Coronavírus vai acelerar digitalização e inteligência artificial no mundo, diz especialista

O autor e crítico cultural espanhol Jorge Carrión afirmou, em artigo no jornal norte-americano The New York Times, que a pandemia do coronavírus vai acelerar o processo de digitalização do mundo. Ou seja, estamos cada vez mais perto daquelas situações mostradas como ficção na série inglesa Black Mirror da Netflix. O Blog do Arcanjo apresenta a seguir as principais ideias defendidas pelo estudioso.

Segundo o especialista, o confinamento nos tornou ainda mais dependente dos serviços digitais e redes sociais, como Google, Netflix, YouTube, Instagram, Whatsapp e Telegram. “A paradoxa é evidente: a biologia — e não a tecnologia — está acelerando a digitalização do mundo”, diz ele, lembrando que o responsável por isso é “um vírus que afeta os corpos e que se transmite cara a cara ou pela superfície dos objetos”.

Em sua visão, é o vírus, um ser biológico e não tecnológico, quem “está multiplicando exponencialmente nossa dependência dos dispositivos”. “Um fenômeno biológico nos está afundando na virtualidade”, postula.

Carrión afirma que, se até ano passado a revolução tecnológica previa 30 ou 40 anos para ser implantada no mundo, “é muito provável que depois da pandemia esse prazo se reduza drasticamente”.

Ele lembra que, nas revoluções científicas, o filósofo da ciência Thomas S. Kuhn afirmou que “as crises são pré-requisitos das revoluções”. “Nunca antes na história da humanidade havia ocorrido uma pandemia de contágio tão vertiginoso. É provável que o acúmulo exponencial de conhecimento complexo durante esses meses nos campos da biotecnologia, a informática, a robótica, a estatística, a engenharia de sistemas ou de dados faça completar em tempo recorde a revolução tecnológica que já estamos vivendo”, diz.

Carrión diz ainda que “quando as emergências sanitárias, funerárias e psicológicas terminem, em plena crise econômica, deveremos avaliar como modificamos nossa relação com o mundo físico e com o virtual”. E segue: “E recordar que também um vírus informático poderia paralisar a realidade. Porque em um futuro mais ou menos próximo a inteligência artificial sofrerá suas próprias epidemias”.

Para ele, o empurrão para isso é dado pelo Covid-19, “talvez porque, ainda que sua natureza seja biológica, é metaforicamente o primeiro vírus ciborgue, que se propaga com a mesma facilidade pelos corpos e pelas telas, revolucionando as dimensões do que constituem nossas fragilidades”. Só na Espanha, um dos países mais afetados pela pandemia do coronavírus, o tráfego na internet aumentou 80%, o que está levando a chegada de capital às plataformas tecnológicas.

“Quem está mais capacitado para gestionar a pandemia, a OMS e a ONU, os governos nacionais ou um macrossistema algorítimico?”, provoca o intelectual. Ele mesmo responde, concluindo seu artigo: “Suponho que a resposta é, neste momento, nem um nem outro: um diálogo entre a política, os especialistas e os supercomputadores. Mas, está claro que estamos acelerando em direção ao que os teóricos da inteligência artificial chamaram de êxtase computacional: esse momento em que a inteligência algorítmica transcenderá a humanidade”.

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