Festival Mucho une latinidade do Brasil com música grátis e online

Por Miguel Arcanjo Prado

O Brasil está cada vez mais latino. Não à toa, chega à sua quarte edição online neste domingo, 6 de dezembro, a partir das 16h, no YouTube, o Festival Mucho. A programaçã traz nomes talentosos como Chico César, Bixiga 70, Ju Strassacapa & Raíssa Fayet, Mundo Livre S/A, Braza, BABY, Obinrin Trio, Luciane Dom, Muntchako e Berra Boi.

A produção é da Difusa Fronteira e da Mundo Giras, duas produtoras paulistanas que desenvolvem a cultura latino-americana em todas as artes, com foco principal na música, e fundadas, respectivamente, pelo brasileiro Felipe Gonzalez e o argentino Hernan Halak, nomes respeitados quando o assunto é criar pontes latinas na música brasileira.

Felipe Gonzalez e Hernan Halak: criadores e curadores do Festival Mucho

Dessa vez o Festival Mucho aposta em nomes brasileiros que possuem a latinidade em sua criatividade musical. “O festival que carrega em seu DNA a miscigenação cultural de nosso continente se propõe nesta edição realizar um mapeamento da cultura latina em território nacional”, explica Gonzalez.

Para Halak, é importante que o Brasil tome consciência de que é um país latino e que “fazemos parte deste imenso caldeirão cultural que é nosso continente”. Ele conta que a edição deste domingo “pela primeira vez traz exclusivamente bandas nacionais”, mas sem perder a raiz do evento que costuma ter repercussão internacional.

“O festival preza por levantar a bandeira da conexão permanente da música brasileira com a dos nossos vizinhos latinos. Por esta razão, convocamos grandes nomes para falar e tocar sobre suas inspirações latinas, aquilo que conecta sua música ao resto do continente”, conclui Halak.

4º Festival Mucho

CHICO CESÁR (PB)
Chico César, nasceu em 26 de janeiro de 1964, no município de Catolé do Rocha, interior da Paraíba. Compositor, cantor, jornalista e escritor, Chico explicita a irreverência, a criatividade e a poética, características de sua obra ao longo de sua trajetória. É hoje uma das figuras mais relevantes da música brasileira e da América Latina. Autor de sucessos consagrados pelo público, como “Mama África” e “À Primeira Vista”, o paraíbano tem nove álbuns lançados. Suas composições foram gravadas por vários intérpretes, entre eles Maria Bethânia, Gal Costa, Vanessa da Mata, Elba Ramalho, Itamar Assumpção, Zeca Baleiro, entre outros.

BIXIGA 70 (SP)
Com seu caldo musical variado, percorrendo gêneros como o jazz, música brasileira, latina e africana, a Bixiga 70 cativa fãs no Brasil, na América Latina e em todo o mundo! A banda instrumental paulistana, do tradicional bairro do Bixiga, levou seu som original, dançante, sem vocais e que se apoia fortemente na percussão e nos metais, para festivais como Glastonbury, North Sea Jazz Festival, Roskilde, Womex, Jazz à Vienne e agora chega às tela do Festival Mucho!

JU STRASSACAPA E RAISSA FAYET (SP /PR)
Ju Strassacapa canta, compõe, produz, toca percussão e conta histórias com sua arte. Transitou por muitas linguagens artísticas até firmar raízes profundas na música. Desde 2013, integra a banda Francisco, el Hombre, com a qual lançou dois discos de estúdio. Raissa Fayet é cantora, compositora, atriz e ativista socioambiental. Indicada ao Women’s Music Event Awards 2019 (categoria Escuta as Mina pelo Spotify) usa mente e corpo como instrumento, Raissa Fayet percebe e declara a arte como agente de cura, conexão e política; faz trompete de boca, beatbox, faz loop e toca violão, além de compor a maior parte das músicas que interpreta. Amigas, conectadas pelo poder transformador da música de cura, Ju e Raissa, apresentam este show inédito para o Mucho com repertório de ambas.

MUNDO LIVRE S/A (PE)
Mundo Livre S/A é uma banda brasileira surgida em 1984 em Recife, Pernambuco. Nasceu no bairro beira-mar de Candeias, mesmo lugar de Recife em que foi redigido o manifesto “Caranguejos com Cérebro”, marco do Movimento Mangue Beat, que prega a universalização e a atualização da música pernambucana. Fred Zero Quatro, vocalista da banda, foi o autor do manifesto, juntamente com Renato L. e Chico Science. O Mundo Livre foi uma das bandas fundadoras do movimento Manguebeat. O novo e mais recente da banda álbum tem um título bem sugestivo: “A dança dos não famosos”. Lançado em 2018 apresenta um som mais agressivo e experimental, mas não abre mão da veia dançante. A temática explora desde existencialismo, mitos religiosos e degradação ética, até tirania corporativa e geografia humana, tudo com abordagem pós-punk.

