Dois Papas chega ao Cultura Artística sob fortes aplausos a Celso Frateschi e Zécarlos Machado

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
O espetáculo teatral Dois Papas, sob minuciosa direção de Munir Kanaan para o texto de Anthony McCarten vem fazendo um ano glorioso. Após o sucesso na temporada de estreia no Sesc Guarulhos e Sesc Santo Amaro, a obra idealizada por Munir Kanaan e Rafa Steinhauser abriu a retomada da programação teatral na sala principal do Cultura Artística, importante espaço cultural da metrópole, reaberto há um ano, após ficar fechado por 16 anos desde o trágico incêndio de 2008. Assim, Dois Papas retoma o teatro na sala principal do espaço que marcou a cultura brasileira ao longo dos seus 112 anos de existência. Agora é a vez dos grandes atores Celso Frateschi e Zécarlos Machado, ambos indicados ao Prêmio APCA pela atuação nesta peça, fazerem história neste consagrado palco ao lado das excelentes atrizes Carol Godoy e Eliana Guttman em Dois Papas.
Celso Frateschi e Zécarlos Machado interpretam respectivamente o cardeal Jorge Bergoglio (futuro Papa Francisco) e o Papa Bento XVI em uma trama de confronto de ideias de dois homens com visões de mundo diferentes, além de mostrar um respeito e amizade entre ambos. A produção é da Gengibre Multimídia e Zug Produções. A temporada vai até 13 de setembro com sessões sempre sexta e sábados, às 20h, e domingos, às 18h. Compre seu ingresso!


Duas visões
Com toques de humor, a história traz, de um lado, um refinado teólogo representante da tradição e dos velhos costumes da Igreja; do outro, um religioso carismático e com fama de rebelde disposto a construir pontes com as mudanças do mundo moderno. O cardeal argentino Jorge Bergoglio está decidido a pedir sua aposentadoria devido a divergências sobre a forma como o Papa Bento XVI tem conduzido a Igreja. No entanto, ele é surpreendido por um convite pessoal que mudará seu destino: um encontro com o próprio Papa.

Segredos revelados
Bento XVI considera renunciar ao papado diante das crescentes pressões e desafios enfrentados pela Igreja. Enquanto isso, Bergoglio, prestes a anunciar sua própria saída, torna-se um candidato improvável à sucessão. Agora, juntos, eles precisam superar suas diferenças e encontrar um novo caminho. Nesse encontro fascinante, visões de mundo se confrontam, segredos são revelados e a trama toma um rumo inesperado, levando Bergoglio a uma decisão que pode mudar não apenas o destino da Igreja, mas também o de sua própria vida.
Quatro Papas?
“Em cena, é como se estivessem quatro papas. Temos, em segundo plano, o Papa Bento XVI e o futuro Papa Francisco — os papas públicos, conhecidos pelos grandes eventos e cerimônias, vistos pela TV e pela internet. E temos o mais interessante, o que busquei iluminar: a intimidade desses dois homens, o cotidiano, aquilo que não vemos na mídia. A possibilidade do diálogo é o que move essa história — são duas visões de mundo completamente diferentes. Bento XVI é mais conservador, mas é ele quem chama Bergoglio para conversar. E Bergoglio, apesar de ser um homem mais aberto, chega hesitante para ter esse papo reto. São as complexidades desse encontro que conduzem o diálogo sobre a necessidade de mudanças”, enfatiza o diretor Munir Kanaan.
Direção de arte primorosa
A montagem possui uma série de recursos que contribuem visualmente para contar a história no palco. O cenário é uma instalação cênica onde predomina o branco, ganhando camadas por meio das cores dos figurinos religiosos ou de vestes do cotidiano, e dos objetos em cena. Os artifícios cenográficos constroem/desconstroem ao trazer cenas sacras e, principalmente, os momentos mais íntimos dos personagens. O videomapping busca trazer informações documentais, além de agregar uma força estética em um dos encontros mais emblemáticos entre os protagonistas. Já a trilha sonora tem como missão criar as ambientações e compor as transições.

Papa Bento XVI
“A cidade treme com vozes discordantes – marxistas, liberais, conservadores, ateus, agnósticos, místicos – e em cada peito o grito universal: “Eu falo a verdade!”. Essa é uma das frases do Papa Bento XVI que mais impressiona Zécarlos Machado em seu papel. Para o ator, a ideia do texto dialoga em cheio com a contemporaneidade. Bento XVI, ou Joseph Ratzinger, é um homem que tem responsabilidades enormes, pois a Igreja tem bilhões de fieis, um líder com responsabilidades maiores que certos presidentes de alguns países.
Ele é um homem com suas virtudes e contradições dentro do mundo religioso. Está em um momento de fragilidade física diante desse cargo que exige tanto. Apesar de ser um intelectual, ele tem muito humor, características que vão humanizando essa figura. Estamos em uma época em que cada um tem sua verdade. As discordâncias se acirram e se tornam, inclusive, violentas. Se tornam perversas, desrespeitosas, doentias, trazendo uma noção de desumanidade em altíssimo grau. As vozes são discordantes de Bento XVI e de Francisco, mas quando se reconhece o lado humano e se tem uma boa vontade, é possível encontrar um caminho em que a humanidade, de fato, se estabeleça. É uma peça que nos leva a um processo de avaliação desse mundo caótico atual.”

