Lives do projeto Palhaféricos valorizam palhaços negros

O palhaço Benjamin de Oliveira (1870-1954): artista negro foi pioneiro nos palcos e circos – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Por Miguel Arcanjo Prado

O Brasil é país de memória curta e ingrata. Sobretudo em relação a artistas negros. Buscando suprir esta lacuna formativa, o Projeto Palhaféricos promove a partir desta quinta (23) um importante ciclo de debates sobre o protagonismo negro na palhaçaria.

Para isso, convidou três especialistas: a cineasta Mariana Gabriel, o jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado (autor deste blog) e o ator e cantor Mauricio Tizumba.

Os debates gratuitos são sempre às quintas, 20h, nos dias 23 de julho, 30 de julho e 6 de agosto, no Instagram @palhafericos e dos respectivos convidados.

Em sentido horário: Mariana Gabriel, Mauricio Tizumba e Miguel Arcanjo Prado. lives no @palhafericos às quintas, 20h – Fotos: Edson Lopes Jr (Arcanjo), Belisário Tonsich (Tizumba) e Divulgação (Gabriel) – Blog do @miguel.arcanjo

Memória negra em foco

A primeira conversa tem como tema “Memória e história da negritude no Grande Circo Guarani” e é conduzida pela jornalista, cineasta e palhaça Mariana Gabriel no dia 23 de julho, às 20h. Um dos filmes dela é o documentário “Minha avó era palhaço” (2016, Brasil, 52 min.), codirigido com Ana Minehira, no qual Mariana recupera a trajetória da avó Xamego, a primeira palhaça negra do Brasil, que brilhou no picadeiro do tradicional Circo Guarany nos anos de 1940.

O jornalista e crítico teatral Miguel Arcanjo Prado participa do bate-papo “Relembrando Benjamin de Oliveira: onde estão nossas inspirações?” na quinta-feira seguinte, dia 30 de julho, às 20h. Membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), da qual foi vice-presidente, Miguel faz desde 2012 o site Blog do Arcanjo, sempre cobrindo a cena cultural negra.

Já o instrumentista, cantor, compositor e ator Maurício Tizumba comanda a terceira conversa desse ciclo, “O artista negro na rua”, no dia 6 de agosto, às 20h. Com sua trajetória artística estabelecida desde 1973, ele pesquisa a vida e a trajetória do artista, compositor e cantor mineiro Benjamin de Oliveira (1870-1954), o primeiro palhaço negro do Brasil. Tizumba, inclusive, já idealizou uma exposição em homenagem a esse ídolo.

Os artistas da Trupe Palhaféricos – Foto: Divulgação

Ensaios virtuais na quarentena

O projeto Palhaféricos foi contemplado pelo programa VAI – Valorização de Iniciativas Culturais e ainda prevê a realização de um espetáculo teatral, oficinas de palhaçaria e técnicas circenses, exibição do documentário “Minha avó era palhaço” e o lançamento de um canal no Youtube, mostrando o trabalho de jovens artistas periféricos e movimentos negros protagonistas de São Paulo.

Essas atividades ainda não têm data definida, pois muitas delas dependem do encontro presencial. Durante a quarentena do Covid-19, a trupe tem ensaiado por meio de videoconferências e promovido encontros virtuais com os convidados dos bate-papos e outros artistas para continuidade da pesquisa.

Palhaço Xamego: XAMEGO
Palhaço Xamego (Maria Eliza Alves dos Reis): a primeira palhaça negra brasileira – Foto: Divulgação

Processo coletivo

Criado em um processo colaborativo, o espetáculo Palhaféricos, com direção de Sérgio Marques e Hugo Carvalho, é um cortejo cênico que provoca uma imersão na linguagem das brincadeiras e manifestações populares do Teatro de Rua e do Circo-Teatro, resgatando a trajetória de Benjamin de Oliveira e Maria Eliza Alves dos Reis (Xamego) os primeiros palhaços negros brasileiros, e também de outras figuras negras importantes para a comédia nacional.

“Durante o processo, nos perguntamos sobre quem eram os nomes da comédia negra que nos inspiravam e logo surgiram o Jorge Lafond [mais conhecido pelo personagem Vera Verão] e o Mussum. Assim, podemos dizer que eles também permeiam nosso trabalho”, afirma Sérgio Marques, diretor e preparador do elenco de Palhaféricos.

Novas referências

Novas questões de identidade surgem quando o público é apresentado a referências não-europeias e não-brancas, que ainda dominam o escopo educativo nacional. “A ideia é que os personagens embarquem em uma jornada em busca de algo que falta em sua identidade. Nesse sentido, outras referências importantes são O Mágico de Oz e Saltimbancos. Dessa forma, também conseguimos discutir questões sobre negritude e colorismo”, declara Marques.

O elenco é composto por Jamile Nunes, Matheus França (que também integrou o elenco do bem-sucedido musical “Bertoleza”, da Gargarejo Cia. Teatral), Humberto Vicente, Letícia Tancredo e Willian Santana. O cenógrafo e figurinista é o Rodrigo Alcântara.

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