Tiradentes em Cena reúne o melhor do teatro na cidade histórica mineira: ‘Vê-lo consolidado me emociona’, diz Aline Garcia

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Todos os sentidos da produtora cultural Aline Garcia estão voltados para a 11ª edição da Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena, evento que atrai cada vez mais olhares do teatro nacional e internacional para a charmosa cidade histórica mineira de 10 mil habitantes. “Vê-lo consolidado me emociona”, diz. Com pré-estreia em 1º de Maio, com a peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, da melhor diretora pelo Prêmio APCA Ione de Medeiros com seu grupo Oficcina Multimédia no Teatro Municipal da vizinha São João del Rei, o evento é realizado em Tiradentes de 2 a 5 de maio de 2024, em quatro dias de pura efervescência teatral em meio ao casario colonial. O evento vencedor do Prêmio Arcanjo de Cultura vem com novidades imponentes como o Palco Instituto Cultural Vale e Palco Sesc, no Largo da Rodoviária. E reúne grandes artistas e companhias, além de lançamentos de livros, rodas de conversa, oficinas formativas, experiências gastronômicas e musicais, sob o tema Celebração e Encontros. As atrizes Christiane Torloni e Monah Delecy, filha e mãe, são as homenageadas. Em meio aos preparativos finais para o começo do festival, realizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, pelo Ministério da Cultura do Governo Federal, e com patrocínio master do Instituto Cultural Vale e patrocínio da Cemig, além de parceria cultural com o Sesc, a idealizadora e diretora geral conversou com o Blog do Arcanjo. Leia a entrevista exclusiva a seguir.
Miguel Arcanjo Prado – Qual a expectativa para o 11º Tiradentes em Cena?
Aline Garcia – A novidade e maior expectativa são os palcos no Largo da Rodoviária (Palco Instituto Cultural Vale e Palco Sesc). É uma novidade desafiadora e empolgante para esta edição. Lá terão os musicais, as peças maiores e, no palco menor, circo, teatro e também música. Além desses dois palcos, seguimos com uma variedade de espaços, como o Museu Padre Toledo, o Sobrado Quatro Cantos, o Centro Cultural Yves Alves, Igreja do Rosário e outros locais. Essa diversidade de espaços e ambientes do Tiradentes em Cena é fundamental para enriquecer a experiência do público e promover uma verdadeira imersão na arte teatral e na cultura local.

Essa diversidade de espaços e ambientes do Tiradentes em Cena é fundamental para enriquecer a experiência do público e promover uma verdadeira imersão na arte teatral e na cultura local.”
Aline Garcia
diretora do Tiradentes em Cena
Miguel Arcanjo Prado – Neste ano o Tiradentes em Cena recebe programadores de outros festivais, tornando-se uma vitrine ainda maior?
Aline Garcia – Um sonho antigo e agora realizado é trazer programadores para fortalecer ainda mais a cena cultural e proporcionar possibilidades que grupos locais sejam vistos por outros olhares. A internacionalização ganha corpo com a presença Marcelo Castillo, diretor GIRART [produtora internacional cultural com sede em Córdoba, Argentina], com enfoque na internacionalização, e em trazer ferramentas práticas para impulsionar a presença nos mercados internacionais.
Miguel Arcanjo Prado – O teatro em Minas Gerais é um dos mais respeitados do País, como você enxerga a produção cênica mineira contemporânea?
Aline Garcia – Minas Gerais possui grande expressão nacional e internacional no campo das artes cênicas. É uma produção com muita vitalidade, criatividade e relevância, vejo como uma grande potência, e os festivais e mostras têm o poder de contribuir com essa circulação. Minas tem grupos e companhias de dança, teatro e circo reconhecidos pela alta qualidade de seus profissionais e espetáculos. Pelo Tiradentes em Cena já passaram nomes e grupos mineiros: Grupo Galpão, Officina Multimédia, Zap 18, Teatro da Pedra, Armatrux, Quatroloscinco, Pedro Paulo Cava e Jota Dangelo, Cia. de Dança Palácio das Artes, entre tantos outros.

Miguel Arcanjo Prado – Quais foram os maiores desafios na produção desta edição e o que espera do público e dos artistas neste ano?
Aline Garcia – A inclusão dos dois palcos no Largo da Rodoviária traz uma novidade desafiadora e empolgante para esta edição. No entanto, é importante destacar que não temos jamais o objetivo de centralizar a programação do evento. Desde sua criação, o DNA da mostra tem sido justamente ocupar espaços diversos, espalhando-se pela cidade de Tiradentes e garantindo uma programação rica e diversificada. Mas acaba sendo também um grande desafio adaptar os espetáculos para espaços fora da caixa cênica tradicional. Envolve muita logística, equipe, financeiro, rider itinerante. Não é simples. Mas, é lindo e relevante ser um eficaz instrumento de ocupação cultural de espaços públicos e históricos emblemáticos da cidade de Tiradentes.
Miguel Arcanjo Prado – A diversidade é carro chefe na curadoria?
Aline Garcia – O público vai se alegrar com uma programação tão diversa e plural, e os artistas têm a oportunidade de estarem no interior de Minas, mostrando sua arte, provocando reflexão, entretenimento e engajamento com o público presente. E, assim, desenvolver e colocar na cena as artes cênicas, promovendo intercâmbio cultural entre artistas e espectadores.
Miguel Arcanjo Prado – Em um país com apoio irregular à cultura como o Brasil não é fácil manter um festival deste porte.
Aline Garcia – Sim. A falta da continuidade de patrocínio é complicada, a cada ano recomeçamos do zero. Isso é um problema que praticamente todos os gestores culturais passam. Neste ano, preciso agradecer imensamente aos nossos patrocinadores: temos o Instituto Cultural Vale como nosso patrocinador máster, além de patrocínio da Cemig e parceria cultural com o Sesc e promoção cultural de O Tempo. A realização é pela Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, via Ministério da Cultura do Governo Federal. Sem eles e tantos outros apoiadores locais, como a Prefeitura de Tiradentes, o Instituto Rouanet, o Iepha, a Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, o Campus Cultural UFMG em Tiradentes, o Centro Cultural Yves Alves, Espaço Cultural Aimorés e o Iphan, nada disso seria possível. E também agradeço à minha gestora cultural Nina Capel, minha grande parceira na gestão administrativa deste grande evento.

