Afonso enfrenta leucemia em Vale Tudo e especialistas explicam a doença

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

A novela Vale Tudo trouxe à tona um debate delicado sobre o direito do paciente de recusar ou adiar um tratamento contra o câncer. Na trama, o personagem Afonso (Humberto Carrão) descobre que tem leucemia e decide não iniciar o tratamento até que seja encontrado um doador de medula compatível, mostrando os desafios emocionais e éticos de lidar com uma doença grave. 

Impacto emocional

O psicólogo da Blue Clin Tomás Machado destaca que não há uma única forma de reagir a um diagnóstico tão sério: “Ao receber uma notícia como essa, cada pessoa reage de maneira diferente. Alguns se isolam, outros buscam apoio em familiares, mas não existe uma fórmula única de lidar com o impacto emocional do câncer.”

Sofrimento

O oncologista Dr. Jorge Abissamra Filho, especialista em Oncologia Clínica, alerta que cada dia de atraso em um tratamento como a quimioterapia representa um risco de progressão da doença, mas reconhece que a dimensão emocional não pode ser ignorada: “O papel da equipe médica é acolher o sofrimento, oferecer suporte e mostrar que cada etapa do tratamento traz benefícios reais.” 

Autonomia

Já a psicóloga Amanda Batista reforça a importância de respeitar a autonomia do paciente: “Respeitar a decisão do paciente é essencial, mesmo que isso cause dor aos familiares. A dignidade também está em poder escolher como viver e enfrentar o processo de adoecimento.”

Cura

Na trama, a espera pelo doador compatível de medula aumenta a tensão e evidencia o dilema entre qualidade de vida e chance de cura. Familiares e amigos se dividem entre apoiar a decisão de Afonso ou insistir no início imediato do tratamento, mostrando como o câncer afeta não só o paciente, mas todo o entorno.

Proteção emocional

Dr. Abissamra observa que a decisão de Afonso também representa um mecanismo de proteção emocional:“O paciente cria uma espécie de barganha interna, condicionando o tratamento à perspectiva concreta de sucesso, o que é compreensível do ponto de vista psicológico, mas perigoso clinicamente. Cada passo do tratamento traz benefícios reais, e a equipe médica deve mostrar que a esperança e o cuidado caminham juntos.”

Identidade

Segundo os especialistas, a doença é frequentemente encarada pelos pacientes não apenas como uma sentença de morte, mas também como uma perda de autonomia, independência e até de identidade. Alguns indivíduos optam por preservar a própria qualidade de vida em detrimento do processo de cura. Nesses casos, cabe aos familiares oferecer suporte e, caso a decisão de interromper ou não iniciar o tratamento permaneça, compreender que o paciente é o principal protagonista de sua própria vivência.

Números

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que, entre 2023 e 2025, o Brasil registre aproximadamente 11.540 casos novos de leucemia por ano, o que equivale a uma taxa de incidência de cerca de 5,33 casos por 100 mil habitantes. Desses, cerca de 6.250 casos ocorrem em homens e 5.290 em mulheres. A leucemia é um tipo de câncer hematológico que afeta a medula óssea e as células sanguíneas. Ela ocupa a décima posição entre os tipos de câncer mais frequentes no país, excluindo os tumores de pele não melanoma. 

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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