★★★★ Crítica: Hannah Arendt – Uma Aula Magna traz Eduardo Wotzik em defesa da educação contra a barbárie

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
★★★★
Hannah Arendt – Uma Aula Magna
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Sex e sáb 20h dom 19h Cultura Artística Até 21/12/2025
Compre seu ingresso!
@espetaculohannaharendt
O ator Eduardo Wotzik estreou sob fortes aplausos seu solo de sucesso Hannah Arendt – Uma Aula Magna no Cultura Artística, icônico teatro que está de volta depois de 16 anos fechado após o incêndio de 2008. A peça apresenta o pensamento de Hannah Arendt (1906-1975), grande intelectual do século 20, que buscou compreender o que tornou possível o Holocausto na Segunda Guerra Mundial, criando um pensamento sobre os tentáculos do totalitarismo e da barbárie humana. Wotzik incorpora a filósofa, transcendendo as fronteiras do tempo e da verossimilhança, fazendo com que o pensamento de Arendt alcance o público com simplicidade e ao mesmo tempo sofisticação. Nestes tempos em que centenas de vidas pobres e negras são brutalmente assassinadas pelo Estado do Rio de Janeiro e em que o mundo vê o terror da guerra seguir por anos, como na invasão russa na Ucrânia ou na guerra de Israel e Faixa de Gaza, com dezenas de milhares de civis mortos, o pensamento de Arendt ganha novos significados. Com sofisticado jogo teatral, o figurino de sobreposições, pontuado pelo salto e os óculos, cria uma silhueta híbrida, sugerindo que as grandes ideias são fluidas, capazes de encarnar em qualquer corpo que se disponha ao pensamento. Wotzik, com mais de quatro décadas nas artes cênicas, também assina texto e direção, estruturando a peça como um magistral diálogo com a plateia. O monólogo não é um panteão acadêmico, mas uma conversa na qual o humor lubrifica a engrenagem de temas graves: a ética, a cidadania e a “banalidade do mal” de Eichmann, grande tese de Arendt. Ao refletir os “estilhaços de Eichmann” em nós, a peça propõe que a sociedade atual — presa à ignorância e ao ódio crescente — retome o imperativo da educação, nossa única chance de reverter o mal.

★★★★
Hannah Arendt – Uma Aula Magna
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Sex e sáb 20h dom 19h Cultura Artística Até 21/12/2025
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@espetaculohannaharendt


Eduardo Wotzik fala sobre a criação de Hannah Arendt – Uma Aula Magna
Miguel Arcanjo Prado – Eduardo, como foi criar este espetáculo Hannah Arendt – Uma Aula Magna?
Eduardo Wotkzik – Hannah Arendt – Uma Aula Magna é resultado da pandemia. Não é à toa que eu escrevi, dirigi e atuo. Vem desse lugar da solidão que a gente viveu na pandemia, quando eu prometi para mim mesmo que eles não iram me matar e que eu ia sair mais forte do que antes. Então, eu saí dela com um espetáculo para levar para o mundo. Na pandemia, eu percebi claramente que o vírus era o coronavírus, que era cientificamente real, mas que existia um vírus tão grande quanto que era o vírus da ignorância. E pensei que o antídoto, a vacina, é a educação. Eu tive muita certeza disso e comecei a pensar como é que eu podia, através do teatro, contribuir para essa reflexão, para essa discussão sobre educação. Comecei a refletir em mim, sobre a minha educação, sobre a educação dos filhos, sobre a educação que eu vi acontecer. Eu dei muita aula também de teatro. E um dia, quando eu acordei, a Hannah Arendt estava puxando no meu pé e me dizendo: ‘se você quer falar sobre educação, a gente tem que conversar’. E aí a gente foi para o play, fomos brincar sobre isso. E aí ela subiu a régua, e jogou lá em cima o patamar da reflexão, da discussão, das questões que eu estava levantando e me contou toda a história do Eichmann, me contou a história do nazismo, me contou a diferença entre educar e ensinar e me falou sobre a banalidade do mal, sobre o totalitarismo e sobre essa conclusão que ela teve de dar importância da construção de um pensamento. E aí eu fui trabalhando o texto. Escrever um texto que fosse uma aula magna, não uma aula qualquer, mas uma aula especial da Arendt. Ela entra e diz: ‘eu baixei aqui’. Poderia ter baixado Freud, poderia ter baixado Guimarães Rosa, poderia ter baixado outras pessoas, mas baixou Hannah Arendt. E ela é contemporânea. A gente está falando sobre o tempo de hoje.

Eduardo Wotzik fala sobre temporada de Hannah Arendt – Uma Aula Magna no Cultura Artística
Miguel Arcanjo Prado – Eduardo, lembro-me que era repórter na Ilustrada na Folha de S.Paulo quando o Cultura Artística pegou fogo em 2008 e eu vim cobrir. Hoje, fico feliz de vê-lo reaberto. Como é fazer parte desse momento de volta de um lugar querido da cidade e dos artistas, que foi consumido pelas chamas e renasceu feito fênix das cinzas?
Eduardo Wotzik – É uma honra. Quando eu soube que havia uma chance de isso acontecer, fiquei muito feliz. O teatro é um espaço de amor, de afeto. O Cultura Artística tem o afeto da classe artística. E isso fica impregnado. Por exemplo, eu não gosto de dividir o palco com outras coisas. Porque gosto de deixar tudo ali e, quando eu volto na semana seguinte, gosto de encontrar a emoção que eu deixei ali. Como é que eu vou explicar para um burocrata isso? Mas a verdade é que está lá. O Teatro Cultura Artística tem esse afeto, tanto da classe artística quanto da população. Muitas histórias foram vividas aqui. É um teatro que tem fantasmas de quem já passou por ele. Então, é uma beleza que isso esteja acontecendo e eu me sinto muito honrado em fazer parte. Eu falei para a direção: é teatro, é cultura, é artístico? Então, eu tenho de estar ali.

Eduardo Wotzik em Hannah Arendt – Uma Aula Magna no Cultura Artística: Miguel Arcanjo mostra o ator nos bastidores em fotos de Michel Araújo




















Eduardo Wotzik em Hannah Arendt – Uma Aula Magna no Cultura Artística: Miguel Arcanjo mostra imagens da peça em fotos de Michel Araújo










Eduardo Wotzik em Hannah Arendt – Uma Aula Magna no Cultura Artística: Miguel Arcanjo mostra quem aplaudiu em fotos de Michel Araújo










Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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