Sumergidos cria Argentina distópica no MIACENA com De La Mejor Manera
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Após o sucesso na Netflix da série futurista argentina O Eternauta, protagonizada por Ricardo Darín, é a vez de o teatro transformar Buenos Aires em um lugar distópico. Sumergidos (Submersos, em espanhol), foi a abertura de processo da nova peça da companhia argentina De La Mejor Manera, dirigida por Federico Liss, e prevista para estrear em 2026. Foram duas sessões no oitavo andar do Instituto Brasileiro de Teatro (iBT), no último fim de semana, dentro da 2ª MIACENA – Mostra Internacional de Artes Cênicas em Espaços Não Convencionais e Alternativos, que vai até dia 1º de novembro em São Paulo com mais de 40 atrações gratuitas. Com uma visão panorâmica do centro de São Paulo das amplas janelas da ótima locação, o experimento afogou o público em um futuro distópico, mas estranhamente familiar. Buenos Aires está parcialmente inundada e reina uma maré de melancolia, com três personagens que insistem em suas rotinas burocráticas, já sem muita razão de ser, interpretados por Ana Clara Barboza, David Rubinstein e Jorge Eiro. É impossível não fazer um contraponto de tal tristeza com o avanço de Javier Milei, atual presidente argentino representante da extrema direita e avesso à cultura, em nosso país vizinho — inclusive, no mesmo fim de semana em que a peça foi apresentada no Brasil, seu partido saiu vencedor das eleições parlamentares argentinas. O humor sutil torna-se um bote salva-vidas feito de ironia em meio ao desalento. É como um riso amargo que se alterna com o peso da falência que paira por todos os lados. Seguir em frente em tempos de crise necessita de “frágeis quimeras” como coletes de força. Submergidos é um duro retrato deste mundo atual, onde o colapso ambiental e o desamparo institucional já não são ficção, mas realidade. É preciso resistir. O difícil é encontrar forças.
Miguel Arcanjo mostra bastidores e quem aplaudiu De La Mejor Manera em Sumergidos na 2ª MIACENA em fotos de Rafa Marques
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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