MIACENA se consolida na 2ª edição com 15 mil pessoas e cria legado cênico para SP

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
A segunda edição da MIACENA – Mostra Internacional de Artes Cênicas em Espaços Não Convencionais e Alternativos encerrou com público de 15 mil pessoas que prestigiaram suas mais de 40 atrações gratuitas do Brasil e do mundo entre 22 de outubro a 1º de novembro de 2025. Com um balanço amplamente positivo, o evento firma-se como um dos eventos culturais mais significativos da capital paulista e do Brasil no campo das artes cênicas.

A MIACENA, que transformou o centro histórico e outros pontos da maior metrópole brasileira em um palco efervescente, superou as expectativas em alcance e capilaridade. Com mais de 50 atividades programadas, o festival mobilizou um público superior a 15 mil espectadores e envolveu mais de 200 profissionais, expandindo sua presença para 9 espaços culturais distintos. Tais números atestam a ressonância do formato e a necessidade de experiências artísticas que rompam as barreiras do teatro tradicional.



A essência da MIACENA reside na proposta de integrar as artes cênicas à paisagem urbana e ao cotidiano. Idealizada por André Acioli e Dani Angelotti, produtores culturais respeitados da cena brasileira, a mostra convidou o público a redescobrir a memória e a arquitetura de São Paulo. Sobre o conceito, os idealizadores destacam: “A MIACENA parte do princípio de que a cidade é também um palco e um espaço de convivência. Ao ocupar bares, praças, museus e outros locais não convencionais, convidamos o espectador a perceber a arquitetura, a memória e os fluxos cotidianos como parte ativa da cena”. Essa filosofia impulsionou mais de 40 apresentações de teatro, dança, circo e performances em ruas e cruzamentos, consolidando uma troca profunda e orgânica com a metrópole.

Destaques internacionais
O caráter internacional da MIACENA garantiu uma perspectiva global para as artes cênicas brasileiras. A curadoria trouxe projetos de Portugal, Argentina e França. De Portugal, o público pôde conferir o drama A Língua em Pedaços, de Juan Mayorga, uma recriação de um diálogo entre Teresa d’Ávila e um inquisidor com Luísa Ortigoso e Beto Coville. A companhia argentina De La Mejor Manera exibiu a obra inédita em processo Sumergidos, uma reflexão desolada sobre a sobrevivência humana em um futuro distópico. Já a parceria França-Brasil resultou em Ela Perdeu o Controle, uma experiência sonora imersiva que abordou a sociedade de vigilância.

Destaques brasileiros
A programação brasileira apresentou um leque de talentos consagrados, que reforçaram o alto nível artístico do festival. Entre os nomes mais relevantes, Elias Andreato esteve em cena com Clarice Niskier em Prefiro às Quartas, uma leitura-apresentação poética iniciada durante o período pandêmico. A atriz-autora Sara Antunes apresentou Dora, um diálogo íntimo e político construído a partir da memória de uma resistente à ditadura. Além disso, o renomado diretor Gerald Thomas conduziu sessões abertas de Fogo Alto, proporcionando aos participantes a oportunidade única de acompanhar o processo de criação de um novo espetáculo.

Acões pela cidade
O percurso da MIACENA não se limitou aos espetáculos. A expansão da Mostra incluiu eixos paralelos focados em responsabilidade social e ambiental, como a Feira da Mia – Economia Sustentável e ações formativas sobre Cultura Circular. “Esses eixos paralelos fortaleceram o tecido cultural, criando um espaço de encontro que vai além do entretenimento e atua como plataforma de desenvolvimento social, crítico, econômico e ambiental”, complementou Dani Angelotti, ressaltando a relevância da Feira da Mia, que ocupou a Rua da Quitanda. A combinação de arte de alto impacto e a discussão de temas contemporâneos, como o upcycling na cenografia (Maratona Virô Bootcamp), reforça a visão integral do evento.
Diante do sucesso de público e de crítica, e da ocupação assertiva de espaços como o CCBB SP, o Teatro Cultura Artística, o iBT Instituto Brasileiro de Teatro, o Instituto Capobianco e a Galeria Olido, a 2ª edição da MIACENA comprova sua relevância no calendário cultural de São Paulo. É um festival que se consolida ao cumprir seu papel de difusão artística, enquanto provoca reflexões sobre o uso do espaço público.

Acesso à arte
O idealizador André Acioli projeta o futuro com otimismo: “No futuro, esperamos que o festival contribua para ampliar o acesso do público às artes cênicas e inspirar novas gerações de artistas a repensar seus modos de produção e relação com o espaço urbano. O impacto que buscamos não é apenas estético, mas também social e político”. O balanço final é claro: a MIACENA veio para ficar e reescrever a relação entre as artes cênicas e a cidade.

Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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