Papa Francisco
Celso Frateschi encarna o cardeal argentino Jorge Bergoglio e volta a trabalhar com temas que permeiam a Igreja Católica, como ocorreu nas peças O Grande Inquisidor (adaptação de um trecho do romance Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski) e Processo de Giordano Bruno (texto do italiano Mário Moretti). O ator reforça que Dois Papas é bem construído dramaticamente e abre questões filosóficas que não ficam restritas somente ao mundo religioso. “São visões de mundo completamente diferentes, por mais que ambos sejam da mesma religião. Essa dramaturgia acaba falando de nós nesse exato momento em meio às discussões envolvendo polarização.”
Para construir o seu personagem, Frateschi relembra de sua criação católica que dialoga bem com as diretrizes do futuro Papa Francisco na peça. “Ele é um homem que retomou os rumos da Igreja, não tem nenhum limite em avaliar a si mesmo com transparência, possui uma capacidade de mudança e transformação, características que vão continuar durante o seu papado.”
Ambos os papas são cercados por personagens femininas que fazem parte de suas escolhas na tomada de decisões. Carol Godoy vive a Irmã Sophia, uma jovem freira argentina que teve sua trajetória transformada pelos ensinamentos do cardeal Jorge Bergoglio. Já a Irmã Brigitta é uma editora de livros religiosos, intelectual e amiga mais próxima de Bento XVI, que conhece suas angústias diante das pressões do cargo.
Reencontro nos palcos
Dois Papas marca um reencontro de Celso Frateschi e Zécarlos Machado nos palcos. A dupla esteve junta em Santa Joana, de Bernard Shaw, direção de José Possi Neto na década de 80. Os dois atuaram juntos na TV em alguns episódios da série Sessão de Terapia, exibida originalmente pela GNT.
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Histórico da peça
A peça teve sua estreia mundial em junho de 2019, no Royal & Derngate Theatre, na Inglaterra, a partir de seu livro homônimo; e também ganhou versão cinematográfica adaptada pelo próprio autor, produzida pela Netflix, com direção do brasileiro Fernando Meirelles. O filme recebeu 3 indicações ao Oscar, 4 indicações ao Globo de Ouro e 5 indicações ao BAFTA, incluindo nas 3 premiações Anthony McCarten na categoria de melhor roteiro.
Cultura Artística
Reinaugurado em agosto de 2024, depois de 16 anos fechado devido a um incêndio, o Cultura Artística teve projeto assinado pelo arquiteto Paulo Bruna, que preservou os espaços históricos do antigo edifício e, ao mesmo tempo, apontou para o futuro, com a atualização das salas de espetáculo e áreas de circulação. Na temporada inicial, o espaço focou a sua atuação em música, agora, expande a programação para receber espetáculos das mais diversas linguagens, incluindo os teatrais, vocação que fez parte de sua história e marcou diversas gerações.
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DOIS PAPAS
Ficha Técnica
Idealização: Munir Kanaan e Rafa Steinhauser.
Dramaturgia: Anthony McCarten.
Tradução: Rui Xavier.
Direção: Munir Kanaan.
Diretor assistente: Gustavo Trestini.
Elenco:
Celso Frateschi (Cardeal Bergoglio, futuro Papa Francisco).
Zécarlos Machado (Papa Bento).
Carol Godoy (Irmã Sofia).
Eliana Guttman (Irmã Brigitta).
Participação em vídeo: Rafa Steinhauser.
Produção: Gengibre Multimídia e Zug Produções.
Direção de Produção: Carol Godoy.
Consultoria administrativa: Dani Angelotti (Cubo Produções)
Iluminação: Beto Bruel.
Assistência e operação de luz: Rodrigo Silbat.
Arquitetura cenográfica: Eric Lenate.
Adereços e produção de objetos: Jorge Luiz Alves.
Contrarregras: Rodrigo Caetano e Rui Xavier.
Trilha sonora original e desenho de surround: Dan Maia.
Instalação técnica de áudio e mixagem da trilha sonora no espaço cênico: L.P. Daniel.
Direção de imagem e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo).
Figurino: Carol Roz.
Camareira: Liduina Aires.
Estagiária: Tori Moraes.
Fotografia e criação: Ale Catan.
Programação visual e criação: Carlos Nunes.
Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.
Realização: Gengibre Multimídia e Zug Produções.
Apoio Cultural: La Serenissima, Nieto Senetiner, Cultura Artística e Cannal Midias Digitais.
Serviço
DOIS PAPAS
Cultura Artística: Rua Nestor Pestana, 196 – Consolação, São Paulo – SP, 01301-010
Temporada: de 22 de agosto a 13 de setembro, sexta e sábados, às 20h, e domingos, às 18h. Capacidade: 580 lugares.
* Não haverá apresentação no último domingo, dia 14.
Preço: De R$ 100 a 180 (inteira) e de R$50 a R$ 90 (Meia)
Link de Compras: https://doispapas.byinti.com/#/event/dois-papas
Duração: 120 minutos.
Classificação: Livre.
Indicação: 14 anos.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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