CineOP celebra Carmen Miranda e Rita Lee em edição histórica
Por VIVIVANE PISTACHE
Especial para o Blog do Arcanjo
O terceiro dia da 20ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto foi uma sexta-feira de programação de caráter histórico. Já pela manhã, a mesa de debate Cinema e Preservação: A alma viva do Cinema trouxe figuras na linha de frente da articulação entre cinema, educação e política com a presença de figuras-chave na articulação dessas dimensões, a exemplo de Joelma Gonzaga, Secretária Nacional do Audiovisual, Paulo Alcoforado, diretor da ANCINE, Jandira Feghali, deputada federal pelo PCdoB, Luciano Campos, reitor da UFOP, Cesar Callegari, presidente do Conselho Nacional de Educação e Durval Ângelo, conselheiro presidente do TCU-MG. Cumprindo sua vocação de atuação interdisciplinar, Jandira Feghali lançou o livro Cultura é Poder – reflexões sobre o papel da cultura no processo emancipatório da sociedade brasileira.
Ainda pela manhã, houve uma mesa de debate bastante notável, sobre diretoras que se arriscam na comédia. Um encontro de diferentes gerações e lugares de fala, com a presença da veterana Sandra Kogut e de diretoras que vieram na esteira histórica, a exemplo de Gisella Mello e Fernanda Chicolet. Além da consciência dos desafios de ser mulher dirigindo comédia, a mesa adensou as complexidades a partir dos debates de raça e sexualidade, a partir de Sabrina Fidalgo, que já é referência como mulher negra e diretora, Clara Anastácio, diretora negra e lésbica, proponente de uma dramaturgia neocolonial, e biarritz cuja obra provoca os limites cis-gêneros da tradição curtametragista nacional.
Dentre os destaques da parte da tarde, certamente estão o lançamento da rede nacional de arquivos e acervos pelo SAV/Minc, o debate em homenagem às trajetórias de João Luiz Vieira e Maria Angélica dos Santos na construção da CineOP.
Um dos momentos mais emocionantes da programação da tarde foi o debate sobre os 20 anos da CineOP. A fala de abertura foi de Raquel Hallak, que fez um histórico da sua vida profissional, desde os tempos de São João del-Rei, quando era uma jovem comunicadora e idealizadora do Ação Global da Rede Globo local.
A produtora executiva da Universo Produções contou sobre a aposta na criação da Mostra de Cinema de Tiradentes, que sequer existia no imaginário brasileiro como uma opção para além de destino turístico do circuito colonial. Tão ousado quanto a criação da Mostra Tiradentes foi a criação da CineOP, duas décadas atras, considerando que o desafio de acesso e preservação da memória material do nosso cinema era cronicamente mais aguda.
Em sua fala, Raquel teceu nomes e estratégias necessárias para viabilizar um festival com a vocação da CineOP.
Eu ouvi a fala de Raquel ao lado de um jovem, porém já experiente diretor, o sergipano Fábio Rogério, que trabalha na UFSCAR e como ele ainda não é tão habitué da CineOP, ele estava bem surpreso com a força visionária de Raquel Hallak.
A mesa contou ainda com falas bem técnicas de especialistas como a da museóloga e conservadora audiovisual Fernanda Coelho e a da Débora Bruce, referência nacional na restauração de filmes e que ocupa a vice-presidência da ABPA, a entidade nacional que representa profissionais da preservação audiovisual.
Débora se emocionou ao lembrar-se de uma foto exposta no hall do Centro Convenções de Ouro Preto na terceira edição da CineOP em que estava com sua filha recém-nascida e hoje adolescente.
As falas seguintes foram completamente tomadas pela emoção ao rememorar a figura da professora Inês Teixeira da Faculdade de Educação da UFMG. A professora Milene Gusmão da Universidade Estadual da Bahia relembrou sua atuação com a professora Inês Teixeira na criação da Rede Kino, e Wenceslão Oliveira arrebatou a audiência com sua carta histórico-poética dedicada à saudosa Inês Teixeira. Das muitas lembranças dessa mesa, certamente está também o charmoso imã de geladeira como outro brinde para quem presenciou esse momento.
A sequência da programação foi uma oportunidade única de revisitar filmes raros, como os curtas de Curitiba que datam de 1912 a 1920 ou ainda os curtas em comemoração aos 40 anos do CTAv e a celebração dos 10 anos da Cinemateca Capitólio e outros curtas restaurados.
A Praça Tiradentes ecoou gargalhadas com a exibição da cópia restaurada de Alô! Alô! Carnaval! filme de Adhemar Gonzaga de 1936 que termina com a icônica cena em que Carmem Miranda e sua irmã Aurora Miranda performam a canção Cantoras do Rádio. A exibição deste filme está na programação em comemoração aos 95 anos da Cinédia, que conta com a presença de Alice Gonzaga filha do Adhemar Gonzaga, sendo assim herdeira e guardiã da memória da Cinédia. Um parêntese: Alice Gonzaga é um acontecimento ambulante no festival. Com sua voz alta e irreverência, nunca passa despercebida.
Quem esteve na CineOP nesta sexta-feira viveu um maravilhoso problema: o congestionamento de longas incríveis como Itatira de André Luiz Garcia, Meu Pai e Eu de Thiago Moulin, O Silêncio de Eva, dirigido por Elza Cataldo, que resgata a história de Eva Nil, atriz do cinema mudo nacional. A investigação em torno dessa figura conta com a atuação de Inês Peixoto, atriz de longa caminhada na cena teatral belorizontina junto ao Grupo Galpão ou ainda o concorrido Ritas, biopic da rainha do Rock dirigido por Oswaldo Santana e Karen Harley. A obra de Rita ainda embalou a noite com o show de Ana Cañas cantando seu repertório. Uma programação que reúne Carmem Miranda e Rita Lee é certamente histórica.
Fim de semana de festejos populares na 20ª CineOP
A 20ª CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto realizou neste fim de semana em Ouro Preto duas grandes festejos populares. No sábado, o Cortejo da Arte desfilou pela Praça Tiradentes e Rua Direita, arrastando uma multidão. Já no domingo foi a vez da Festa Junina da CineOP agitar o Centro de Convenções de Ouro Preto. Afinal, cinema combina com festa!
*Viviane Pistache é preta das Minas Gerais, pesquisadora, roteirista e, de vez em quando, crítica de cinema. Viajou a convite da 20ª CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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