Miguel Arcanjo Prado – Voltando a falar da curadoria, como você pensou a curadoria para esta edição?
Aline Garcia – O curador é, antes de tudo, um espectador atento, curioso e cuidadoso. E sempre tenho como ideal juntar a cidade e as possibilidades dos espaços com as produções cênicas, criar relações, com o alvo de promover encontros, discursos e reflexões. A minha curadoria é bastante colaborativa, levando em consideração diversos aspectos, como a disponibilidade de espaços, as características do público, as tendências artísticas e a diversidade de propostas culturais que recebemos ao longo do ano pelo nosso banco de propostas.
Miguel Arcanjo Prado – Como adaptam as peças aos espaços?
Aline Garcia – O desafio de adaptar as apresentações para espaços ao ar livre ou locais alternativos necessita de uma abordagem criativa e adaptável; só temos um teatro na cidade. Fico sempre ligada no diálogo com o público e com a cidade, e uma atenção para possibilidades de reflexões, diálogos, por meio da experiência estética. Minha função como curadora é colocar o artista, obra e público em relação, criando vínculos entre eles e também com os espaços escolhidos.

Miguel Arcanjo Prado – E o que você destaca nesta programação?
Aline Garcia – Destaco o clássico do teatro brasileiro Vestido de Noiva, texto de Nelson Rodrigues com direção Ione de Medeiros, que ganhou o prêmio de melhor direção da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes). Também Auto da Compadecida, com o Grupo Maria Cutia, com direção de Gabriel Vilela, e ainda temos o privilégio de reunir mãe e filha, Christiane Torloni e Monah Delacy, na Cena Encontro da Mostra. Temos ainda o Grupo In-Cena de Teófilo Otoni, o espetáculo de dança ELO – T.F. Cia de Dança, além do Grupo Teatro da Pedra, da vizinha São João del Rei, e de Paulo Betti no solo Autobiografia Autorizada, entre outros.

Miguel Arcanjo Prado – O que o Tiradentes em Cena significa na sua vida? Como é vê-lo consolidado com mais de uma década de vida nesta 11ª edição?
Aline Garcia – A Mostra Tiradentes em Cena uniu minhas duas paixões: a cidade de Tiradentes e as artes cênicas. Nasci aqui e percebi que, apesar da existência de vários festivais incríveis, ainda faltava um evento dedicado exclusivamente às artes cênicas. Consciente dos desafios que enfrentaríamos – tanto em termos de esforço quanto de recursos financeiros – sabia que era crucial para o estado de Minas Gerais contar com um festival desse porte no interior. O teatro, por sua própria natureza, é uma arte coletiva. Vê-lo consolidando me emociona. Quem trabalha com cultura sabe como é ver um “filho” dessa magnitude crescer, expandir fronteiras, gerar conexões e somar com a cidade, incluir as pessoas. É de arrepiar fazer da Mostra cada vez mais um espaço de encontro entre os criadores e os apreciadores das artes cênicas, especialmente num contexto em que a circulação de peças teatrais pelo interior do país é limitada, e proporcionar oportunidades para artistas locais e de outras regiões do Brasil apresentarem seus trabalhos, além de promover a troca de experiências para fortalecer a cena teatral brasileira. Este sonho, que já completou 11 anos, tem sido realizado com maestria, impulsionando o desenvolvimento cultural não apenas da cidade de Tiradentes, mas de toda região.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viaja a convite do Tiradentes em Cena.
Veja a cobertura do Tiradentes em Cena no Blog do Arcanjo!

Tiradentes em Cena
Mostra de Artes Cênicas
11ª Edição
@tiradentesemcena
Ficha ténica
Idealização e direção geral: Aline Garcia
Curadoria artística: Aline Garcia
Coordenação administrativa e gestão financeira: Nina Capel
Direção artística e Produção Cenas Curtas: Vinicius Cristóvão
Produção executiva: Mariana Caputo
Produção técnica: Rogério Sette Camara
Direção criativa: Filipe Lima / Lima Design
Equipe de produção: Yasmine Rodrigues, Kaue Rocha, Carina Marques, Eleonora Schmidt, Amora Pinheiro, Ricardo Ribeiro, Luiza Cassano e Rogério Sette Camara.
Coordenadora Internacional: Carolina Correa
Assessoria de Imprensa: Luz Comunicação
Equipe comunicação: Daniela Santana e Sarah Resende, Lucas Reis, Liv Fernandes e Geovane Carvalho
Cobertura fotográfica: Thais Andressa, Thyago Andrade e Marlon de Paula
Cobertura Audiovisual: André Frade, Rodrigo Maia e Rodrigo Parobé
Identidade Visual: Gina Mesquita
Apresentador: Rodrigo Rosado
Projeto visual: Bruno Grossi Begê e Daniele Muffato
Intérprete de libras: Daiane Bispo e Andréa Nascimento
Audiodescrição: Vanessa Oliveira
Website Criação: Technosupport

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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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