Claudia Manzo traz fôlego novo à música ao criar ponte entre Brasil e Chile

A cantora chilena Claudia Manzo, radicada em BH e que faz show na SIM São Paulo nesta quinta (5): artista traz fôlego novo à música ao tornar-se elo sonoro entre Brasil e Chile – Foto: Beth Freitas/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Vivendo atualmente em Belo Horizonte, a cantora chilena Claudia Manzo é uma verdadeira força da natureza que faz os brasileiros se reconectarem com o elo de nossa latinidade essencial, mas muitas vezes adormecida, tornando-se ponte musical contemporânea fundamental entre Chile e Brasil. Prova disso tudo é sua participação definitiva na faixa “Cerca de la Paz”, no disco de estreia do mineiro Raphael Sales, eleita melhor feat de 2018 aqui no blog. Nesta semana, os paulistanos têm o privilégio de conhecer de perto o trabalho da artista. Ela participa pela primeira vez da SIM São Paulo, com o show Migrante, marcado para esta quinta (5), às 18h, na Noite Chile no Family Mob (rua Sales Júnior, 296, Alto da Lapa, São Paulo; R$ 15), ao lado de outros músicos de sua terra natal. Nesta delicada entrevista exclusiva com a artista, Claudia fala ao Blog do Miguel Arcanjo direto da capital mineira. Versa sobre seu canto, sua vinda para o Brasil, suas inspirações e referências e ainda dá sua opinião sobre a recente ebulição política latina, tanto na Bolívia quanto em seu Chile. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado — Eu lhe conheci no disco do Raphael Sales, cantando Cerca de la Paz de uma forma irretocável. Como surgiu essa parceria? Qual relação você criou com essa canção?
Claudia Manzo — Obrigada pelo elogio, eu sempre penso que eu deveria ter feito essa música [risos], de um jeito muito generoso Raphael me convidou fazer os arranjos e cantar essa música no disco début dele, a gente já se conhecia, amizade, mas não tínhamos feito muita coisa juntos. Sempre penso que só um artista que canta demais e compõe assim de lindo deve ser muito generoso para me presentear como Rapha fez. Nessa faixa eu canto, toco cuatro venezuelano, cajon, faço palmas, o Rapha me deixou criar, sinto ela muito minha, e a letra me fascina, é lindo como ele com Larissa [Alberti] retratam uma viagem pras montanhas, a importância que as culturas andinas dão pra mãe Terra, muito especial. Eu já incluí essa música no meu repertório e estou muito feliz com o retorno, até de ter sido destacada no seu Blog do Arcanjo como melhor feat de 2018. Uma honra tudo isso.

Miguel Arcanjo Prado — Diante dos últimos acontecimentos em La Paz, na Bolívia, essa música parece ter ganhado novos sentidos. Você concorda?
Claudia Manzo — Cerca de la paz, perto da paz. La Paz como cidade e la paz como algo que estamos precisando muito na America Latina, a musica ganhou mais força em mim, com certeza; sobretudo pensando no importante que é se reconectar com o fundamental, a natureza, nossa existência, nosso reconhecimento como latinos e como seres da Terra.
Miguel Arcanjo Prado — Já que falamos de política latino-americana, como você enxerga a ebulição recente no Chile?
Claudia Manzo — Um festival de emoções todos os dias me percorre, tem notícias lindas sobre o que implica uma revolução, a união das pessoas, o refinamento do pensamento crítico, a generosidade e solidariedade, também acho lindo se reconhecer em sociedade, porém tem sido um momento muito difícil para chilenas e chilenos porque influencia uma grande mudança na rotina, todos os dias uma surpresa, todos os dias um sorriso e choro, meu povo está cansado, mas não desiste. Eu apoio totalmente a luta e condeno fortemente a repressão do Estado, as violações aos direitos humanos, estupros, mortes, tortura, montagens por parte da polícia,  uma tristeza que os grandes coloquem o povo a brigar com o povo. Chile resiste e com certeza está se fortalecendo.
Miguel Arcanjo Prado —Há quanto tempo você está no Brasil? 
Claudia Manzo — Estou no Brasil há 8 anos, eu vim pro Brasil pro Rio de Janeiro de férias, devo dizer que tem sido nada de férias, e tem muita história pra contar por aqui, mas te aguardo com cafe e pão de queijo na cidade que me acolhe com tanto amor, Belo Horizonte pra te contar os segredos.

Claudia Manzo apresenta seu show Migrante na SIM São Paulo nesta quinta (5), às 18h – Foto: Beth Freitas/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Miguel Arcanjo Prado — Soube que este ano você estará na SIM São Paulo. O que fará? Quando? É sua estreia no evento?
Claudia Manzo — Sim, estou super feliz, minha primeira vez na SIM São Paulo, uma tremenda alegria, estarei nesta quinta, dia 5, na Noite Mustach, ou Noite Chilena #ChileRebelde, fui convidada a tocar na mesma noite com bandas do Chile que vem apresentar. Uma honra poder fazer uma conexão com Chile e Brasil, minha banda é de brasileiros, mineiros, desta vez estou acompanhada da maravilhosa Luiza Brina, da Graveola, também os queridos PC Guimarães, músico que acompanha Octavio Cardozzo, e Pablo Campos, baterista de Nobat, todos artistas de Minas Gerais, eu admiro demais. A estreia é  día 5 de dezembro no Family Mob Estúdio às 18h [Rua Sales Júnior, 296 – Alto da Lapa, São Paulo; R$ 15], me apresento do lado das bandas chilenas: Yorka, Reptilian Beats, Fakinmono e Chakranegra.

