Opinião: Caetano e Daniela rejuvenescem ao abraçar causas libertárias

Caetano Veloso e Daniela Mercury são as vozes da juventude libertária – Foto: Celia Santos – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Caetano Veloso, aos 76 anos, e Daniela Mercury, aos 53, rejuvenescem tal qual dois adolescentes ao fazerem juntos uma arte libertária e progressista que os coloca como vozes potentes da nova juventude brasileira. Afinal, como compôs Belchior sabiamente gravado por Elis Regina: “Precisamos todos rejuvenescer”.

Ambos artista baianos de grande expressão mundial, eles poderiam ter ficado no buraco confortável que a fama proporcionou às suas vidas e carreiras. Mas, a toca nunca foi o lugar de ambos.

Corajosos, se posicionam ideologicamente e politicamente em um Brasil bastante dividido, onde marcar certas posições é sinônimo de fortes e violentos ataques, sobretudo no mundo digital.

O clipe da canção que a dupla baiana acaba de lançar, “Proibido o Carnaval”, condensa boa parte da visão artística dos dois: uma arte inclusiva, sem preconceitos, liberta de amarras e censuras, onde todos caibam e tenham os mesmos direitos. Algo coerente com as carreiras que ambos construíram.

Com deboche, como sempre foi o melhor do Carnaval, eles fazem pilhéria do poder político instaurado, questionando: “Vai de rosa ou vai de azul?”. E recorda a luta negra, indígena e feminista: “Quilombola, Tupinambá, o corpo é meu, ninguém toca”.

Juntos, o Rei da Tropicália e a Rainha do Axé relembram nossa exuberância tropical, cujo Carnaval é sua máxima expressão louvada e admirada no mundo inteiro, sendo a própria imagem internacional do país. Assim, rechaçam a negação do Brasil nesta onda puritanista desejosa por proibir o Carnaval, como diz o título da canção.

Os dois fazem o hit propício para o Carnaval 2019, que promete ser uma folia altamente politizada, na qual o desbunde, tal como foi na década de 1970, volta a ser forma possível de protesto. Corpos diversos cuja existência nas ruas em festa é resistência.

“Vestida de rebeldia, provocando a fantasia, tô no meio da rua, tô louca, tô no meio da rua sem roupa”, diz a letra da canção composta por Daniela, que prossegue: “Minha alma não tem tampinha, minha alma não tem roupinha, minha alma não tem caixinha, só asinha”.

Caetano Veloso e Daniela Mercury com os bailarinos de “Proibido o Carnaval”: pautas identitárias presentes – Foto: Celia Santos – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

As pautas identitárias surgem com força, seja representadas no belo e vigoroso corpo de baile do videoclipe, seja na letra que afirma “a mulherada comandando a batucada”, os “filhos de Gandhy, o afoxé na resistência” e o bloco “Crocodilo, Stonewall, estou aqui”.

Daniela Mercury e Caetano Veloso reivindicam para Salvador o título de capital das ideias progressistas em meio ao retrocesso país afora. E bradam: “Salvador é a nova Grécia”.

“Abra a porta desse armário que não tem censura pra me segurar. Abra a porta desse armário que alegria cura, venha me beijar”, dizem Caetano e Daniela, sorridentes e sensuais.

Quem vai ter a audácia de proibir?

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Daniela Mercury e Caetano Veloso juntos em “Proibido o Carnaval”: canção libertária para a folia de 2019 – Foto: Celia Santos – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

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