Zé Guilherme Bueno se destaca no teatro como ator, diretor e produtor cultural

Conheça a trajetória de Zé Guilherme Bueno, o vilão do musical João, que estreia em 6/6 na Cia da Revista
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Uma de suas marcas registradas é o farto carisma que se mistura ao talento cênico e ao espírito inquieto. Nesta terça, 6 de maio, Zé Guilherme Bueno celebra o seu aniversário. O “taurino com ascendência em sagitário e lua em aquário” traz a certeza de já ter atingido aquela maturidade que a gente só alcança depois dos 30. Faz muito bem.

“João”
A comemoração não poderia ser melhor: o começo dos ensaios de “João”, nova montagem da Cia. da Revista inspiradada na obra do poeta João Cabral de Melo Neto sob direção de Kleber Montanheiro e com estreia marcada para o Espaço da Revista em 6 de junho. O espetáculo sucede o estrondoso sucesso do premiado musical Tatuagem (2022-2025).
“Meu personagem é Biula, antagonista e vilão do espetáculo. Ele é um ex-policial que vai ter um forte papel na vida de Noemia. Diferentemente de Tatuagem, neste espetáculo faço apenas um personagem, que tem um arco dramático muito bem definido”, adianta em entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo.
Não é à toa que Zé Guilherme Bueno vem sendo convocado para papéis densos. Afinal, ele vem se destacando cada vez mais não só como ator em produções premiadas da recente cena teatral brasileira, como também nos bastidores, como produtor cultural, diretor e assistente de direção, colecionando trabalho com grandes nomes como Elias Andreato, Gabriel Villela, Sérgio Ferrara e Kleber Montanheiro.

Banco e Exército
Nascido no começo da década de 1990 em Conchas, no interior de São Paulo, Zé Guilherme Bueno tem uma trajetória singular, que, antes do palco, passa por uma instituição bancária e até mesmo pelas Forças Armadas Brasileiras.
Filho dos bancários Regina Bueno e Luiz Bueno, ele quase repetiu a trajetória dos pais no começo de sua carreira. Criado em Osasco, na Grande São Paulo, iniciou sua vida profissional com apenas 15 anos, como menor aprendiz no Banco Bradesco, seguindo os passos de seu pai, que também era funcionário da instituição.
Com desempenho excepcional, após concluir o ensino médio, foi contratado. Mas, com a maioridade veio também um novo desafio: Exército Brasileiro, onde foi convocado para servir na Artilharia.
“Foi uma experiência que me ajudou a ter uma disciplina que só fui entender a importância quando trabalhei anos mais tarde como ator com o diretor Gabriel Villela”, avalia.
Depois, ainda fez uma breve passagem pelo marketing da Xerox do Brasil, antes de retornar ao Bradesco como gerente de projetos, onde ficou de 2011 a 2016.

Mundo do teatro
A transição para o teatro aconteceu de forma gradual. Tendo de lidar com gestão de projetos no banco em que trabalhava, o que incluía apresentações dos mesmos, sua mãe o incentivou a fazer aulas de teatro para se desinibir.
Foi assim que ele entrou para a Escola de Atores Wolf Maya e depois para a graduação USP. Logo, se encantou pela epifania dos palcos. “Gostava da adrenalina que o ator sente quando está em cena. Aliás, gosto até hoje. É uma montanha russa”, define.
Sua dedicação e talento o levaram a conquistar uma bolsa de estudos no terceiro semestre, e a ter como mestres Sergio Ferrara, que decretou ao vê-lo no palco: “Você vai ser ator”.
Com a experiência de quem já estava na labuta desde tão cedo, Zé Guilherme não se limitou à atuação. Sua curiosidade e vontade de aprender o levaram a trabalhar como assistente de direção nas montagens da escola, conciliando o trabalho no banco em Alphaville, de 8h às 17h, com os estudos na região central de São Paulo, das 18h30 às 23h30. “Enfrentava um trânsito infernal. Acho que mal dormia nessa época”, lembra.
Aos 25 anos, após muito ponderar, decidiu seguir o coração e se dedicar integralmente ao teatro, deixando o banco para trás.

