Michael Jackson morreu há 16 anos, em 25 de junho de 2009, deixando vácuo na música mundial

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Há 16 anos, em 25 de junho de 2009, o mundo parou. Não era um conflito global ou um desastre natural, mas a notícia da morte de Michael Jackson que se espalhava como um lamento por todos os cantos do planeta. Naquele dia, São Paulo, assim como tantas outras metrópoles do mundo, viu o cotidiano congelar por um instante. Logo, “Billie Jean” e “Thriller” ecoaram imediatamente pelas rádios e pelas casas, atestando que Michael Jackson, o Rei do Pop, não era apenas um músico; era um fenômeno cultural que atravessou fronteiras, gerações e, de certa forma, a própria percepção humana da arte.
Sua biografia, um intrincado mosaico de genialidade e tormento, começa em Gary, Indiana, em 29 de agosto de 1958. Michael Joseph Jackson era o sétimo de nove filhos de Joseph e Katherine Jackson, uma família operária que vivia à sombra das asperezas de uma infância marcada por disciplina férrea e, para Michael, pela crueldade do pai. A música, contudo, floresceu nesse solo árido. Em 1964, formou-se o Jackson 5, um quinteto vocal que rapidamente ascenderia ao estrelato. Com Michael, ainda uma criança, à frente, a banda dominou as paradas da Motown Records com hits como “I Want You Back” e “ABC”. A voz angelical e a performance hipnotizante do pequeno Michael já anunciavam o que viria a ser um artista sem precedentes.

A transição para a carreira solo, no final da década de 1970, foi um divisor de águas. “Off the Wall” (1979), produzido em colaboração com Quincy Jones, revelou um Michael mais maduro, explorando uma fusão vibrante de funk, disco e soul. Mas foi com “Thriller” (1982) que ele cimentou seu legado como o maior artista pop de sua geração e, para muitos, de todos os tempos. O álbum, que se tornaria o mais vendido da história, não era apenas uma coleção de músicas; era uma obra de arte multifacetada que redefiniu a indústria musical. Os videoclipes, em particular, transformaram-se em curtas-metragens cinematográficos, elevando a MTV a um novo patamar de relevância e revolucionando a forma como a música era consumida. Quem poderia esquecer a coreografia zumbi em “Thriller” ou a caminhada lunar em “Billie Jean”, apresentada no especial “Motown 25: Yesterday, Today, Forever”?
Michael Jackson não apenas vendia discos; ele vendia uma experiência. Seus shows eram espetáculos grandiosos, com coreografias intrincadas, efeitos visuais deslumbrantes e uma energia que preenchia arenas inteiras. Sua capacidade de se conectar com a multidão, de hipnotizá-la com um simples movimento ou um grito característico, era inigualável. Ele transformou a dança em uma linguagem universal, seus passos ecoando em milhões de pés e quadris ao redor do mundo. O Moonwalk, em particular, tornou-se sua marca registrada, um paradoxo de movimento para trás que avançava a arte da performance.
Para além da música, Michael Jackson utilizava sua plataforma para causas sociais. Canções como “Man in the Mirror” e “Heal the World” eram hinos de esperança e apelos por um mundo melhor, demonstrando uma consciência social que muitos artistas da sua estatura raramente exibiam. Ele doou milhões de dólares para instituições de caridade e usou sua voz para defender os marginalizados e oprimidos. No entanto, a mesma luz intensa que projetava sua arte também lançava sombras sobre sua vida pessoal.

A partir dos anos 90, a narrativa de Michael Jackson tornou-se cada vez mais complexa e, por vezes, dolorosa. As mudanças em sua aparência física, as cirurgias plásticas e as especulações sobre sua saúde e estilo de vida peculiar começaram a ofuscar suas conquistas musicais. A compra de Neverland Ranch, com seu parque de diversões particular e zoológico, alimentava a imagem de um Peter Pan adulto, um homem que se recusava a crescer. As acusações de abuso sexual infantil, que surgiram pela primeira vez em 1993 e novamente em 2003, embora ele tenha sido absolvido em 2005, lançaram uma nuvem permanente de controvérsia sobre seu nome. Essa dualidade, entre o gênio musical e o homem assombrado, tornou sua figura ainda mais enigmática.
A importância de Michael Jackson na música vai além das vendas de álbuns e dos prêmios acumulados. Ele transcendeu o gênero pop, influenciando artistas de todos os estilos, do R&B ao rock, do hip-hop ao gospel. Sua capacidade de inovar, de romper barreiras raciais e culturais, e de fundir elementos diversos em uma sonoridade única, estabeleceu um novo padrão para a indústria. Ele foi um artista que se arriscou, que ousou ser diferente, e que, ao fazê-lo, abriu caminho para as gerações futuras. O legado de seu trabalho vocal, sua maestria rítmica e sua teatralidade na performance são referências inegáveis.
Dezesseis anos após sua partida, a obra de Michael Jackson permanece viva. Suas músicas continuam a embalar festas, a inspirar coreografias e a emocionar novas gerações. A aura de mistério que o cercava, as polêmicas que o assombraram, tudo isso parece diminuir diante da magnitude de sua arte. Ele nos deixou uma vasta coleção de canções que falam de amor, de perda, de superação e da busca por um mundo mais justo.
Michael Jackson foi um paradoxo ambulante: um recluso que vivia sob os holofotes, um defensor da infância que foi acusado de destruí-la, um artista que parecia flutuar sobre a Terra enquanto seus pés permaneciam firmemente plantados na realidade de uma indústria implacável. Sua morte, um desfecho abrupto para uma vida extraordinária, foi um lembrete melancólico da fragilidade humana, mesmo para aqueles que pareciam intocáveis. Ele dançou para nós, cantou para nós, e nos fez sonhar. E embora a dança física tenha cessado, a reverberação de sua arte continua, um eco eterno em nossos corações e em nossos fones de ouvido. O Rei do Pop pode ter partido, mas seu reinado musical perdura, imortalizado nas notas, nos ritmos e nos movimentos que ele generosamente nos legou. Contudo, o vácuo de sua morte ainda é um vazio sem fim.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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