Ainda bem que Globo trocou atriz branca por negra

Carol Castro (esq.) perdeu papel na novela das 21h para Roberta Rodrigues (dir.): ainda bem – Fotos: Divulgação/Globo

A Globo trocou uma atriz branca por uma atriz negra pela primeira vez na história, como noticiaram os colegas jornalistas Daniel Castro e Luciano Guaraldo no Notícias da TV, site parceiro do UOL.

Ainda bem.

A substituição de Carol Castro por Roberta Rodrigues em “Segundo Sol”, próxima novela das 21h escrita por João Emanuel Carneiro, além de histórica, demonstra que o departamento de elenco da emissora acordou para a realidade do Brasil, país bem diferente da elite da zona sul carioca que costumava imperar em suas tramas.

Se durante praticamente toda a trajetória da televisão brasileira artistas negros foram relegados ao segundo plano, com papéis sem subjetividade e mergulhados no estereótipo empregada/bandido, isso não é mais aceitável nos tempos atuais.

Não queremos mais histórias como a de Isaura Bruno (1926-1977), atriz negra que viveu a icônica Mamãe Dolores na novela “O Direito de Nascer” (1964) e que morreu triste, pobre e esquecida, vendendo doces nas ruas para sobreviver.

Grandes artistas negros como Ruth de Souza, Zezé Motta, Antônio Pompêo, Léa Garcia, Norton Nascimento, Grande Otelo e tantos outros tiveram pouquíssimas personagens na TV à altura de seus talentos, isso por conta do forte racismo que imperou no audiovisual brasileiro, em sua maioria comandado por homens brancos.

Nestes novos tempos, os negros, antes silenciados, agora reverberam suas críticas nas redes sociais, exigindo representatividade no audiovisual.

Então, a Globo, que durante muitos anos reforçou estereótipos racistas em seus folhetins, não está sendo “boazinha” ao colocar Roberta Rodrigues em um papel de destaque em sua principal novela.

A emissora carioca apenas se adequa aos novos tempos, nos quais não é mais tolerável que artistas brancos ganhem todos os personagens de destaque em um folhetim ou qualquer outra produção do audiovisual, enquanto atores negros vivem personagens subalternos e estereotipados.

E, no caso da novela de João Emanuel Carneiro, ainda há algo importante a se lembrar. A trama se passa na Bahia, estado de maior população negra no Brasil.

População esta tantas vezes embranquecida em produções da Globo, como nas muitas adaptações de livros de Jorge Amado.

“Tieta”, novela de 1989 adaptada por Aguinaldo Silva a partir do romance do autor baiano, apresentou ao grande público uma Bahia habitada por personagens brancos, completamente irreal quando comparada à verdadeira Bahia.

Isso não mais será possível em “Segundo Sol”. Que bom.

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PS. Quem quiser entender melhor o lugar terrível que a TV deu aos atores negros durante todo o século 20, basta assistir, abaixo, ao ótimo documentário “A Negação do Brasil”, do cineasta Joel Zito Araújo:

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