Ivam Cabral lança livro Entre o Nada e o Infinito: ‘Sempre persegui os grandes cronistas do meu tempo’ | Entrevista do Arcanjo
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Fotos ANNELIZE TOZETTO
@annelizetozetto
O escritor Ivam Cabral é um cronista de mão cheia. Do tipo que tem visão poética para o mundo ao seu redor, cristalizando a poesia do cotidiano em palavras. Prova disso é o tomo que lança em São Paulo neste sábado, 30 de abril, com autógrafos a partir das 17h30 na SP Escola de Teatro da Praça Roosevelt, 210. Trata-se de Entre o Nada e o Infinito, livro de 700 páginas com organização de Marcio Aquiles e publicação pela Giostri Editora lançada nacionalmente no começo do mês no 30º Festival de Curitiba e que agora chega à capital paulista.
No “catatauzinho”, como chama a nova obra, ele percorre, em formato de diário, acontecimentos registrados de 2009 a 2021, mas que rememoram desde sua infância em Ribeirão Claro, no interior do Paraná, passando por Curitiba, São Paulo e outras tantas cidades do mundo onde viveu. O livro faz importante registro da criação da SP Escola de Teatro, hoje mais importante centro de formação em artes cênicas da América Latina, com modelo pedagógico referência em todo o mundo e da qual Ivam Cabral é diretor executivo, e também das produções de sua Cia. de Teatro Os Satyros, fundada por ele e o diretor Rodolfo García Vázquez em 1989, hoje um dos principais grupos do teatro brasileiro, com repercussão e premiações internacionais.
Nesta Entrevista do Arcanjo, Ivam Cabral, também ator, dramaturgo e psicanalista, fala sobre o livro e o que o inspirou. Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Como surgiu a ideia deste novo livro? E o título: Entre o Nada e o Infinito?
Ivam Cabral – Fazia um tempo que meu editor, Alex Giostri, me cobrava um novo livro de crônicas. Assim, em 2020, eu comecei a organizar a obra, quando percebi que tinha escrito, na verdade, um diário, em arquivos salvos quase que diariamente, em mais de 2.000 laudas. Eu passei todo esse material para o Marcio Aquiles e pedi ajuda, dizendo a ele, já nesse momento, que gostaria de ter um formato de diário, e se ele achava que isso poderia resultar em alguma coisa minimamente interessante. Com o aval do Marcio o convidei para organizar o material, porque teríamos que reduzi-lo consideravelmente. O título foi inspirado na frase do matemático e filósofo Blaise Pascal (1623-1662), que afirmava que o conhecimento era finito justamente porque nunca teríamos capacidade de romper a demarcação dos nossos pensamentos. Também é o título de uma microcrônica que consta no volume.
Miguel Arcanjo Prado – Fazer diário é algo comum na sua vida?
Ivam Cabral – Até este livro, eu não sabia que escrevia um diário. Gosto muito de escrever, talvez seja até a minha maior expressão. Mantenho um blog desde o final dos anos 1990, onde escrevo muitas coisas. Inclusive vem dele muitos dos escritos do livro.
Miguel Arcanjo Prado – O que foi mais difícil neste processo? E o que foi mais fácil?
Ivam Cabral – A dificuldade, na verdade, eu deixei com o Marcio Aquiles, que ordenou e delimitou o formato final do livro, avaliando o que deveria ser publicado, dividindo o trabalho em capítulos e etc. A mim coube a parte mais divertida, que foi escrever esse pequeno catatauzinho.
Miguel Arcanjo Prado – Você é um cronista de mão cheia. De onde acha que herdou esta visão poética para a vida cotidiana?
Ivam Cabral – Ah, eu amo crônicas. Sempre persegui os grandes cronistas do meu tempo. Desde os primeiros anos na faculdade de administração de empresas, onde lia o Aramis Millarch, que escrevia no Correio da Manhã, em Curitiba. Esse cara me inspirou muito, tinha um jeito muito peculiar de contar histórias que me ajudaram na minha aproximação com o teatro. Mas amo, desde sempre, Cecilia Meireles, Clarice Lispector, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Luis Fernando Veríssimo, Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, são muitos!
Sempre persegui os grandes cronistas do meu tempo.
Ivam Cabral
escritor
Miguel Arcanjo Prado – Você lançou primeiro o livro no seu estado natal, o Paraná, no Festival de Curitiba. Como foi este momento?
Ivam Cabral – Foi um dia muito bonito. Fizemos uma roda de conversa mediada pelo Ruy Filho, dentro do projeto Interlocuções, do Festival de Curitiba. E foi de maneira casual, porque quando fomos convidados para o Festival nos perguntaram se tínhamos alguma publicação para ser apresentada na ocasião. Coincidentemente, o lançamento deste Entre o Nada e o Infinito estava sendo trabalhado para ser lançado em março.
Miguel Arcanjo Prado – Qual a expectativa para o lançamento em São Paulo?
Ivam Cabral – Sempre dá um friozinho na barriga, né? Toda vez a sensação de que não vai aparecer ninguém, um pesadelo. Mas espero que meus amigos e nossos fãs compareçam. É um momento importante pra mim e realmente ia gostar de ver as pessoas que amo por ali.
Miguel Arcanjo Prado – Quais histórias o público vai encontrar no seu livro?
Ivam Cabral – São crônicas, memórias e reflexões que versam sobre os mais variados assuntos: teatro, filosofia, psicanálise, lembranças pessoais (da minha infância, adolescência, chegada a São Paulo, formação como artista e pedagogo, viagens e aventuras), ponderações sobre Os Satyros, a Praça Roosevelt e, principalmente, a SP Escola de Teatro, fundada exatamente no início desse recorte histórico e que floresceu, sob minha direção, como um dos mais importantes centros de formação do planeta, tendo parcerias com as mais renomadas universidades estrangeiras. Dá um baita orgulho relembrar para onde já enviamos nossos estudantes: para encenar peça num sítio arqueológico paradisíaco no Chipre, para fazer residência artística com Ariane Mnouchkine na Ilha de Fårö, para dirigir peça na Polônia, para estudar na Bolívia, Colômbia, Cabo Verde, Inglaterra, Portugal, Suíça e mais um monte de lugar legal. Só para a Suécia, por exemplo, foram mais de 15 alunos. São oportunidades que mudam a vida de uma pessoa.
Entre o Nada e o Infinito, de Ivam Cabral.
Organização Marcio Aquiles. Giostri Editora, 700 páginas.
Lançamento e tarde de autógrafos em São Paulo no dia 30 de abril, sábado, 17h30 às 20h, na SP Escola de Teatro, Praça Franklin Roosevelt, 210, metrô República ou Higienópolis-Mackenzie.
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. Mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Ganhou o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Governo do Estado de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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