Lolita Rodrigues faz 80 anos ou 80 vezes Lolita!

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Todo dia 10 de março, a atriz Lolita Rodrigues tem um ritual. Pega um caderninho e anota o nome das pessoas que ligam para parabenizá-la pelo aniversário. Hoje, quando completa 80 anos, ela está lá, esperando que o telefone toque.
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Caçula dos quatro filhos do casal de imigrantes espanhóis Isolina Nieves Ramos e Isaac Gonzales de la Vega, que virou Isaac Gonçalves nos documentos da imigração, Lolita nasceu em 10 de março de 1929, em Santos, como Silvia Gonçalves.
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O pai foi um homem simples, que trabalhou nas docas. “Eu era pobre, mas alegrinha”, brinca a atriz, que recebeu o Agora em seu apartamento, nos Jardins, em São Paulo. O talento para cantar foi logo percebido. “Cantei pela primeira vez em 10 de janeiro de 1939, na ‘Hora Infantil de Santos’, na rádio Atlântica”, recorda Lolita, entoando em seguida os versos de “Farolito”, canção que inaugurou a carreira de 70 anos e que jamais desaprendeu. O nome artístico foi dado pela mãe, em homenagem a uma prima. Com a vinda da família para São Paulo, Lolita, aos 13 anos, foi cantar na rádio Cultura, onde começou a carreira.
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Diferentemente das moças de seu tempo, ela contava com a aprovação dos pais. “Mamãe sempre adorou me ver cantar. Meus pais eram pobres, não tinham essa coisa de preconceito.” O primeiro cachê que ganhou, ao ser eleita a melhor cantora do ano, agradou aos pais. “Comprei móveis para a sala e uma imagem de santa Terezinha para minha mãe.” A devoção à santa vem da infância, quando quebrou o braço, e a mãe fez uma promessa.
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Quando a TV estreou, cantou o “Hino da Televisão”, porque a amiga Hebe Camargo, dona da tarefa, teve outro compromisso -sair com o namorado. “Tive de decorar em um dia. A música era um horror”, conta. Aos 22 anos, casou-se com Airton Rodrigues, secretário do magnata das comunicações Assis Chateaubriand. A união durou 31 anos e rendeu o sucesso da TV Tupi “Almoço com as Estrelas”, apresentado pelos dois -que tiveram Silvia, a única filha de Lolita, hoje médica, nascida 11 meses após o casamento. A separação foi um golpe. “Você se acostuma com a pessoa. Não quis me envolver com mais ninguém”, diz, decretando o assunto “coisa do passado”.
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A carreira de atriz veio após insistentes pedidos ao diretor Cassiano Gabus Mendes, nos corredores da Tupi. Tanto fez que conseguiu o papel de Esmeralda, protagonista da novela ao vivo “O Corcunda de Notre Dame”, em 1957.
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Aos 80, Lolita não gosta dessa história de “melhor idade”. “A melhor idade é a juventude”, sentencia. “Hoje é difícil ter papel.” Longe da TV há dois anos, prestigia os colegas. “Aplaudo quem está lá. Liguei para a Patrícia Pillar durante ‘A Favorita'”, conta. O mal da idade é a partida dos amigos. “Fiquei três meses ruim quando a Nair Bello morreu. Fiquei com o batom dela.” Da morte, diz não ter medo, apenas pena. “É porque lá em cima não vai ter televisão. Como vou ficar sem minhas novelas?”
Por Miguel Arcanjo Prado
Do Agora*

*Matéria publicada originalmente no jornal Agora São Paulo, do Grupo Folha, em 10/03/2009.

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Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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