Raquel Hallak celebra 20ª CineOP e fala dos desafios de criar e manter a Mostra de Cinema de Ouro Preto

Por VIVIVANE PISTACHE
Especial para o Blog do Arcanjo
A CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto completa duas décadas de história. Na última sexta, 27 de junho, no Centro de Convenções da cidade, um encontro com participantes da história da Mostra ofereceu uma oportunidade para revisar o percurso e projetar o futuro do evento.
A CineOP surgiu em 2006. Seu propósito era lidar com o acesso a produções brasileiras, especialmente as históricas, e promover a preservação como ponto central do patrimônio cultural.
Raquel Hallak, diretora da Universo Produção, foi quem teve a ideia do evento. Ela lembrou o cenário da criação, com inspiração na Mostra de Cinema de Tiradentes, iniciada por ela em 1998. “Eu não conhecia a preservação nem sua importância. A professora Inês Teixeira trouxe essa proposta: ‘Vamos fazer uma edição anual, igual um encontro de arquivos’”, contou Hallak. Ouro Preto, uma cidade histórica com reconhecimento internacional, foi escolhida para sediar o projeto.
A escolha da cidade reforçou a ideia de “cinema patrimônio”. O evento se desenvolveu, reunindo técnicos, herdeiros do nosso patrimônio audiovisual e instituições ao longo de 20 anos, em um esforço para proteger a memória cinematográfica brasileira.
Hallak também citou que a mostra acolheu momentos marcantes, como a reunião das famílias de Glauber Rocha e Rogério Sganzerla na terceira edição.
Fernanda Coelho, conservadora e museóloga, observou o desenvolvimento técnico do setor nas últimas duas décadas. Ela apontou a CineOP como um elemento central na formação de uma rede de preservação. “É muito diferente os debates que a gente tinha no começo e os que temos hoje”, afirmou.

A criação da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) em 2008, durante a mostra, e a elaboração do Plano Nacional de Preservação Audiovisual representam acontecimentos significativos. A mostra se tornou um “ninho” para pessoas que atuam na preservação e na educação.
Débora Butruce, vice-presidente da ABPA, sublinhou a importância de eventos como a inclusão da disciplina de preservação audiovisual no curso de cinema da UFF em 2000 e o Censo Cinematográfico Brasileiro, que permitiu o primeiro diagnóstico de acervos. “A CineOP proporcionou um espaço de reconhecimento mútuo, onde profissionais enfrentam desafios comuns em um trabalho muitas vezes invisibilizado”, defendeu ela.
Apesar dos progressos, persistem desafios. A instabilidade do setor e a dificuldade em obter recursos são exemplos. Raquel Hallak destacou a busca constante por patrocínios para viabilizar o evento. “É uma aventura que custa a nossa saúde, são 20 anos de dedicação, porque a gente nunca tem certeza de nada”, pontuou.
No entanto, essa persistência, quando bem-sucedida, traz a recompensa da preservação e da educação, nas palavras de Fernanda Coelho. Raquel Hallak defendeu que se deve acreditar “no poder que o cinema tem de nos representar, de dizer quem nós somos”.
*Viviane Pistache é preta das Minas Gerais, pesquisadora, roteirista e, de vez em quando, crítica de cinema. Viajou a convite da 20ª CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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