Roberto Birindelli protagoniza filme na Argentina: ‘Belo desafio’

Por Miguel Arcanjo Prado

O ator Roberto Birindelli é o protagonista do filme Agua dos Porcos, que acaba de estrear na Argentina na plataforma de streaming Cine.Ar e tem conquistado elogios da imprensa no país vizinho.

Com roteiro de Oscar Tabernise, o longa dirigido por Roly Santos e produzido por Rubens Gennaro e Virginia Moares, da Laz Audiovisual, em coprodução Brasil-Argentina, tem previsão de estreia no Brasil em 2021, após a pandemia.

Ainda estão no elenco nomes como os argentinos Daniel Valenzuela, Juan Manuel Tellategui e Mausi Martínez e os brasileiros Allana Lopes, Mayana Neiva, Leona Cavalli, Anastácia Custódio e Luiz Guilherme.

O ator uruguaio radicado no Brasil desde os 15 anos conversou com o Blog do Arcanjo sobre o longa, falou sobre sua terra natal, a carreira internacional e ainda revelou como anda sua quarentena, enquanto aguarda a retomada da novela Nos Tempos do Imperador, da Globo, na qual vive o general paraguaio Solano López.

Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Como é neste momento tão complicado estrear um filme na Argentina?
Roberto Birindelli –
Se mostrou a alternativa mais viável. Agua dos Porcos foi lançado online na Argentina dia 30 de julho, nós não temos espectadores ao vivo, mas temos a repercussão nas redes sociais e na imprensa. E acredito que na plataforma Cine.Ar vai atingir um público até maior.

Miguel Arcanjo Prado – Você está radicado no Brasil há quantos anos? Como foi voltar a atuar em castelhano?
Roberto Birindelli –
Eu vim do Uruguai em 1978, primeiro para Porto Alegre, e em 2009 pro Rio. Sempre um choque cultural. Fiz A Quien Llamarías e Dolores na Argentina, e Humanpersons no Panamá e Medellin, em inglês e espanhol, e este ano tive a oportunidade de filmar pela primeira vez em Montevideo. O longa La Teoria de los Vidrios Rotos”, de Diego Fernández. Sem esquecer do Pepe, da série Um contra Todos, da FOX, que falo espanhol com sotaque boliviano. Então, de uma certa maneira, não parei um momento de atuar em espanhol.

O diretor de fotografia Vinni Gennaro e o ator Roberto Birindelli no set de Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – O que foi mais desafiador para você que o levou a aceitar esse papel do investigador Gualtieri de Agua dos Porcos/Águas Selvagens?
Roberto Birindelli –
Sempre busco personagens ambíguos com uma curva dramática interessante. Lucio Gualtieri é um ex-policial investigador argentino, falido, com problemas e culpas em relação a sua ex e sua filha, precisa dinheiro para pagar a pensão, então aceita um trabalho para solucionar um crime cometido na Tríplice Fronteira. A narrativa tem várias camadas, nada é o que parece no início. Cada situação contém um detalhe que o leva para outro lugar onde tem algo escondido. Pesquisei bastante a região e já fiz vários personagens policias. Lucio é um detetive que tem seus problemas pessoais, foi muito humanizado no roteiro. É uma história muito interessante, ele tem problema com a filha, ele tem problema de relacionamento, ele tem problema de dinheiro, ele pegou este emprego para tentar resolver um problema familiar. Ao mesmo tempo vai se ver envolvido numa rede de crimes mais hediondos, em linhas que ele não imaginava ultrapassar, e em relacionamentos que o desestabilizam. Tem muito material aí pra compor, e uma curva dramática bem extensa. Belo desafio.

O ator Roberto Birindelli e a atriz Mayana Neiva em Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Sua atuação tem sido elogiada pela crítica argentina. Tem vontade de trabalhar mais no país vizinho?
Roberto Birindelli –
Sempre! Águas Selvagens é minha quinta ou sexta coprodução, já fiz Brasil /Argentina, França / Canadá, Brasil/Uruguai, Panamá/Medelin e Chicago, o filme Human Persons, agora vou fazer uma Inglaterra – Espanha. Estou sempre metido em alguma coprodução. O cinema argentino e, mais recentemente, o mexicano tem mostrado consistência, investimento do poder público, relevância e crescimento. Claro que temos que levar em consideração uma base enorme de cuidados com o sistema educacional e com a leitura. Daí que vem esses roteiros incríveis.

Miguel Arcanjo Prado – Você tem familiares no Uruguai? Como estão enfrentando a pandemia lá?
Roberto Birindelli –
Não tenho mais familiares lá, tenho muitos amigos. Uruguai tem uma população de 3,5 milhões de habitantes, e 38 óbitos pela Covid-19. Brasil tem 212 milhões de habitantes e passou de 100 mil óbitos, ou seja 46 vezes a mais. Esta disparidade enorme, entendo que tenha causas no tamanho do país, na cultura e consciência cívica, e obviamente na ação do governo para admitir, desindexar da política partidária e praticar gestão pública de saúde.

A atriz Mausi Martínez e o ator Roberto Birindelli em Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Como foi gravar um filme em um elenco multinacional?
Roberto Birindelli –
É sempre uma experiência muito enriquecedora. Atores argentinos como Daniel Valenzuela, Juan Tellategui, Mario Paz e Mausi Martínez. E do elenco brasileiro Luiz Guilherme, Mayana Neiva, Allana Lopes e Leona Cavalli, entre outros. Amigos que vão ficar para sempre. Uma delícia esse mês e meio trabalhando naquele frio de Tijucas do Sul, no Paraná, com uma equipe jovem e com muita disposição.

Miguel Arcanjo Prado – Como foi trabalhar com o diretor argentino Roly Santos?
Roberto Birindelli –
Roly me lembra muito Breno Silveira. Sempre junto dos atores, ajudando, detalhando, participando lado a lado com o elenco. Mesmo após o set, jantávamos e discutíamos as cenas do dia seguinte. Ele escuta muito as propostas e é muito permeável a qualquer ideia nova.

O diretor Roly Santos e os atores Roberto Birindelli e Mayana Neiva no set de Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Qual a expectativa para a estreia do filme no Brasil?
Roberto Birindelli –
Espero que ano que vem, quando chegar o lançamento no Brasil, a gente consiga juntar os amigos no cinema e poder conversar pessoalmente e ver a reação das pessoas.

Miguel Arcanjo Prado – Como tem sido sua quarentena? O que tem feito?
Roberto Birindelli –
Em março, eu estava nos festivais de Porto e Manchester. O plano era retornar a Lisboa e vir pro Brasil só fim do mês. Mas as condições na Europa pioraram muito rápido, e encurtamos a viagem. Foi um sufoco sair. O tumulto no aeroporto de Londres já dava pra entender o caos. Vim direto para a quarentena em casa. Isolamento, recolhimento e pensar na vida. Sem acesso a restaurantes, locais públicos, passeios. Tenho comprado de forma online apenas comida e homeopatia. Mas o que esse isolamento mais mostrou é que o que mais sinto falta é das pessoas. Acho que na volta desse confinamento as pessoas vão valorizar mais umas às outras. Assisto séries e filmes, livros, arrumo a casa, troco tomadas, fiação, lavo e passo roupa – descobri que sou um desastre passando roupa. A grande mudança, pelo que posso perceber agora, é minha relação com o tempo. Isso vai mudar definitivamente pós quarentena. Entendo todas as necessidades, compromissos, expectativas, mas também entendo que meu tempo… é meu. Tenho sentido muito mais falta das pessoas do que de viagens, consumo, e demais coisas periféricas.

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