Peças relevantes
A partir daí, sua carreira decolou. A primeira peça foi com o diretor Elias Andreato, “Esperando Godot” (2016), onde contracenou com Claudio Fontana e conheceu Gabriel Villela, responsável pelos figurinos do projeto. Depois, emendou uma série de trabalhos com o renomado diretor Gabriel Villela em peças “Boca de Ouro” (2017-2018), de Nelson Rodrigues, e “Estado de Sítio” (2018-2019), de Albert Camus, além de ser assistente de direção de Villela em “Cordel do Amor Sem Fim” (2019).
Em 2019, expandiu seus horizontes e dirigiu sua primeira peça, “De Furdunço a Cafundó”, de Raphael Gama, demonstrando sua versatilidade e visão artística refinada.
A pandemia de 2020 não o paralisou. Zé Guilherme atuou na audionovela “Enlace”, de Raphael Gama, no projeto “Novela de Ouvir”, alcançando um público de 15 mil pessoas em quatro países.
“Foi nessa época da pandemia em que tive a certeza de que preciso me produzir e não esperar ninguém me chamar”, o que considera uma virada em sua carreira.
Em 2021, dirigiu e produziu “O Homem Imortal”, de Luis Alberto de Abreu, consolidando sua posição como um artista completo.

Tatuagem, divisor de águas
Em 2022, Zé Guilherme Bueno integrou o grande sucesso teatral daquele ano, o musical “Tatuagem”, da Cia da Revista, sob direção de Kleber Montanheiro. Sua versátil atuação em variados personagens foi elogiada pela crítica especializada e a peça se tornou um divisor de águas em sua trajetória.
“Foi ali onde me achei como ator e como artista, parafraseando Antunes Filho, foi ali que senti o ‘ao que veio'”, afirma. Com Tatuagem emendando várias temporadas de sucesso, inclusive uma passagem arrebatadora pelo Festival de Curitiba, onde fez sessões esgotadas no Teatro Guairinha, o ano de 2024 foi especialmente produtivo.
Além de atuar e produzir na turnê de “Tatuagem”, ele também atuou, produziu e fez assistência de direção na peça “De Perto Ninguém É Normal” (2024), de Gustavo Passo, foi assistente de direção da Cia Ephigenia em “O Alienista”, e produziu a peça “O Marinheiro”, dirigida por Elias Andreato. Com Elias Andreato, havia sido assistente de direção nas peças “Maldito Nelson” (2015), “Esses Moços” (2017), “Casa dos Loucos” (2018), “O Antepássaro” (2022-2023) e “Adultério Involuntário” (2024).
Além disso, em 2024 dirigiu ainda trabalhos como “Por Trás da Lona”, do Grupo Boemia, além de ser assistente de direção de Elias Andreato ao lado de Nilton Bicudo do espetáculo de dança “Amendoim Torrado” e “O Antipássaro”, e no musical de Kleber Montanheiro “Cabaret Kit Kat Club” com a estrela Fabi Bang e tornar-se diretor de produção do Prêmio Arcanjo de Cultura, uma das premiações mais relevantes do país, e retomar a relação com a Escola de Atores Wolf Maya, na qual atua no setor de projetos culturais.

Novos desafios
O ano de 2025 começou movimentado, com a temporada de despedida de “Tatuagem”, com ingressos esgotadíssimos no Espaço da Revista, e o convite para ser assistente de direção do musical “Quem É Juão”, inspirado na obra do músico Jota.pê, previsto para o segundo semestre.
E, neste dia de seu aniversário, ele inicia os ensaios para o musical “João”, mais uma vez sob direção de Kleber Montanheiro, no qual é um dos destaques do elenco como o vilão Biula, na da obra baseada na poesia do pernambucano João Cabral de Melo Neto, com estreia agendada para 6 de junho, um mês após seu aniversário.
Com um currículo extenso e diversificado, Zé Guilherme Bueno se destaca como um artista completo, que transita com maestria entre a atuação, a direção e a produção. Sua paixão pela arte, aliada a seu talento e dedicação ao mundo dos bastidores, o tornam um nome promissor no cenário cultural brasileiro.
“Eu entendi que sou um ator e também um diretor de teatro e um produtor cultural, girando na engrenagem da vida. Uma coisa só complementa a outra”, diz.
Com vontade de alçar novos voos e experiências, sobretudo no audiovisual, seja na televisão, no cinema ou no streaming, Zé Guilherme Bueno avisa: “Quero estar aberto às oportunidades que surgirem, sejam na atuação, na direção ou na produção. Meu desejo é estar em movimento”.
Que assim seja.


Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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