Miguel Arcanjo Prado — No passado foi mais comum o trânsito da música dos outros países latino-americanos aqui no Brasil. Precisamos retomar essa ponte por aqui?
Claudia Manzo — Precisamos, é uma urgência, a música, os músicos temos uma responsabilidade social importante, é um momento forte para América Latina e precisamos nos reconhecer como latinos, entender que tudo está costurado e que somos muito mais parecidos do que sentimos, sentimos as mesmas dores e alegrias, também enriquece nossa musicalidade entender nosso continente, potência nossa gostosura, tem artistas incríveis em Latinoamérica que não chegam no Brasil ou que não saem do Brasil, temos que ampliar nossa rede de atuação e no final só vai enriquecer nosso pensamento, nossa troca, nossa conexão, nossa cultura. A língua não é a dificuldade, queria falar disso, olha só quanta música em inglês chega nos nossos países, tem outras questões  que claramente nos separam e não direi que é um movimento democrático, mas esse papo é maior e precisa de café, pão de queijo, empanadas, vino chileno, tapioca, dulce de leche, etc.Miguel Arcanjo Prado — Quem são seus referenciais na música chilena? E na brasileira?
Claudia Manzo — Uau, essa pergunta é difícil sempre porque gosto de tanta coisa, mas vamos lá: do Chile sempre será a maior inspiração Violeta Parra, logo Victor Jara, Intiillimani, Quilapayun, Elizabeth Morris é minha compositora favorita, mas tem tambem Congreso, atualmente tem umas bandas muito legais, Juana Fé,  Juanito Ayala, Camila Vaccaro, La Moral Distraída, Yorka me inspira em tantos lugares e Mon Laferte é claro. E o Brasil, bom, Juçara Marçal rainha maior, Elza, Russo Passapusso, Kiko Dinucci, Francisco el Hombre, Renata Rosa, Moacir Santos, Dolores Duran,Maria Bethania,Gonzaguinha,e tantos outros, bom também muita gente de Belo Horizonte, Irene Bertachini, Marcelo Veronez, Raphael Sales, Bia Nogueira, Tizumba, Sergio Pererê, o querido Thiago Delegado, nossa muita gente.
Miguel Arcanjo Prado — Quais cantoras fazem a sua cabeça?

Claudia Manzo — Bethânia, ela me ganha na interpretação, que controle da palavra que ela tem, nossa é demais, bala certa cada melodia, rá! Bethânia me mata. Renata Rosa, com essa pesquisa do cantar no nordeste brasileiro, Juçara Marçal tem isso também, a interpretação. Além de vozes maravilhosas sinto que me cativa mais a interpretação. Quando era mais nova gostava muito de cantoras gringas, gringas mesmo, de Estados Unidos, tipo Mariah Carey, Whitney Houston,  Aretha Franklin, Ella Fitzgerald, pela complexidade da execução. Claro, eu queria ser cantora profissional, mas com o passo do tempo me seduz muito a interpretação, tem una mineira que me inspira, Mariana Cavanellas, de Rosa Neon, é um furacão, me lembra eu nais nova, ousada, sem medo, isso eu amo. Agora, de América Latina gosto de Luciana Pulido, Lila downs, Mon Laferte, todas vozes muito potentes, acho que me identifico, gosto de soltar o grito.

Miguel Arcanjo Prado —Qual seu balanço de 2019? E os planos e sonhos pra 2020?
Claudia Manzo — 2019 foi um ano de muitos desafios, porém consegui fazer um show lindo que apresentarei na SIM, senti que reinventei meu trabalho, me reinventei  e nasceu Migrante, show com músicas potentes, arranjos novos, formação nova, tive ótimos retornos, foi um ano interessante para o crescimento do meu trabalho e com certeza traz novos frutos. 2020 vem bonito, fiz gravações para discos lindos que vão ser lançados no primeiro semestre, quero fazer uma turnê pelo Brasil, produzir muita música e visitar algum ou alguns outros países com este novo show, Miguel eu quero tudo, mas sou grata com o que vier. Sinto que também será um ano interessante com a Orquesta Atípica de Lhamas, começando com um tremendo, lindo desfile de Carnaval em Belo Horizonte, e projeto de circulação também pelo Brasilzão.

Miguel Arcanjo Prado — Claudia Manzo, por que você canta?
Claudia Manzo — Acho que hoje, especificamente hoje, é  como dizia Victor Jara “Eu não canto por cantar, nem por ter boa voz, canto porque o violão tem sentido e razão “. Sinto uma necessidade de dizer, além de tudo o bom que faz cantar para meu corpo, para nossos corpos, tenho resignificado  meu canto desde sempre, diz que nasci cantando, 4 anos já estava na roda com os tios, abrindo vozes e curiosa pela voz, sempre foi uma brincadeira, um lugar de prazer, de encontro de felicidade. Mas, já virou uma declaração de amor, um lugar para soltar o pranto, um lugar para paquerar, um lugar para causar, um lugar para ser outras, um lugar para ser eu. O canto já foi por mim e pelos outros, acho que é minha missão cantar e dar voz, pode ser um papo muito batido, mas a gente acha o sentido, e hoje, especificamente não canto por ter boa voz, até porque, lembrando outra vez de Victor Jara, “o canto tem sentido quando palpita nas veias”. É isso, por isso eu canto.Siga @claudia_manzo_cantora

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