Alexandre Brazil fala sobre peça ORioLEAR, que nasce do desejo de salvar a Amazônia: ‘Ainda dá tempo’

O produtor teatral Alexandre Brazil © Ronaldo Gutierrez Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

O produtor teatral Alexandre Brazil estreia nesta quinta, 31 de julho, sua nova peça: ORioLear, que tem como tema a preservação das terras da Amazônia. A montagem faz curta temporada gratuita até 17 de agosto, de quinta a domingo, no Itaú Cultural da Avenida Paulista 149. A dramaturgia é inspirada no clássico Rei Lear, de William Shakespeare, e é assinada por Newton Moreno, também responsável pela direção nesta produção que é fruto de parceria da Heroica Companhia Cênica com o Escritório das Artes, que completa 20 anos sob comando de Alexandre Brazil. A seguir, o diretor de produção fala a Miguel Arcanjo, nesta entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo, sobre o espetáculo, a profunda relação que ele tem com a obra de William Shakespeare e o desejo de preservar a Amazônia: “Ainda dá tempo”. Leia o bate-papo.

Miguel Arcanjo Prado – O que lhe atrai tanto à obra de Shakespeare? Qual o papel da dramaturgia shakespeariana na sua trajetória artística?
Alexandre Brazil –
Quanto à minha atração por Shakespeare, posso dizer que é até difícil expressar em palavras. Desde o início da minha vida no teatro, fui apresentado à sua obra. Confesso que, no começo, seus textos me pareceram difíceis — era um desafio transpor suas palavras para a língua portuguesa e, mais ainda, colocá-las no palco. Mas, aos poucos, fui entendendo que Shakespeare é uma engrenagem: quando compreendemos seu funcionamento, um mundo se abre diante de nós. E foi aí que me apaixonei — um casamento que já dura mais de vinte anos.

Miguel Arcanjo Prado – Qual o papel da dramaturgia shakespeariana na sua trajetória artística?
Alexandre Brazil –
Shakespeare, em minha trajetória artística, foi e continua sendo uma bússola. Até aqui, montei mais de cinquenta espetáculos, sendo nove deles de Shakespeare. Costumo me balizar por ele quando vou montar outros autores — e não foram poucas as montagens não shakespearianas. Por exemplo, para 2026, estou preparando a montagem da peça Rumo a Palmares, de Samir Yazbek.

Miguel Arcanjo Prado – O que Shakespeare te deu?
Alexandre Brazil –
William Shakespeare me proporcionou algo além dos textos: ele me conectou com pessoas incríveis, que muito me ensinaram sobre nossa arte sagrada — o teatro. Montar Shakespeare não é apenas montar um espetáculo, é uma experiência de vida para nós que fazemos teatro e, certamente, para o grande público. Costumo dizer que Shakespeare me dá sorte!

Ronny Abreu e Leopoldo Pacheco estão no elenco de ORioLEAR no Itaú Cultural © Leekyung Kim Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Nesta peça, ORioLEAR, o clássico Rei Lear dialoga com as questões das terras na Amazônia. Como você vê essa conversa?
Alexandre Brazil –
Tenho repetido muito isso: apesar da admiração que sempre tive pela obra Rei Lear, nunca imaginei que o enredo da peça de Shakespeare pudesse se encaixar tão bem numa transposição para o Norte do Brasil, com seus conflitos de terra — um dos temas centrais da peça original. A destreza e a poesia de Newton Moreno tornaram possível e crível esse diálogo entre o Rei Lear, com todas as suas questões europeias e medievais, e ORioLEAR, que traz as questões brasileiras e latino-americanas. É uma beleza que muito me orgulha.

Miguel Arcanjo Prado – Como é trabalhar em parceria com o Newton Moreno?
Alexandre Brazil –
Newton Moreno é uma verdadeira criatura humanista, um talento raríssimo. Eu já cultivava essa parceria há muito tempo, e a alegria de concretizar minha décima montagem de Shakespeare, justamente nos vinte anos do meu espaço de criação e produção, o Escritório das Artes, é algo que confesso não imaginava que viveria  essa felicidade no meu percurso teatral.

Miguel Arcanjo Prado – E como é trabalhar com este elenco?
Alexandre Brazil –
O elenco é um verdadeiro sonho para qualquer produtor de teatro: Leopoldo Pacheco, Sandra Corveloni (com quem trabalhei nos anos 2000), Michelle Boesche, Simone Evaristo, Jorge de Paula, Ronny Abreu — nosso ator indígena, que é uma honra ter conosco — e José Roberto Jardim. Todos são intérpretes com quem sempre quis compartilhar um trabalho, e mais uma vez me sinto realizado por convergir com eles neste momento tão especial da minha carreira.

Miguel Arcanjo Prado – Qual é o principal recado deste espetáculo?
Alexandre Brazil –
Ainda dá tempo! Ainda dá tempo de construirmos um mundo magnífico, com uma sociedade mais amável e colaborativa. A floresta nos ensina tanto, e que privilégio temos nós, brasileiros, de contar com a Amazônia. Vamos transformar o desejo em ação e agir pela conservação dessa maravilha da natureza.

ORioLEAR
31 de julho a 17 de agosto de 2025
de quinta a sábado às 20h
domingos às 19h
Sala Itaú Cultural – 224 lugares
Av. Paulista 149, São Paulo
Com interpretação em Libras
150 minutos
16 anos
Entrada gratuita
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Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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