Crítica: Com Stênio Garcia, “O Último Lutador” evidencia machismo no ringue

Stênio Garcia encabeça elenco de "O Último Lutador" - Foto: Divulgação

Stênio Garcia encabeça elenco de “O Último Lutador” – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Um mundo no qual o domínio da força bruta é visto como grande vantagem ambienta o clã de lutadores chefiado pelo patriarca interpretado por Stênio Garcia, ator que celebra seis décadas de carreira, na peça “O Último Lutador – Ringue da Vida”, em cartaz no Teatro Porto Seguro, em São Paulo. A obra marca ainda o retorno de Garcia aos palcos após 18 anos ausente.

O texto escrito por Marcos Nauer e Teresa Frota, sob direção de Sergio Modena, aborda o cotidiano desta família, às vésperas de uma importante luta, com a qual a personagem de Garcia pode tentar recuperar a glória que seu sobrenome já teve.

O patriarca também quer faturar, já que, em seu mundo, ambição vale mais que afeto. E também se despedir, pois está gravemente doente, e quer deixar tudo no caminho controverso que ele mesmo trilhou para ele e os seus.

A peça dialoga com a febre das lutas recentemente transformadas no Brasil em assunto do mercado televisivo e esportivo, com lutadores alçados ao posto de celebridades. É impossível não enxergar muito da origem desta recente onda midiática do MMA neste espetáculo.

Elenco de "O Último Lutador" agradece os aplausos - Foto: Andre Stefano

Elenco de “O Último Lutador” agradece os aplausos – Foto: Andre Stefano

De volta ao texto, boa dose de machismo e homofobia está presente nas bocas das personagens, sobretudo na de Garcia, que é o macho alfa que controla tudo e todos com grosseria. Como se a arte de lutar precisasse estar ligada a preconceitos de gênero e a uma visão tacanha da vida.

Na sessão vista por este crítico, parte da plateia se identificou e riu de frases machistas e homofóbicas das personagens, o que evidencia o quanto ainda precisamos evoluir no respeito ao outro. E olha que estamos aqui falando de uma plateia de teatro.

Apesar de celebrar sua carreira, a direção nem o texto colocam em Stênio Garcia o fio condutor da histórica. Há variados pontos de vista presentes e sobrepostos nas cenas curtas que vão se intercalam.

Mesmo assim, é Garcia quem divide o coração da obra com Stella Freitas, que se destaca na pele de uma mulher servil e amorosa, mesmo vítima de uma falta de carinho corrosiva. Quase uma Amélia. Completam o elenco Gláucio Gomes, Antonio Gonzalez, Marcos Nauer, Daniel Villas, Carol Loback e Mari Saade, mulher de Garcia e que demonstra evolução como atriz.

Bem em ritmo de folhetim, “O Último Lutador” tenta estabelecer o clima de tensão que caminha para o desfecho no ringue — em simples e acertada solução da cenógrafa Aurora dos Campos. É lá que os dois jovens lutadores-herdeiros precisam se enfrentar, no embate que também revelará o segredo que os une.

Mas, apesar de ficar a sensação de que a peça poderia tê-lo aproveitado mais, Stênio Garcia, aos 84 anos, mostra o invejável vigor cênico que faz dele um de nossos grandes atores. Vê-lo em cena é o real motivo para prestigiar este espetáculo.

“O Último Lutador – Ringue da Vida” * * *
Avaliação: Bom
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 19h. 80 min. Até 31/7/2016
Onde: Teatro Porto Seguro – Al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, São Paulo, tel. 11 4003-1212
Quanto: R$ 60 a R$ 80
Classificação etária: 14 anos

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