Roda Viva com Antonio Pitanga celebra trajetória do grande ator brasileiro

Vera Magalhães e Antonio Pitanga no Roda Viva © Nadja Kouchi TV Cultura Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

O tradicional programa Roda Viva, apresentado por Vera Magalhães, recebeu na TV Cultura ator e diretor Antonio Pitanga nesta segunda, 27. O artista de 86 anos está em cartaz nos cinemas com o filme Malês, que ele dirige e no qual atua com seus filhos, Camila Pitanga e Rocco Pitanga. A bancada de entrevistadores foi formada por Luanda Vieira (jornalista), Matheus Mans (jornalista do Estadão e Filmelier), Miguel Arcanjo Prado (jornalista e diretor do Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo), Simone Zucoloto (jornalista do Canal Brasil) e Tom Farias (jornalista e escritor). Pitanga foi recebido no canal pela presidente da Fundação Padre Anchieta, Maria Angela de Jesus, e pela diretora de jornalismo da TV Cultura, Marilia Assef. O programa ainda contou com desenhos em temo real pelo cartunista Luciano Veronezi. Com uma hora e meia de duração, a entrevista abordou os mais de 60 anos de trajetória do artista, um dos fundadores do Cinema Novo, passando por temas como seu filme recente, a juventude em Salvador da Bahia, sua família, suas grandes referências e a representatividade negra nas artes. O Blog do Arcanjo lista a seguir os principais pontos da entrevista.

Malês

Antonio Pitanga falou sobre o filme Malês, projeto que levou 29 anos para ser concretizado e que Pitanga classifica como o mais importante de seu percurso. O ator explicou que a morosidade na realização do filme se deveu à dificuldade em “dar luz à memória” de um povo esquecido, que é pilar na constituição do Brasil. Ele questionou se o processo teria sido mais rápido e fácil com um diretor e atores brancos. O filme narra a história do levante urbano de negros escravizados no Brasil, revelando que os negros sequestrados da África eram letrados, desconstruindo o imaginário de passividade. O ator enfatizou a missão do filme: interagir com o ensino fundamental e médio e as universidades públicas, pois a juventude brasileira não conhece sua própria história. Para ele, Malês não é um trabalho isolado, mas como a soma e o resultado de todos os filmes que o formaram, contendo a ferramenta e o movimento do Cinema Novo, do qual foi fundador.

Maria Angela de Jesus, Vera Magalhães, Antonio Pitanga e Marilia Assef no Roda Viva © Nadja Kouchi TV Cultura Blog do Arcanjo 2025

Teatro

Pitanga contou que foi Glauber Rocha quem lhe incentivou a estudar Teatro. E disse que admira a nova geração de artistas negros nos palcos.

Manuela Dias

Antonio Pitanga defendeu a escolha da roteirista Manuela Dias para escrever com ele Malês, ressaltando que ela “vestiu a camisa” e se desarmou para fazer o filme dele. Ele ainda a defendeu das críticas pelo remake de Vale Tudo, alegando que os críticos “erraram a tinta” e que a juventude tem o direito de não “fazer a mesma coisa”.

Antonio Pitanga no Roda Viva © Nadja Kouchi TV Cultura Blog do Arcanjo 2025

Capoeira na veia

Pitanga se definiu como um “capoeirista mental” (capaz de manejar a arte da guerra), o que o permitiu sobreviver e se manter atuante em um país de altos e baixos na cultura. Ele afirmou que a cultura foi responsável por lhe dar o passaporte cidadão, que o permitiu ser conhecido e respeitado. Ele lembrou que é o primeiro ator mundial a inaugurar uma maneira de interpretar que não é brechtiana nem stanislavskiana, mas brasileira, forjada na capoeira e em sua criação no Pelourinho. “Ninguém nasce no Pelourinho por acaso”, pontuou.

Cinema Novo

Pitanga recordou que o Cinema Novo surgiu para dar uma identidade genuinamente brasileira ao audiovisual, rompendo o “cordão umbilical colonizador” cinematográfico e não apenas copiando o neorrealismo italiano ou a Nouvelle Vague. Ele participou do movimento como “cabeça pensante”.

Referências negras

Questionado sobre a solidão do ator negro no início de sua vocação, Pitanga citou imediatamente uma gama de referências e parceiros negros que o inspiraram e o apoiaram, como Luiz Gama, Nilo Peçanha, Abdias Nascimento, e Lélia Gonzales.

Antonio Pitanga no Roda Viva © Nadja Kouchi TV Cultura Blog do Arcanjo 2025

Melhor cinema do mundo

Em uma de suas declarações mais expressivas, o ator afirmou categoricamente que o cinema brasileiro atual, considerando as condições econômicas e as dificuldades enfrentadas, “é o melhor cinema do mundo”. Ele vê o presente como um “momento de graça”, com a juventude “criando forças, raízes” e apresentando um novo olhar. Ele vê o público voltando para o “cinemão”.

Apoio à cultura

O ator advogou para que a cultura se torne uma política de Estado — e não apenas de governo —, o que garantiria sua estabilidade e florescimento. Pitanga considera a validação internacional (como a discussão de Malês em universidades americanas) um recado para os governantes brasileiros, mostrando que o país tem o maior potencial cultural do mundo.

Negro no Congresso

Antonio Pitanga, ao falar sobre sua meta de viver até os 110-120 anos, disse que deseja ver o povo negro entendendo a matemática e a força do voto. Ele defende que a comunidade, que representa 54% da população, precisa eleger mais negras e negros para o Congresso e para cargos de decisão, pois “ninguém entra no Congresso andando, alguém votou nele”.

Amizade com Lula

Antonio Pintaga compartilhou detalhes da amizade com o presidente Lula e a emoção de apresentar Malês no Palácio do Planalto, destacando a importância do apoio presidencial ao projeto. Ele contou que quando Lula foi eleito pela primeira vez, juntamente com a primeira dama Dona Marisa, o convidou junto a Benedita da Silva, sua esposa e política, para dormir no Palácio do Planalto. E lembrou que a amizade deles é de longa data, já que a ex-governadora e deputada federal Benedita da Silva é uma das fundadoras do PT.

Família e vida

Ele atribuiu sua postura de não-violência e seu olhar generoso à sua mãe, Maria da Natividade, uma mulher que, apesar de vir de um lugar de escravidão, não lhe ensinou o ódio, mas, sim, o amor. Também contou como foi a experiência de ser “pãe”, e ter criado os filhos Rocco e Camila, sempre com muito diálogo. Ele ainda lembrou o amor por Benedita da Silva, sua grande companheira nesta vida. Pitanga revelou ter uma relação serena com a morte, aprendida com sua mãe, que lhe ensinou que “caixão não tem gaveta” e que não se leva nenhum bem material dessa vida. Ele expressou a crença de que a “plenitude da vida é a morte” e que as pessoas não sabem saborear o momento presente.

Projetos futuros

Antonio Pitanga adiantou seus próximos projetos: a realização de um documentário sobre sua esposa, a ex-governadora Benedita da Silva, e um filme de ficção intitulado 2 de Julho, sobre a independência da Bahia, também roteirizado por Manuela Dias.

Roda Viva com Antonio Pitanga: Miguel Arcanjo mostra bastidores em fotos de Nadja Kouch

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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