Secretária de deputado abre o bico e conta tudo em “Dona Bete”

Elias Andreato é Dona Bete no palco - Foto: João Caldas Filho

Elias Andreato é a bocuda Dona Bete no palco – Foto: João Caldas Filho

Por Miguel Arcanjo Prado

Enquanto o mundo político brasileiro pega fogo, com gravações revelando acordos entre corruptos, uma secretária de um deputado federal chamada Dona Bete abre o bico sem se dar conta e revela tudo o que sabe à imprensa, enquanto aguarda que o chefe parlamentar chegue a uma entrevista coletiva.

Este é o mote da comédia “Dona Bete”, escrita por Fauzi Arap (1938-2013), em cartaz em São Paulo no Teatro Eva Herz, protagonizada por Elias Andreato e dirigida por ele juntamente com André Acioli.

Andreato explica que sua personagem não abre o bico de maldade. “Dona Bete é absurdamente ingênua, mas se acha espertíssima. Sabemos que em política, a esperteza nem sempre é sinônimo de inteligência”, aclara o ator, que se inspirou em grandes mulheres de seu convívio para compor a secretária: “Claudia Mello, Patrícia Gaspar, Irene Ravache, Marília Gabriela e Marília Pêra”, revela.

Ele conta que fazer a peça é “como disse Bette Davis: apertem os cintos que a noite vai ser turbulenta”, lembrando que o texto escrito entre 2007 e 2009 por Fauzi Arap está mais atual do que nunca. “Não envelheceu porque a corrupção e o jogo político se renovam sempre sem perder a sua essência. Ou seja: o jeitinho brasileiro que chegou com Cabral e se enraizou na alma de Macunaíma se perpetua através do Congresso”, alfineta.

Nilton Bicudo e Elias Andreato na comédia Dona Bete - Foto: João Caldas

Nilton Bicudo e Elias Andreato na comédia Dona Bete – Foto: João Caldas

O público entende o recado e gargalha em muitos momentos da obra. “Fazer rir no momento dramático que vivemos é um ato político”, define Andreato. Em cena, está acompanhado de Nilton Bicudo, a quem define como “um grande talento, um artista do palco”, dizendo que contracenar com o colega é “sempre uma diversão e prazer”.

Na visão de Andreato, “o humor salva a vida do tédio”: “Rir de nós e dos outros é escancarar nossas qualidades e defeitos. O teatro tem feito isso durante séculos. Não podemos nos privar nem da dor nem do riso. O equilíbrio oriental é a saída para enfrentarmos todas as barreiras e muralhas, inclusive a muralha da China”, filosofa.

E o Brasil, ainda tem jeito? Andreato prefere citar Oswald de Andrade em “O Rei da Vela”, cheio de ironia: “O dinheiro só é útil nas mãos dos que não tem talento. Nós escritores, artistas, precisamos ser mantidos pela sociedade na mais dura e permanente miséria. Para servirmos como bons lacaios, obedientes e prestimosos. É a nossa função social. Fazer versos!”.

O ator se empolga e finaliza, também em versos:
Viva os meus poetas
Viva os meus Brasis
Rimas em riste
A cavalaria do sarcasmo
Minha arma favorita
Não sou e nunca fui
Vagabundo
Só sei ser poeta
Se o meu país tem jeito
Eu não sei
Só sei  do meu ofício
E carrego a certeza
Que sempre o amarei.

“Dona Bete”
Quando: Sábado, 18h. 55 min. Até 25/6/2016
Onde: Teatro Eva Herz – Livraria Cultura do Conjunto Nacional – Av. Paulista, 2073, Cerqueira César, São Paulo, tel. 11 3170-4059
Quanto: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada)
Classificação etária: 14 anos

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