Crítica: Falabella acerta em A Viúva Alegre ao unir erudito e popular

Cena da opereta A Viúva Alegre, dirigida por Miguel Falabella no Theatro Municipal de São Paulo – Foto: Fabiana Stig/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

A Viúva Alegre
Crítica por Miguel Arcanjo Prado

Avaliação: Muito Bom 

Para Miguel Falabella, não há fronteiras ou limites entre as artes. Sua própria carreira multiartística é prova disso. E ele dá um atestado deste seu olhar múltiplo e diverso na opereta “A Viúva Alegre”, sua estreia como diretor de uma obra produzida pelo Theatro Municipal de São Paulo. Nela, une o erudito ao popular no palco centenário, a convite do diretor artístico do espaço, Hugo Possolo, homem que vem injetando ousadia e fôlego novo à programação do Municipal.

Aliado às inventivas coreografias de Fernanda Chamma, Falabella traz um frescor contemporâneo à criação de Franz Lehár com libreto original de Viktor León e Leo Stein, cuja versão em português é do próprio diretor. Falabella acentuou ainda mais a ironia e o cinismo presentes neste espetáculo, que encerra em grande estilo a temporada lírica 2019 do Municipal. Como é de seu feitio, colocou cacos no texto, como “bela, recatada e do lar”, fazendo aquela aristocracia decadente da obra dialogar fartamente com a elite ignorante e reacionária do Brasil de hoje.

E o diretor não tem medo de fazer uma obra popular, dando muitas vezes à opereta ares de folhetim, acompanhado por reações audíveis do público que lota o Municipal em todas as dez récitas, que se encerram neste domingo (24) — um mérito também do talentoso e envolvente elenco. Tal característica contribui na formação de público para uma obra e espaço por tanto tempo restrito aos amantes confessos do erudito. Este mérito é gigante, afinal, a arte transforma as pessoas e as tira do mar da ignorância no qual estamos atolados e precisamos de forças para sair.

Miguel Falabella acerta em sua estreia no mundo das óperas no Theatro Municipal de São Paulo com A Viúva Alegre – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Falabella estreia no mundo das óperas de forma confortável — é um artista com excelente formação não só familiar, como também que buscou incessantemente, como quando viveu na juventude em Paris, antes do sucesso na televisão — e com a segurança de ser um dos diretores mais respeitados no mercado do teatro musical nacional. Inclusive, ele faz excelentes profissionais deste setor, como Sandro Christopher e Adriano Tunes, dialogarem no palco com nomes importantes do erudito paulistano, comprovando que a arte precisa se unir, sobretudo neste momento crítico na qual é tão perseguida na esfera nacional, em vez de ficar delimitando lugares preconceituosos para cada subsetor artístico.

Na parte técnica, é importante ressaltar a beleza multicor da cenografia fovista de Zezinho Santos e Turíbio Santos (Santos & Santos), que dialoga também com os exuberantes e coloridíssimos figurinos criados por Lígia Rocha e Marco Pacheco, que brilham na afinada luz Guillermo Herrero, além de comporem com o bem pontuado visagismo de Dicko Lorenzo.

Com tal time escalado, aliado ao Coro Lírico Municipal conduzido pelo maestro Mário Zaccaro e seu assistente Sergio Wernec e ao som da impecável Orquestra Sinfônica de São Paulo sob regência do maestro Alessandro Sangiorgi, que também assina a direção musical, os artistas conduzidos por Falabella conquistam o público com esta obra popular, repleta de humanidade e de frescor. Isso faz de “A Viúva Alegre” um grande acerto e um espetáculo imperdível que merece prorrogação ou uma nova temporada.

A Viúva Alegre
Crítica por Miguel Arcanjo Prado

Avaliação: Muito Bom 

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