acompanha o país, vira assunto de mesa de jantar, de padaria, de grupo de família. E como atriz, é um laboratório riquíssimo — porque exige resistência, intuição, velocidade e sensibilidade. Eu amei fazer Rock Story na Globo, foi uma experiência maravilhosa. Amei fazer Gênesis na Record, outro experiência épica incrível. Estou pronta para a próxima, quero que venha uma personagem que me provoque, que me tire do lugar. Tenho muita vontade de viver uma mulher que represente algo que ainda não foi dito. Que traga uma nova perspectiva sobre o feminino, a maternidade, o envelhecer, a política íntima dos afetos.

    Miguel Arcanjo Prado – Soube que você fez intercâmbio nos EUA. Quais lições de vida importantes você aprendeu por lá?
    Marjorie Gerardi –
    Aprendi a ser estrangeira. E isso é uma experiência radical. Você se olha no espelho e não reconhece sua voz, sua forma de andar, seus códigos. Precisa reconstruir tudo. E isso é libertador, porque também te afasta de rótulos antigos. Nos Estados Unidos, tive a chance de estudar com pessoas de várias partes do mundo. O que mais me marcou foi o poder da escuta. Lá, entendi que o talento é só uma parte da equação — o resto é ética de trabalho, curiosidade constante e humildade. Voltei com menos certezas e mais perguntas. E acho que esse é o melhor estado para um artista estar.

    A atriz Marjorie Gerardi celebra sucesso de Closer no Teatro Vivo © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – Como é ser também produtora em Closer? O que essa nova dimensão profissional trouxe para o seu olhar?
    Marjorie Gerardi –
    Produzir é um ato de amor e de resistência. Quando você assume também a produção de um espetáculo, começa a enxergar o teatro como um organismo vivo — onde cada detalhe importa, da luz ao orçamento, da bilheteria à emoção da plateia. Assumir a produção de Closer me trouxe uma autonomia artística muito valiosa. Eu pude escolher com quem dividir esse projeto, escolhi a Larissa Ferrara, que ta junto comigo para contar essa história, para apresentar esse texto ao público brasileiro. E ao mesmo tempo, ganhei ainda mais respeito por todas as pessoas que fazem o teatro acontecer nos bastidores. Ser produtora me tornou uma atriz mais inteira, mais consciente da coletividade que sustenta cada aplauso.

    Espetáculo Closer estreia sob fortes aplausos no Teatro Vivo © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025

    Miguel Arcanjo Prado – Por que você faz teatro?
    Marjorie Gerardi –
    Porque é onde a vida pulsa sem edição. Porque é o único lugar onde a emoção acontece ao mesmo tempo em quem dá e em quem recebe. Porque é ritual. Porque é arte que respira. Eu faço teatro porque preciso do risco, do erro possível, do aplauso que não é garantido. Faço teatro porque acredito que, mesmo quando as luzes da cidade se apagam, uma pequena sala ainda pode acender uma fagulha em alguém. E isso é uma forma de fé.

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    ★★★★
    CLOSER
    Avaliação: Muito Bom
    Crítica por Miguel Arcanjo Prado
    Qui, sex e sáb 20h dom 18h. Até 27/7/2025
    Teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan 2460 Morumbi, SP)

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    Editado por Miguel Arcanjo Prado

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    Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
    Foto: Rafa Marques
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