Dançarino basco Jon Maya se apresenta no Brasil e revela: ‘Me sinto vivo ao dançar’

O bailarino basco Jon Maya apresenta o espetáculo Desde Mi Rincón como abre-alas da MIACENA – Mostra Internacional de Artes Cênicas em Espaços Não Convencionais e Alternativos © Divulgação Canal Europa Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

O dançarino basco Jon Maya foi fortemente aplaudido, após apresentar seu espetáculo solo Desde Mi Rincón, da Kukai Dantza, no Instituto Brasileiro de Teatro (iBT), em São Paulo, em esquenta da MIACENA – Mostra Internacional de Artes Cênicas em Espaços Não Convencionais e Alternativos, que acontece de 22 de outubro a 1º de novembro, em parceria com Instituto Cervantes e INAEM (Instituto Nacional de las Artes Escénicas y la Musica), com apoio da União Europeia – NextGenerationEU.

Na obra, o artista varia por diferentes estilos coreográficos. Sempre acompanhado do virtuoso acordeonista Iñaki Dieguez — que prestou tributo nominal aos colegas brasileiros Dominguinhos, Sivuca e Hermeto Pascoal na apresentação —, Maya apresentou sua dança como uma ligação íntima entre as memórias de quando começou a dançar, aos seis anos, como parte da resistência cultural do povo basco, e a trajetória que construiu na dança contemporânea.

Para encerrar a temporada paulistana, nesta quarta, 17, às 11h, também no iBT (Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 277), o bailarino fará um encontro com o público com entrada gratuita (retire seu ingresso). Agora, a obra segue para apresentação no dia 20/9 em Porto Alegre e no dia 23/9 no Rio de Janeiro.

Assim que deixou o palco, Jon Maya conversou com o jornalista Miguel Arcanjo Prado, a quem concedeu a seguinte entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo.

Jon Maya em Desde Mi Rincón, da Kukai Dantza (Espanha) © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Você veio com algo muito intimista, uma dança que te conecta às suas raízes e de alguma forma também fala com o brasileiro, que é um povo que dança. Como foi se apresentar em São Paulo?
Jon Maya –
Foi muito bom. A verdade é que ficámos surpreendidos ao encontrar este espaço, antes de mais nada, recentemente inaugurado. Esta manhã foi uma agradável surpresa poder trabalhar aqui e adaptar-me ao espaço e ver como poderíamos nos divertir um pouco neste espaço. E foi ótimo, trabalhamos muito confortavelmente. A reação do público, tendo isso tão perto, além de ter sido curioso de ter isso de uma plateia dos dois lados, o que nos obriga um pouco a se adaptar, a improvisar com isso. Mas foi bom, muito gratificante.

Miguel Arcanjo Prado – É a primeira vez sua em São Paulo? Já esteve antes no Brasil?
Jon Maya –
Viemos ano passado com outra proposta, neste caso para o festival Mirada, do Sesc, em Santos, com Cruzade, que apresentamos no Teatro Guarany de Santos. Foi minha primeira vez que tocamos no Brasil. E que bom, um ano depois, estarmos aqui novamente, em São Paulo. E agora vamos para Porto Alegre e para o Rio de Janeiro também.

O bailarino basco Jon Maya e o jornalista Miguel Arcanjo Prado logo após a apresentação de Desde Mi Rincón no iBT pela MIACENA © Adriana Balsanelli Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Você dá vários saltos no espetáculo. Com seu joelho aguenta?
Jon Maya –
Você pegou meu ponto fraco, os joelhos, sim, bem, sim… Quando eu era bem novinho, vinte anos, assim, tive que fazer uma cirurgia no joelho e, desde então, sempre fui me tratando e me cuidando muito por causa do desgaste dos joelhos. Mas está tudo bem. Procuro me cuidar, proteger ele, boa alimentação, treino e muito cuidado. Procuro me cuidar, mas não treino muito para não sobrecarregar e para que a situação fique boa. Já estamos comemorando alguns aniversários, e o que posso te dizer é que a dança me faz muito bem e me sinto muito vivo ao dançar.

