Solo de Silvio Eduardo no Satyros, Gaveta D’Água questiona crime homofóbico

O ator Silvio Eduardo em cena da peça “Gaveta D’Água” que estreia nesta quinta (25), às 21h, no Satyros em SP – Foto: Laysa Alencar – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Ator santista radicado em São Paulo, Silvio Eduardo estreia nesta quinta (24) seu primeiro solo. “Gaveta D’Água”, texto inédito de Nina Nóbile — que também faz estreia solo como dramaturga — que paira sobre um crime causado pela intolerância, tem direção de Gustavo Ferreira e realizado a Cia. de Teatro Os Satyros.

Com primeira temporada prevista para toda quinta, às 21h, no Espaço dos Satyros Um da praça Roosevelt, no centro paulistano, a peça acontece como um flashback, ou “glimpse do futuro”, como define sua autora, ao retratar a história de um jovem homossexual.

As gavetas do título são os estereótipos sociais geradores de preconceitos e, até mesmo, violência contra o outro que é diferente de mim, representadas por seis pessoas de bem que atormentam o personagem a todo instante, querendo enquadrá-lo na norma vigente, enquanto que o protagonista sonha em ser sereia.

O ator Silvio Eduardo e o diretor Gustavo Ferreira conversaram com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre a estreia do solo. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado — Como é estar sozinho no palco?
Silvio Eduardo — É meu primeiro solo, mas não penso tanto nestas diferenciações. Um espetáculo é um espetáculo, com as mesmas responsabilidades quanto ao público e à mensagem. Mas não deixa de ser incrível a sensação de responsabilidade permanente, onde não há saída de cena, tempo de respiro… É uma troca constante com o público. Apesar de o espetáculo ser um drama, cheio de poética e intensos questionamentos, é uma delícia estar no palco representando esta peça, prazeroso, no sentido mais amplo da palavra.

Com Silvio Eduardo, “Gaveta D’Água” faz temporada às quintas, 21h, no Satyros – Foto: Laysa Alencar – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Miguel Arcanjo Prado — O que te motiva a encenar essa peça? Qual mensagem quer passar ao público?
Silvio Eduardo — A peça retrata um crime de homofobia e, por meio de de flashbacks, surgem lembranças de histórias que diariamente tentaram afogar a personagem. Atualmente, nós vivemos uma ode ao ódio em relação às ‘minorias’ e uma grande falta de entendimento do que realmente significa o termo ‘minoria’. Diariamente, pessoas são mortas simplesmente pelo fato de ser quem elas são. Diariamente, pessoas se matam simplesmente pelo fato de ser quem elas são e não serem aceitas. Pessoas não conseguem empregos por serem quem são. Pessoas sofrem em empregos, escolas, academias, clubes, ruas pelo simples fato de serem quem são. É preciso que nós, artistas, consigamos passar uma mensagem ao público para a seguinte reflexão: Em que ponto estamos errando como sociedade? Em que ponto estamos errando quanto à consciência da existência do outro? Por que tantos corpos são marginalizados simplesmente por suas diferenças? Eu piso neste palco e faço este espetáculo para tentar trazer esta reflexão, para que todos nós possamos encontrar o caminho de entendimento de que cada um tem o direito de ser o que se é e de ser feliz como se é.

Miguel Arcanjo Prado — Quais foram suas referências na composição deste personagem?
Silvio Eduardo — No início do processo, fizemos um trabalho de estudo corporal e pesquisa do teatro físico. Foram feitos muitos exercícios para fortalecimento e consciência corporal. Após isso, fizemos os vídeos, presentes no espetáculo. Esta parte foi extremamente importante para a construção estética e das especificidades da personagem. Então, iniciamos um processo de trabalho do lúdico na imagem e contextualização. Passado isso, entendemos que a personagem deveria trabalhar o contraste da estética. Enquanto a cenografia, luz e videografia trabalhavam o lúdico, a fala e as ações trabalham o real, o palpável. A ideia principal era não trazermos estereótipos. A personagem deveria mostrar força e, ao mesmo tempo, ser um turbilhão de emoções.

Poesia frente à intolerância: “Gaveta D’Água” lança olhar poético para um crime homofóbico – Foto: Laysa Alencar – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Miguel Arcanjo Prado – Como foi o processo de direção e quais são as apostas em termos de encenação?
Gustavo Ferreira — Foi uma experiência coletiva, de entrega é muito trabalho. Pesquisamos e estudamos muito antes de partir pra encenação. Não somente eu e o Silvio, mas toda a equipe. Foram esses momentos que nos permitiram encarar o texto da Nina. Silvio é um baita ator, dono de uma voz única e conseguiu construir uma partitura corporal bela. O texto da Nina é pulsante. A união de tudo isso somada com a equipe resultou no trabalho que estrearemos nesta quinta. Estamos ansiosos. Trabalhamos com alegorias, imagens que se formam, como um turbilhão. Não para nunca. Tentamos trazer um apuro estético quase de terror, ou terror psicológico, privilegiando o trabalho de ator.

Miguel Arcanjo Prado — Essa é sua direção qual número, Gustavo?
Gustavo Ferreira — Não sei ao certo… Já dirigi muita oficina no Satyros que acabaram entrando em cartaz… Tantos outros trabalhos na Satyrianas. Tenho experimentado bastante… Agora, um trabalho como esse, com uma turma enorme, assinando solo, com tanta coisa bacana, talvez seja o primeiro.

Miguel Arcanjo Prado — Você se vê cada vez mais neste lugar de direção atualmente, além de produzir e atuar?
Gustavo Ferreira — Confesso que estou começando a me ver como diretor, tateando ainda. Gosto de estudar e pesquisar referências. Aprendi e aprendo muito com os diretores mais experientes, quero me aprofundar mais. Me vejo, sim, fazendo os três, produzir, atuar e dirigir, sempre com respeito ao ofício.

3 x um solo: “Gaveta D’Água” é primeiro solo de Silvio Eduardo, primeira peça solo montada de Nina Nóbile e primeira direção solo de Gustavo Ferreira – Foto: Laysa Alencar – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

“Gaveta D’Água”
Texto: Nina Nóbile
Direção: Gustavo Ferreira
Atuação: Silvio Eduardo
Assistência de Direção: Alessandra Nassi
Direção de Arte (Cenário, Figurino e Iluminação): Cinthia Cardoso, Diego Ribeiro e Elisa Barboza
Trilha Sonora Original: Marcelo Nassi
Cenotécnica: Carlos Orelha
Voz em Off: Diego Ribeiro, Elisa Barboza e Soraia Costa
Participação em Vídeo: Adam Mhanna, Camila Thiré e Heyde Sayama
Fotografia, Vídeos e Operação de Som: Laysa Alencar
Operação de Luz: Dennys Leite
Operação de Projeção: Rodrigo Barros
Arte Gráfica: Henrique Mello
Assessoria de Imprensa: Diego Ribeiro e Robson Catalunha
Assistente de Produção: Maiara Cicutt
Produção Geral: Gustavo Ferreira e Silvio Eduardo
Realização: Os Satyros – Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez

Serviço
Onde: Espaço dos Satyros Um – Praça Franklin Roosevelt, 214 – Consolação – São Paulo/Sp
Quando: Quintas-feiras, às 21h – até 26 de Setembro de 2019
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Quanto: R$ 30,00 (inteira) / R$ 15,00 (meia-entrada) /
R$ 5,00 (moradores da Praça Roosevelt)
Reservas: 11 3258 6345 / 3255 0994
www.satyros.com.br

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