★★★★ Crítica: Essa Peça Tem Beijo Gay aborda com sensibilidade os dilemas do amor de dois homens

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
★★★★
Essa Peça Tem Beijo Gay
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
@essapecatembeijo
“Amor, Amor”, soa no Teatro Ipanema. A voz é de Almério na bela canção de Cazuza que abre o filme Bete Balanço, de Lael Rodrigues, de 1984, protagonizado por Débora Bloch — a Odete Roitman do remake de Vale Tudo de 2025. Mas isso é só um flash na cabeça do crítico que entra para ver Essa Peça Tem Beijo Gay. A obra reúne os ótimos atores e dramaturgos potentes Leandro Fazolla e Rohan Baruck, sob comando de Dadado de Freitas, diretor de abordagem inventiva. Em tempos onde a visibilidade nas redes é moeda de troca, inclusive nos relacionamentos, Essa Peça Tem Beijo Gay desarma o sensacionalismo irônico do título com rara sensibilidade para o amor gay, ainda pouco abordado em sua complexidade nas artes. Este é um mértito da peça, proponente de um dilema filosófico-social que expõe a fragilidade da aceitação da homossexualidade, seja da sociedade ou dos próprios gays, ainda atormentados pela homofobia internalizada. A dramaturgia expõe o preconceito e a vigilância que transforma amor em medo. Se no discurso todos parecem a favor da diversidade, no cotidiano, inclusive profissional, é diferente. Dadado de Freitas orquestra o drama com precisão. A iluminação de Ana Luzia Molinari de Simoni, aliada à cenografia de Maurício Bispo, molda o palco como arena de uma intimidade sob ataque. A adorável direção musical de Bèá Ayòóla, os figurinos sexy de Flávio Souza e a ágil direção de movimentos de Maurício Lima fornecem ritmo efusivo à tensão daqueles dois. A referência a O Beijo no Asfalto, clássico de Nelson Rodrigues com o beijo gay pioneiro, é um golpe de mestre. Apesar dos avanços conquistados, a homofobia estrutural segue arraigada. O medo atual é trauma antigo. Essa Peça Tem Beijo Gay transforma a demonstração de amor em ponta de lança de um debate sobre a liberdade de ser quem se é, com fogo e sem segredo.
Recado do Crítico: Essa Peça Tem Beijo Gay merece circular por festivais e realizar temporadas nas principais cidades do Brasil. Público àvido em ver tal história tão pouco contada não faltará.
★★★★
Essa Peça Tem Beijo Gay
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
@essapecatembeijo
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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