Miguel Arcanjo Prado – No mercado artístico do Brasil a gente tem falado muito do etarismo. Porque o ator envelhece e não consegue mais papéis. O mesmo acontece com o bailarino, não é? Você, com este espetáculo, quer mostrar que qualquer corpo pode dançar?
Jon Maya –
Com certeza. Todos nós temos algo a contar através da palavra ou do nosso corpo. Eu sempre disse que alguém que é dançarino, é dançarino para sempre, independentemente da idade. Então, quando fui envelhecendo, percebi que agora é a minha vez de colocar isso em prática. Sempre achei isso, então agora é a minha vez de fazer. E é assim mesmo. É claro que não faço o mesmo que fazia aos vinte anos, mas agora posso fazer muitas mais coisas que não fazia aos vinte anos. A experiência, o sentir, o compreender a cena, o apropriar-se da cena. A experiência também nos traz algo e temos sempre algo para contar, sempre.

Miguel Arcanjo Prado – Seria indelicado da minha parte perguntar-lhe a sua idade?
Jon Maya –
Não, que isso. Nasci em 1977, vou fazer 48 anos em breve.

O bailarino basco Jon Maya e o jornalista Miguel Arcanjo Prado logo após a apresentação de Desde Mi Rincón no iBT pela MIACENA © Adriana Balsanelli Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Você acredita que sua dança inspira muitas pessoas que já dançaram, seja na infância ou na adolescência, e que a vida foi levando para outros caminhos, a voltar a dançar e se reconectar com essa expressão?
Jon Maya –
Bem, acredito que pode haver pessoas que se conectem com suas raízes, com seu interior, e queiram se expressar através do corpo e da palavra. Todo mundo tem sua história e pode contá-la. Então, acredito que a dança é sempre uma ótima forma de expressão.

Miguel Arcanjo Prado – É por isso que você convida o público para dançar?
Jon Maya –
Minha obra fala sobre a dança popular e acredito que uma parte importante da expressão popular é justamente compartilhar a dança com a comunidade. Por isso, eu queria terminar em comunidade, com uma dança coletiva. E assim foi.

Agradecemos: Adriana Balsanelli, André Acioli, Dani Angelotti e Thiago Albanese.

JON MAYA
bailarino basco, Espanha
Começou a dançar aos seis anos de idade com Ereintza Dantza Taldea, de Errenteria. Recebeu sua formação principal em dança tradicional e, a partir daí, trabalhou em seus projetos. Como solista, foi sete vezes campeão do Aurreskularis de Euskal Herria entre 1997 e 2005. Entre 1999 e 2001, integrou o grupo Laxok e, após esse projeto, em 2002, fundou a companhia Kukai. Desde então, atua como dançarino, coreógrafo e diretor nesta companhia, explorando os caminhos entre a dança tradicional e a contemporânea e colaborando com diversos artistas. Assim colaboraram Mireia Gabilondo, Cesc Gelabert, La intrusa Danza, Pantxika Telleria, Iker Gómez, Jone San Martín, Israel Galván, Logela Multimedia, Oreka Tx, Orquesta Sinfónica de Euskadi, Juan Mari Beltrán, Carlos Núñez, etc. Desde 1997 é professor na Escola de Música e Dança da Errenteria Musikal e também ministra aulas na Ereintza Dantza Taldea. Além disso, ofereceu vários workshops coreográficos tanto no País Basco como em cidades e festivais estrangeiros.
@mayaseinjon

Desde Mi Rincón

FICHA TÉCNICA
Bailarino: Jon Maya
Músico: Iñaki Dieguez
Coreografia: Cesc Gelabert, Israel Galván, Sharon Fridman e Jon Maya
Composição musical: Luismi Cobo e Julen Achiary
Técnico de som: Miguel Alonso
Coordenação técnica: David Bernués
Produção e coordenação: Doltza Oar-Arteta

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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