BRAZA (RJ)
Surgido em 2016, BRAZA possui três álbuns gravados em estúdio, intensa videografia e participações em grandes festivais do país, como Rock in Rio, Lollapalooza, Planeta Atlântida, Do Sol, Tenho Mais Discos Que Amigos e Porão do Rock. O grupo tem seu conceito baseado na dança, na visceralidade, na cultura brasileira, nos ritmos ancestrais e na mensagem de amor, união e reflexão. Uma abordagem contemporânea da antropofagia e do amálgama anteriormente propostos pelo Modernismo, a Tropicália e o Manguebeat. Como resultado, a sonoridade do BRAZA cria uma mistura entre elementos do reggae, do rap, do pop, os beats do funk, riffs de rock e ritmos brasileiros.

BABY (SP/PA)
O duo apresenta um som refrescante que flerta com vários estilos: do pop ao eletrônico, passando pelo brega e até mesmo o rock. Há quem diga que não se deve misturar amor e trabalho, ainda mais sobre o mesmo teto, porém quando falamos de talentos como de Mateo (banda Francisco, El Hombre) e da paraense Luê o que podemos esperar é um projeto de imersão, rotina e claro muito amor. E eles não se importam com o clichê, aliás, BABY nasceu também com o propósito de ser um pouco assim, uma “música de amorzinho, feita por um casal tirando onda”, como se definem.

OBINRIN TRIO (SP)
Obinrin Trio transita entre referências profundas da cultura popular – ritmos tradicionais brasileiros, como: maracatu, coco, baião, jongos e caboclinhos – e o resgate dessa mesma vertente, sempre fluindo esse traço em conjunto com a contemporaneidade. A banda traz essa marca: revisitação de ritmos sagrados e ancestrais poeticamente permeados de questões emergentes e atuais. O trio coloca em pauta acentos sociais vigentes, reflexões ou apenas o ser e o sentir que advindo de mulheres lésbicas assume naturalmente sua narrativa política.

LUCIANE DOM (RJ)
Nascida no interior do Rio de Janeiro, em Paraíba do Sul, Luciane compõe desde adolescente, mas iniciou seu projeto autoral quando se formava em História na UERJ. Multiartista, uma das características que marcam seu trabalho é uma massiva produção musical feita por pessoas pretas. A partir de suas pesquisas sobre Banzo e o negro no pensamento social brasileiro, a historiadora começou a intercambiar o ensino teórico de História à Arte, através da música, lançando seu primeiro álbum Liberte esse Banzo em 2018, em que traduz suas observações sociais e raciais. Após o lançamento do seu álbum, a artista vem fazendo shows pelo Brasil e iniciando sua trajetória internacional cantando nos Estados Unidos (2018 – Onebeat / 2019 – Brasil Summerfest) e Chile (2019 – IMESUR e La Makinita).

MUNTCHAKO (DF)
O grupo faz dos ritmos pontes que nos transportam para ambientes inimagináveis. Caminha pela América Latina caliente, pela África mântrica, pela hipnose moura cigana, pela Jamaica enfumaçada e pelos bueiros suados da Amazônia equatorial. Cada passo dessa caminhada é pontuado pelos algoritmos universais da pista: beats eletrônicos, synths e guitarras misturam-se aos instrumentos e tambores orgânicos. O resultado é uma música instrumental, sem letras mas com muitos sotaques. Sem nomenclatura e principalmente, sem fronteiras. Os sons e as estéticas terceiro-mundistas são traduzidos em seu próprio estilo. Com os pés num Brasil imenso, plural e diverso e com as antenas curiosas que captam as tendências urbanas do mundo, o Muntchako é filho da complexidade sonora e política da América Latina.

Foto RafaelPassos – BerraBoi/2018

BERRA BOI (PB)
Berra Boi é um trio instrumental que busca sonoridades urbanas e nativas da América Latina e África, passeando por beats inspirados em ritmos globais periféricos. O resultado é uma música dançante, que bebe de diversos estilos festivos dos guetos do planeta. Com o primeiro EP Lançado pelo Selo Mexicano Cassette Blog em 2016, o trio vem atuando em palcos de música instrumental, festas e projetos de artes experimentais.

SERVIÇO

Festival MUCHO! 2020 4ª Edição – Online
Data: 06 dezembro, domingo, às 16h
https://www.youtube.com/festivalMUCHO

Mais informações
www.festivalmucho.com
https://www.facebook.com/festivalMUCHO/
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https://twitter.com/festivalMUCHO

Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. Em 2020, passou a ser Coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro e começou o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Bob Sousa.

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