Verónica Perrotta, diretora do filme uruguaio Quemadura China, comemora vitória na CineBH: ‘Uma honra’

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial a Belo Horizonte
A atriz e cineasta uruguaia Verónica Perrotta celebra a vitória de seu filme Quemadura China na 19ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, realizada de 23 a 28 de setembro na capital mineira. Ao decidir pelo filme uruguaio, o júri oficial disse que é uma obra que “ousa encarar de frente a fragilidade, lembrando-nos de que os corpos guardam memória e de que, mesmo na perda, pulsa a ternura”, destacando a “a beleza nascida do imperfeito, a ousadia estética e a entrega absoluta de seus intérpretes”, além de ressaltar a maneira como o filme entrelaça “o íntimo com o coletivo, o grotesco com o lírico, o teatral com o cinematográfico, num gesto de radical originalidade”. Logo após a cerimônia de premiação, realizada neste domingo, 28, a realizadora conversou com o jornalista Miguel Arcanjo Prado. Leia a entrevista exclusiva de Verónica Perrotta ao Blog do Arcanjo.

Miguel Arcanjo Prado – Como é ver seu filme Quemadura China vencer a 19ª CineBH?
Verónica Perrotta – É muito lindo, é uma honra. Eu adoro o Brasil e este é meu terceiro prêmio no Brasil. Eu não tenho prêmio no Uruguai, no cinema. E para mim é assim, é super lindo. Sinto muito carinho aqui. Eu não estudei o cinema, mas eu acredito muito no valor dos atores, das atrizes quando trabalham no cinema. É isso aí que eu queria muito favorecer, priorizar no meu filme. E é um filme que fala de amor, de lutas e do processo de criação. Então, achei super lindas as palavras do júri. Quemaduar China foi super bem acolhido em Belo Horizonte. Estou super contente. Super feliz!

Miguel Arcanjo Prado – No seu filme você une teatro e cinema. Como é isso?
Verónica Perrotta – Esse caminho eu já tinha transitado em 2019, porque essa transposição foi feita para a minha tese de mestrado, na Argentina, e depois aí apareceu essa vontade de fazer o filme e conseguimos um primeiro edital, muito pequeno, mas que dava para fazer 11 dias, que foi o tempo em que nós filmamos esse filme. Eu gosto muito do teatro, essa coisa dos ensaios, que eu acho que é muito mais forte, muitas vezes, tem muita mais potência do que muitas vezes acontece no set, no palco, e e eu queria muito captar isso, queria mostrar isso, queria mostrar os corpos bem de perto, ouvir as respirações do elenco, e queria também ao mesmo tempo rir de nós. Então, por isso, quando essa metaficção aparece nesse filme, é para tentar também falar da nossa profissão, e aí eu acho que consegui o melhor elenco que eu poderia conseguir, além do César Trontoso, o mestre do cinema, tem também os outros são todos amigos meus. Quase que toda a equipe da peça continua no filme. Então, é super legal a sensação de que chegamos todos juntos.

QUEMADURA CHINA, de Verónica Perrotta (Uruguai)
Os siameses Annie e Dani enfrentam a separação física, em um ato tão cirúrgico como existencial. Willie, o irmão mais velho que realiza a cirurgia, confessa seu desejo de ser siamês e pede para ser costurado a um deles. As tensões e obsessões do elenco vão se misturando com a ficção fantástica. Enquanto isso, a locação principal ameaça desmoronar.
Miguel Arcanjo Prado – Você esteve no elenco de Whisky, filme de 2004 que abriu muitas portas para o cinema do Uruguai. Como está o audiovisual neste momento em seu país?
Verónica Perrotta – Eu gosto muito do que acontece quando alguém fala do Whisky fora do Uruguai, reconhecendo o filme como você está fazendo agora, porque reforça que é um filme muito valorizado, e é um filme muito lindo. Claro que foi assim, super fundacional no cinema para nós, uruguaios, para a minha geração, eu adoro esse filme. O que acontece agora no cinema uruguaio é que tem muita diversidade, então para mim é muito bom, porque nós estamos dando abertura para fazer coisas diferentes. Quemadura China é um filme super esquisito e acho super lindo que seja assim e tenha ganhado este prêmio na CineBH. Receber esse prêmio foi tipo, que legal! Nesse momento nós estamos na quinta semana em cartaz no Uruguai. E estamos viajando para o interior do país para levar o filme. Quemadura China está indo super bem, abraçado pelo público, por causa da emoção que ele provoca. E achei super lindo isso que está acontecendo. Eu não sabia que ia passar isso, as pessoas escrevendo coisas lindas nas redes sociais. Então, acho que está dentro de um grupo de filmes que estão indo por outros lados, outras buscas, que são super legais. Já temos muitos anos de cinema para podermos nos permitir fazer outras coisas.

Miguel Arcanjo Prado – Você fala português muito bem. Como aprendeu?
Verónica Perrotta – Eu fiz um filme com a Cristiane Oliveira, Mulher do Pai, e ela me pediu para não falar com ninguém em espanhol no set. Tive duas aulas, nada mais, antes de ir para o set. Eu sou de ouvir muita música brasileira e também assisto o Master Chef Brasil. Aí chegou um momento em que eu conseguia entender todas as coisas. E como comecei a viajar com a equipe de Mulher do Pai para apresentar o filme em diferentes festivais, aí eu fui melhorando. Mas eu nunca estudei português. Eu gosto muito do idioma. É muito lindo. Obrigada por dizer que eu falo bem.

Quem é VERÓNICA PERROTTA
Atriz, roteirista e professora. Mestre em dramaturgia (UNA, Argentina). Como atriz: “Mi Mundial”, “Whiskey”, “Mulher do Pai” (Br), “Planta Permanente”(Arg) e “Flacas Vacas”, que também roteirizou. Escreveu e dirigiu, junto a Gonzalo Delgado, “Las toninas van al Este”. Escreveu e dirigiu “Quemadura China”. Pesquisa sobre Pedagogia na Direção de Elenco na Universidade Pública do Uruguai. Kikito no Festival de Gramado e Troféu Redentor no Festival do Rio (2016).
O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viaja a convite da CineBH. Conteúdo produzido em parceria com a Universo Produção. Acompanhe a coberturra da Mostra CineBH!
Editado por Miguel Arcanjo Prado
Siga @miguel.arcanjo
Ouça Arcanjo Pod
Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
© Blog do Arcanjo por Miguel Arcanjo Prado 2025 | Todos os direitos reservados.