Chatô, o homem do futuro, é tema de espetáculo que une história, músical e romance

Por LUCAS GENTIL
Especial para o Blog do Arcanjo*
Dar vida às estátuas de bronze, que retratam nossos ilustres personagens, é o desejo de todo amante da história como eu. É como ter aquela sensação que toda criança sente ao se deparar com um artista de rua dando vida a uma, em qualquer praça turística, mundo afora. O desbunde é o mesmo. A escolha desse recurso narrativo é um grande acerto do autores Eduardo Bakr e Fernando Morais e da direção do Tadeu Aguiar no musical Chatô e os Diários Associaçõs – 100 Anos de Paixão, em cartaz no Teatro Liberdade, em São Paulo.

Sob o sol e o som de Olinda (e por que não uma cidade da Paraíba? Talvez porque a cidade pernambucana seja a “capital lúdica” desse Império Nordestino), o paraibano Assis Chateaubriand desperta e convida um jornalista-folião para um passeio pela história da comunicação, no século passado, nesse país. Nessa viagem, assistimos à criação da Revista Cruzeiro, a Era do Rádio, a chegada da TV Tupi e a formação sui generis do acervo do MASP.
Stepan Nercessian, que já viveu outro “monumento” nos palcos, o Chacrinha, encarna agora Chatô, o homem que descascava qualquer abacaxi, enquanto conectava o país. Certamente, é uma interpretação definitiva do personagem, digno de uma estátua de bronze no meu imaginário Museu do Teatro.

O elenco conta também com Cláudio Lins, em plena maturidade artística, de mãos dadas com a “gracinha” da Aline Serra, com quem vive um romance açucarado, como os anos 1950. Ela é dona de uma voz que parece ter saído de um clássico da Disney.
O humor também bate cartão no escritório dos Diários Associados. Caio Giovani não perde oportunidade de nos faz rir e Sylvia Massari, dona de uma beleza eterna, como se precisasse, ainda faz a gente sorrir com os olhos, do jeitinho que ela faz, e se não bastasse, seu canto pega a gente pela mão e leva pra passear pelas praças da memória, ao cantar Édith Piaf e Dalva de Oliveira.

A história de Assis Chateaubriand, o homem que foi patrão até de Carmen Miranda, se confunde com a história da comunicação no Brasil. E, se tem Brasil, século passado e comunicação, tem censura. No final do segundo ato, Chatô cede o protagonismo para o enfoque político, mas, ao mesmo tempo, penso que em um país sem cultura de memória, contar essa história, é de fato, um ato político.
Para quem quer a combinação perfeita de história, música e romance, Chatô e os Diários Associados – 100 anos de Paixão, está em cartaz no Teatro Liberdade, em São Paulo, até 17 de agosto.
*LUCAS GENTIL é diretor artístico e escreveu este texto a convite do Blog do Arcanjo. @lmgentil
Blog do Arcanjo mostra elenco de Chatô no camarim em fotos exclusivas!























Editado por Miguel Arcanjo Prado
Siga @miguel.arcanjo
Ouça Arcanjo Pod
Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
© Blog do Arcanjo por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.